Login do usuário

Aramis

Os sambas-de-enredo que poucos sabem cantar em nosso Carnaval

Com humor, criatividade e amor que tem pela cidade, Hélio Leites, 40 anos, há quase dois meses já comunicava ao Sr. Nelson Santos, presidente da comissão executiva do Carnaval de Curitiba, que, pela segunda vez, a mais alternativa das agremiações momescas de Curitiba - a Ex-cola de Samba "Unidos do Botão" (com "ex" mesmo) sairia uma semana antes do Carnaval para um minimalista desfile pela Boca Maldita, apresentando seu samba-de-enredo e os sete mini-carros confeccionados por seus 21 integrantes. Assim como em outras criações - a Associação Internacional de Colecionadores de Botões, o Fiu Fiu E. C.; a Igreja da Salvação pela Graça - Deus é Umor e a recém fundada edições Paibã Autas Produções, a Ex-Cola de Samba Unidos do Botão nasceu do entusiasmo que Hélio e seus amigos têm em tornar mais alegre e humana esta cidade. xxx Minimalista em todos os sentidos, naturalmente independente em sua estrutura, a "Unidos do Botão" tem, entretanto, uma característica. Não só foi a única entidade carnavalesca da cidade a lembrar-se do maior evento eco-promocional do ano, como, há mais de dois meses, um de seus dirigentes, o compositor Careqa (Carlos de Sousa), (*) já havia desenvolvido em parceria com o próprio Hélio Leites, um belo samba-de-enredo. Curiosamente, muitas das escolas-de-samba do primeiro e segundo grupo, que recebem subvenções oficiais e possuem estruturas definidas, até esta semana, ainda não haviam sequer comunicado à comissão executiva seus sambas-de-enredo. E, de todas, apenas a Embaixadores da Alegria e a Mocidade Azul, campeã do ano passado, providenciaram modestas gravações em cassete para tentar divulgá-los nas rádios da cidade. O que, aliás, praticamente não conseguiram, pois as emissoras de Curitiba insistem em ignorar totalmente o Carnaval: não programam músicas carnavalescas - nem mesmo as consagradas - e raras vezes (**) prestigiaram alguma composição e autor(es) local(is) em seus horários. Ao contrário do que ocorre em outras capitais - especialmente Rio e São Paulo (falar em Salvador é até covardia), na qual não só os sambas-de-enredo, mas mesmo a grande música carnavalesca do passado, merecem ampla divulgação, em Curitiba os programadores - naturalmente cumprindo orientação dos proprietários das AMs e FMs (com exceção da rádio Exclusiva-FM, 95.1 Mhz, programando diariamente, inclusive músicas do carnaval paranaense) ignoram totalmente que em fevereiro (ou março) tem Carnaval, que há uma riqueza imensa musical em quase um século de marchas, sambas e marchas-ranchos compostas para esta festa. Mesmo com a decadência do gênero, existem milhares de registros que poderiam motivar programas especiais, marcar intervalos, serem utilizados mesmo em vinhetas etc. Nem mesmo uma emissora oficial, mantida com recursos público, como a Estadual, entende o significado de cultura popular desta festa e também não se preocupa em produzir programas especiais - quando não faltariam motivações: os grandes autores e intérpretes, as temáticas, as mudanças na música carnavalesca etc. Discos para tanto não faltariam. Por exemplo, e "graças a uma etiqueta com sede em Curitiba, e Revivendo Músicas, que o idealista Leon Barg fundou há três anos, que se produziu a única grande coleção histórica - "Carnaval - Sua História, Sua Glória", que em seus seis primeiros volumes reuniu 126 faixas com clássicos de diferentes épocas, em registros originais nas vozes dos cantores(as) e grupos vocais que os lançaram nas décadas de 20 e 60 - e que, na pureza do CD, com remixagem dos registros originais (num trabalho do especialista Ayrton Pisco) se constitui no trabalho mais competente já feito para que os mais velhos relembrem uma época dourada e, os mais jovens que não estejam totalmente imbecilizados pelo som colonialista imposto pelas multinacionais, possam deliciar-se com momentos mágicos como "Linda Morena" (Mário Reis/Lamartine Babo), "Teu Cabelo Não Nega!" (Lamartine Babo), "O Orvalho Vem Caindo" (Noel Rosa), "Pierrô Apaixonado" (Heitor dos Prazeres-Ataulfo Alves), entre milhares de músicas que, a cada ano, disputavam a preferência dos foliões e das quais, as melhores permaneciam como grandes momentos da história de nossa MPB. Notas: (*) Carlos Careqa (Carlos de Sousa), autor e compositor, atualmente residindo em São Paulo, está terminando seu primeiro LP, com produção de Arrigo Barnabé. (**) Entre os raros programas que tem divulgado as músicas dos compositores carnavalescos está o do múltiplo Glauco Souza Lobo, ex-dirigente da Embaixadores da Alegria, ex-diretor da Fundação Cultural de Curitiba, atualmente apresentando uma audição movimentada, a partir da meia-noite na Rádio Eldorado-AM.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
29/02/1992

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br