Depois do Carnaval (...e no entanto é preciso cantar)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de março de 1973
A marcha-rancho de Vinícius de Moraes e Carlinhos Lyra sábado e domingo no Teatro do Paiol), poderia ser transcrita e substituiria qualquer outro texto:
Acabou nosso Carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E, nos corações, saudades e cinzas
Foi o que restou.
Depois do Carnaval é hora de pensar nas coisas que se passaram nessa festa que, apesar da insistência de muitos coveiros, não desaparece, nem morreu: apenas mudou, como mudam todas as coisas. Pessoalmente, nos sentimos à vontade para dar o depoimento sobre o Carnaval, pois integramos a equipe que há dois anos trabalha para desenvolver a alegria do povo, pois "mais que nunca é preciso cantar. É preciso cantar e alegrar a cidade". Quatro noites e três dias de samba, suor e cerveja - nos clubes e nas ruas, que este ano tiveram mais gente do que nunca, com o povo correndo atrás do Trio Elétrico, uma novidade que parece ter agradado muito os curitibanos. As sete escolas de samba da cidade - pequenas, mas esforçadas - que apesar da chuva de sábado e domingo desfilaram e deram o melhor de seus esforços, para, no final - sem ódios e rancores, numa feliz, sadia e exemplar demonstração de espírito esportivo - se darem às mãos, ao serem revelados, na sexta-feira, os resultados. A opinião do público e do júri - formado por cinco entendidos em música - cantora Carmen Costa, compositor Ismael Silva, Ricardo Cravo Albim (ex-diretor do Museu da Imagem e do Som) e jornalistas Milton Eric Nepomuceno ("Jornal da Tarde") e Antônio Chrisostomo (Rádio Jornal do Brasil coincidiram: o Dom Pedro II, com seu tema "Carnavais do Passado" mereceu o primeiro lugar, somando 46 pontos, enquanto o Não Agite - que em 1972 ficou em quinto lugar - subiu para o segundo posto. O Embaixadores da Alegria, que há 25 anos persegue em vão o primeiro lugar, talvez tenha saído pela última vez: José Cadilhe de Oliveira, seu fundador, afastou-se da Escola em 1971 e agora, um de seus herdeiros, o jovem José Maria Zanelatto, também mostra-se pessimista com o futuro da agremiação. Outro sambista veterano, Ismael Cordeiro - há mais de 30 anos no Colorado, em 1974 vai passar o comando da Escola a seu filho, para cuidar exclusivamente do Partido Alto Colorado, grupo que se profissionaliza cada vez mais. Campeão em 1972, o Colorado não pode repetir este ano o feito, embora, como sempre, sua bateria tenha sido o ponto alto.
No calor da batucada, na alegria dos sambistas - irmanados no mesmo entusiasmo - o sonho que não é só da canção, mas de todos que sabem amar as coisas do povo:
A tristeza que a gente tem
qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança, contente da vida
Feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver para ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas e o povo cantando
Seu canto de paz.
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