Se não fosse a Revivendo...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de agosto de 1989
Está sendo cada vez maior a repercussão nacional do trabalho que Leon Barg, um pernambucano que curitibanizou-se há 39 anos, vem realizando há 18 meses: a reedição do que há de melhor em nossa música - possuidor de uma das três maiores coleções de 78 rpm do país, formada ao longo de mais de 50 anos de pacientes escavações Brasil afora, Barg, 60 anos, tem a matéria prima - ou seja, os fonogramas, para fazer as melhores reedições. Assim, com a indispensável colaboração de Ayrton Pisco - único técnico no Brasil especializado em tirar os chiados de antigas gravações em 78 rpm - Barg já detém um catálogo esplêndido, ao qual soma, mensalmente, novos títulos.
Vendidos em sua loja (Rua Barão do Rio Branco, 28/6, 1º andar, fone 224-2313), atendendo a pedidos pelo reembolso postal e colocando os produtos em alguns outros pontos do País, as edições da "Revivendo" atingem um universo de 2 a 5 mil apaixonados pela nossa MPB, que há muito sonhavam em ter acesso as gravações não só de nomes históricos e consagrados, mas também de cantores(as) que fizeram carreiras rápidas, deixando poucos registros - e que Barg vem reunindo em vários álbuns, como aqui já registramos.
Nos últimos 60 dias, a "Revivendo" relançou além do histórico álbum de Jacob do Bandolim com a suíte "Retrato" - que Radamés dedicou a Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e a Chiquinha Gonzaga - outros discos marcantes. Assim, Orlando Silva (1915-1978) está presente em dois álbuns: num dividido com Roberto Paiva (Rio de Janeiro, 08/02/1921) e outro com a grande (e esquecida) Odete Amaral (1917/1984). Carlos Galhardo (1913/1985), criador de sucessos como "E o Destino Desfolhou" (1937), divide um disco com Nuno Roland (1913/1975), catarinense de Joinville, desconhecido das novas gerações mas que criou inúmeros êxitos - dos quais basta lembrar a marchinha "Pirata da Perna de Pau" (João de Barro / Alberto Ribeiro, 1947).
Retroagindo no tempo, duas outras belíssimas vozes dos anos 30 também renascem graças a um álbum da "Revivendo": Augusto Calheiros (1891/1956) e João Petra de Barros (1914/1947), que chegou a fazer uma notável temporada no Cassino Ahú, como registraremos em próxima coluna.
Nelson Gonçalves, 70 anos completados no último dia 21 de junho, forte e vigoroso e que continua fidelíssimo a RCA (agora BMG/Ariola), na qual ingressou em 1941, pode ser apreciado em registros do ano de 1941/42 numa reedição selecionada por Barg, nas quais estão valsas como "Deusa do Maracanã", "Saudade que Maltrata" e "Foi Tudo Ilusão".
Num álbum intitulado "Novidades de 1930", Leon Barg reuniu as vozes de Gastão Formentil (1894/1974), Sílvio Caldas, 81 anos completados em 23 de maio último e duas cantoras que pouquíssimos estudiosos conheciam, mas que Leon "revela" agora: Laura Suarez, às vésperas de completar (23/11) seus 80 anos, que foi Miss Ipanema há 60 anos, viveu nos EUA e fez poucas gravações. Já Yolanda Osório gravou 11 discos e 19 músicas na Brunswick entre junho 1930 / fevereiro/31 - e depois abandonou a carreira. Agora, graças a "Revivendo", pode ser apreciada numa marchinha de Lamartine Babo ("Eu Quero Casar"), lançada há 59 anos.
Cada reedição que Leon faz mereceria um espaço especial, tal sua importância, a quem se interessa por história musical. Aqui fica a dica ao menos dos lançamentos, aos quais se acrescenta também um álbum com grandes momentos do cantor lírico Tito Schippa (1889/1965), para deliciar os cultores do grande cantor italiano. Joel Rondinelli Mendes e Luiz Carlos Schultz, fascinados por ópera, fizeram o texto da contracapa esta reedição.
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