Leon traz as suas cantoras do rádio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de julho de 1990
Para a leitura de um livro como "No Tempo de Almirante - Uma História do Rádio e da MPB", de Sérgio Cabral (Francisco Alves Editora) há que se buscar um fundo musical apropriado. E nisto o trabalho de um pernambucano-curitibano, Leon Barg, 60 anos, é perfeito: as edições da "Revivendo", com a época de ouro da música (e do rádio) brasileiro adquirem um justo reconhecimento nacional. Apesar da retração do mercado, Barg - dono da maior coleção de discos 78 rpm entre nós, acaba de montar um álbum chamado "Nós Somos as Cantoras do Rádio...", com seis vozes que entre os anos 30/50 eram divulgadas nacionalmente pela Nacional, Tupy, Record e outras emissoras.
Há dois anos, um espetáculo dirigido por Túlio Feliciano, reunindo outras cantoras de rádio (Zezé Gonzaga, Violeta Cavalcanti, Nora Ney, entre outras), fez sucesso no Rio e São Paulo, merecendo, inclusive, novas temporadas, mas até agora ninguém se animou a trazê-lo a Curitiba, o que é lamentável: as sexagenárias cantoras parecem meninas em flor quando pisam no palco.
Para compensar, vale a pena ouvir as cantoras do rádio - o título foi inspirado na marchinha de João de Barro, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro, que tanto sucesso fez em 1936 - reunidas por Leon neste volume 57 de sua série "Revivendo". Começa, naturalmente, com a mais famosa delas, Carmen Miranda (1908-1955) em "Queixas de Colombina" e "Foi numa Noite Assim". Sua irmã, Aurora, 75 anos completados dia 15 de abril último, vem com "Sou da Comissão de Frente" e "É Assim que se Vai no Arrastão". Outra Carmen - a Barbosa (1912-1942), quase nunca lembrada mostra seu ritmo nas marchas "No Fim do Nosso Amor" e "É Assim que se Vai no Arrastão" (uma das menos conhecidas composições de Ary Barroso). Alzirinha Camargo (1915-1982), paulistana do Brás, que começou na Record e Difusora e depois foi para a Tupi, está em uma marcha de Benedito Lacerda, "Buenos Aires Amigo" e "Rythmo do Coração", também de Lacerda, em parceria com Herivelto Martins. Tendo aparecido em "Alô Carnaval" (1936), Alzirinha foi a Buenos Aires com Francisco Alves e Benedito Lacerda o que explica a marcha enaltecendo a capital portenha.
Dentro da linha de resgatar cantoras que permanecem totalmente esquecidas, Leon Barg traz agora Neide Martins, sobre a qual nem o esforçado pesquisador Abel Cardoso Júnior, que faz as contracapas da "Revivendo" e é um estudioso da música dos anos 30/40 (e autor de uma excelente biografia de Carmen Miranda), conseguiu maiores dados.
Só descobriu que ela gravou entre janeiro de 1937 a janeiro de 1939 cinco discos com 8 músicas e participou do filme "Banana da Terra" (1939). Para esta montagem, Leon selecionou suas interpretações de "Eterno Sonho" e "Uma Estrela Brilhou", marchas de Ernesto dos Santos (Donga, 1889-1974), em parcerias com Milton Amaral e Sá Roris, respectivamente.
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