Login do usuário

Aramis

Homenagem à estrela Dalva e a descoberta de Marilu

Será, no mínimo, uma reunião de pessoas que amam a nossa melhor musica popular. Amanhã, ao entardecer, na sala Antonio Mililo da Secretaria da Cultura, o lançamento oficial de "Estrela.. Saudade", álbum duplo com Dalva de Oliveira (Vicentina de Paula Oliveira, Rio Claro, SP-5/5/1917-RJ, 31/8/1972) interpretando 30 belíssimas marcha-rancho, marcará a 50ª produção do selo Revivendo, que há dois anos vem proporcionando o reaparecimento de jóias de nosso cancioneiro. O produtor Leon Barg não poderia ter escolhido melhor para marcar a sua 50ª realização: uma das mais belas vozes da MPB, a Estrela Dalva deixou gravadas magníficas marcha-ranchos, em 78 rpm e lps, agora reunidas neste álbum que, com toda razão, começa a merecer uma ampla cobertura nacional. Rubens de Toledo Piza, que foi grande amigo da cantora e assina o texto de contracapa do álbum, estará presente. Ayrton Pisco, único especialista no Brasil em reconstituições fonográficas - e a cujo paciente trabalho se deve a qualidade das gravações restauradas pela Revivendo - também foi convidado, assim como o pesquisador Abel Cardoso Jr., de Sorocaba, SP, que habitualmente faz os textos das contracapas dos álbuns de Leon. Entretanto, a presença mais conhecida - e naturalmente, com maior emoção - será a de Peri (de Oliveira Martins) Ribeiro, 52 anos, um dos dois filhos (o outro é Ubiratã) que Dalva teve com o compositor Herivelto Martins. Tão logo soube da homenagem que seria prestada a sua mãe, Peri aceitou o convite e deixando de lado outros compromissos amanhã aqui estará, nesta promoção organizada por Valêncio Xavier, diretor do Museu da Imagem e do Som. xxx Ao mesmo tempo que lançou "Estrela... Saudade", Leon Barg trouxe neste mês dois importantes álbuns "A Você", no qual reuniu Nelson Gonçalves e a cantora Marilu e "Sambas da Saudade", com fonogramas originais de Cyro Monteiro (1913-1973) e Linda Batista (1919-1988), registrados entre 1941/45 na RCA Victor. Se Nelson Gonçalves, 70 anos completados em 6 de junho de 1989, continua a ser um dos grandes cantores da velha guarda, ainda em atividade e gravando (sempre de primeira, sem necessidade de se demorar em estúdios) de um a dois elepês por ano pela mesma RCA (hoje BMG/Ariola), onde iniciou sua carreira em outubro/41, de Marilu, que com ele divide este disco, poucos conhecem. Dentro de sua preocupação de não apenas promover reedições de nomes famosos mas também dos cantores(as) que só ficaram no 78 rpm, Leon procurou em seus arquivos sete registros que Marilu (?), como Noel Rosa, carioca da Vila Isabel, onde nasceu em 8/10/1918, gravou em sua curta carreira. Conta o pesquisador Abel Cardoso Jr., que Marilu estreou cantando melodias portuguesas na Rádio Educadora do Abril e atuou em muitas emissoras (Tupi, Mayrink Veiga e Nacional). Excursionou a vários estados e na Argentina fez sucesso nas rádios El Mundo e Splendid, quando Enrique Cadicamo compôs em sua homenagem "Muito Bem". "Em 1948 retorna ao Brasil e parece, logo retornaria a caminho de Buenos Aires" diz Abel, sem precisar sua biografia posterior. Na RCA, entre setembro de 1940 a fevereiro de 44 gravou 17 discos e 33 músicas, das quais Leon extraiu as 7 incluídas neste álbum ("Meu Mulato", e "Meu Canário", "Bole Bole", "Mulato Bonito", "São Miguel", "Palavra de Honra", "Julia Sapeca" e "Anda Nego"). Marilu também participou do filme "Laranja da China" (1940), cantando "Joujoux e Balangandãs" (Lamartine Babo). Portanto, pode-se agora, praticamente, conhecer esta sambista brejeira, pela primeira vez lançada em lp. xxx Nelson Gonçalves comparece no mesmo disco também com sete registros importantes: começa com "Sinto-me Bem", samba de Ataulfo Alves que era uma das faces de seu primeiro 78 rpm, registrado há 49 anos. Em seguida vem "Perfeitamente" (43), "Aquela Mulher" (45), "A Você" e "Pelas Lágrimas" (ambos de 1946), "Quando Voltares..." e, um de seus maiores sucessos, "Normalista" (Benedito Lacerda-David Nasser), gravado em 6 de maio de 1949. xxx Em "Sambas da Saudade", Leon Barg oferece 14 fonogramas especiais de dois cantores que marcaram época: Cyro Monteiro e Linda Batista. Do Formigão - forma afetuosa pela qual Cyro era conhecido - Leon escolheu os sambas "Essa Mulher tem Qualquer Coisa na Cabeça" (Cristovão de Alencar/Wilson Baptista, 1942); "Falta de Consciência" (Célio Ferreira/Amado Régis, 42); "Ela Não Teve Paciência" (Geraldo Pereira-Augusto Garcez, 41); "Crença Louca" (Djalma Esteves/Afonso Teixeira, 41); "Será Possível?" (Rubens Campos/Henricão, 41) e "Não é a Primeira Vez" (Waldomiro Machado/Laudio José, 45). LEGENDA FOTO - Marilu: só o Leon se lembraria!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/03/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br