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Aramis

O reconhecimento ao trabalho de Leon, o garimpeiro da MPB

Há menos de dois anos, quando lançou o primeiro pacote de sua etiqueta "Revivendo", o produtor Leon Barg se mostrava ressabiado: - "Haveria público para reedições de velhas matrizes em 78 rpm com intérpretes da MPB menos famosos?" Hoje, vendo que a cada novo lançamento vê aumentar a cobertura dos mais importantes órgãos da imprensa nacional, e, pouco a pouco, vão se esgotando as tiragens de suas edições, Leon Barg pode sorrir com satisfação. Afinal, independente de trabalhar com antigas gravações feitas em modestos estúdios de dois canais, o tratamento que o técnico Ayrton Pisco dá a cada fonograma consegue extrair um som limpo, sem chiados. Não chega a ser, em absoluto, um trabalho para utilizar todas as potencialidades dos cada vez mais amplos aparelhos de som, mas têm aquilo que falta em tantas gravações CDs, digitais, estéreos, etc.: a emoção, a beleza, a sensibilidade dos nossos grandes intérpretes. A "Veja" que está nas bancas dedica duas páginas ao trabalho de Leon Barg ("Baú de Raridades"), enaltecendo o que está fazendo pela nossa MPB. Normalmente crítica e mordaz, a principal revista brasileira derrama-se em elogios a "Revivendo", deixando inclusive algumas alfinetadas em outras séries de reedições que tem acontecido, sem a mesma regularidade de Leon - que apesar das limitações trazidas pelo Plano Collor e trabalhar exclusivamente com recursos próprios - já conseguiu chegar a 57 edições, de um projeto que prevê uma centena de títulos em menos de três anos. Diz a "Veja": "As coletâneas da "Revivendo" nada têm a ver com os amontoados de velharias que as gravadoras lançam de tempos em tempos, muitas vezes com capas enganosas, que vendem gato por lebre". Lembrando que Barg, 60 anos, pernambucano que há 40 anos se tornou curitibano de coração, criou a "Revivendo" como uma extensão familiar de loja de discos - a Sartori, trabalhando somente com sua filha, Laís, designer, 29 anos, diz a "Veja" em relação ao acervo de 27 mil 78 rpm - e mais alguns milhares de LPs - que fazem Leon independer de qualquer outra coleção (embora mantenha intercâmbio com os outros grandes colecionadores do país) para suas produções: é essa espantosa coleção que municia os discos da "Revivendo", que trazem, em 95% de suas faixas, gravações inéditas em LPs.: - "Fundei a gravadora porque achei que esse material tinha que ser preservado e é difícil preservar um 78 rpm, que quebra com facilidade". xxx São dezenas as sugestões que semanalmente Leon Barg recebe para novos títulos. Até hoje, suas montagens tem obedecido a critérios extremamente pessoais - mas que tanto artística, como comercialmente, tem dado bons resultados. Um dos aspectos que a "Veja" enaltece - e que nós, desde os primeiros registros feitos sobre a "Revivendo" (e, na imprensa brasileira, aqui saírem ainda, em 1988, as primeiras notícias a respeito) sempre gostamos de salientar: o fato de Leon intercalar os nomes famosos, consagrados dos anos de ouro da MPB, com artistas que, apesar de talentosos, tiveram suas carreiras precocemente cortadas - normalmente no caso das cantoras ao se casarem. Dois exemplos são lembrados no texto da "Veja": Elisa Coelho, mãe do apresentador de televisão Goulart de Andrade, que fez a primeira gravação de "No Rancho Fundo", quando este clássico de Ary Barroso (1903-1964) se chamava "Na Grota Funda". Outra cantora dos anos 30, que foi retirada do limbo do esquecimento graças a Leon foi Abigail Parecis, que na coletânea "Terna Saudade", interpreta dois dos mais belos choros de Anacleto de Medeiros (1866-1907), "Meu Amor" e Joaquim Antônio da Silva Callado (1849-1880), "Flor Amorosa". Estudioso na MPB, Leon tem feito verdadeiras arqueologias para encontrar informações, fotos, etc., em relação a artistas como Abigail Parecis. No caso desta cantora, diz: - "Quando lancei o LP, não sabia quase nada da vida dela. Depois, o Grande Otelo, me ligou emocionado - é que a Abigail que era casada com um maestro influente no mundo musical da época, havia sido a sua descobridora no mundo artístico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/07/1990

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