O tango maldito de Piazzolla (II)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de outubro de 1975
Como todos os grandes talentos Astor Piazzolla (hoje, 21 horas, última apresentação no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto), é uma pessoa simples e espontânea. Ao longo de um jantar oferecido pelo empresário Osmar Sokoloski, na Mouraria, segunda-feira à noite, o grande renovador do tango, falou sinceramente a um grupo de jornalistas, com humildade, ele que, com razão é considerado um dos nomes mais importantes da música continental. Ironicamente, Milton Eric Nepomuceno, grande amigo de Piazzolla, iniciava há 3 anos (3/5/72, "Jornal da Tarde") uma longa entrevista com Astor, em que afirmava: "Já não há mães na Argentina: estão todas mortas nas letras dos tangos. Como também desapareceram as mulheres fiéis: foram se esconder nas letras de tango". Assim, no raciocínio de Piazzolla, "se você reparar bem, verá que certas mulheres fugiram diversas vezes com homens diferentes em tangos diferentes: mesmo que não seja dito seu nome na letra, as características são absolutamente iguais". Para Piazzolla, Buenos Aires não é mais a cidade desesperada e trágica, de 20 anos atrás. "Minha cidade é apenas melancólica. E seu povo é melancólico".
Para ouvir e entender o tango - em especial de Piazzolla - é necessário entende-lo como a música portenha, a música de uma cidade. A extraordinária formação musical de Piazzolla, lhe permitiu criar um novo estilo de interpretação de um gênero tremendamente denso e dramático - modernizando-o, mas sem deixar suas origens. Piazzolla já gravou mais de 50 discos - na Argentina, na Itália, nos Estados Unidos e no Brasil. Piazzolla viaja muito mas vive em Buenos Aires.
- "Uma cidade que hoje é como Nova Iorque, Paris ou São Paulo. Só que muito mais melancólica. Mesmo com seu "swing" Buenos Aires não conseguiu perder sua melancolia. Mas não confunda isso com tragédia. É diferente. Muito diferente".
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