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Aramis

Nem só de Mancini vive a música para os filmes

Existem dois tipos de colecionadores de trilhas sonoras: os que procuram ter absolutamente tudo que foi editado - o que exige caras importações (já que no Brasil, as trilhas sempre foram lançadas esparsamente) e os que elegem compositores de sua preferência e tornam-se expertos em suas obras. Em Santos, SP, residem dois dos maiores colecionadores de trilhas sonoras do mundo: os comerciantes Clesius Marcus Real de Aquino, 42, e Carlos Eduardo de Oliveira Carneiro, 38 anos. Em reportagem que Antônio Gonçalves Filho publicou na "Folha de S. Paulo" (11/11/87) revela que Clesius tem uma coleção de mais de 3 mil trilhas (50% importada) mas a sua maior paixão é o compositor Henry Mancini, de quem fundou um fã-clube e hoje é seu amigo - graças ao que pode conseguir as 160 trilhas que ele fez para o cinema (inclusive, muitas delas, não lançadas em elepês, possui em fitas, copiadas pelo próprio Mancini). Já Carlos Eduardo é fascinado por Ennio Morricone, mas não alimenta ilusões de ter sua obras completas: o compositor italiano já fez mais de 600 trilhas sonoras, e um americano fanático por sua obra só conseguiu, até agora, 410 trilhas sonoras. Houve época em que a RCA editava no Brasil os discos com as trilhas dos filmes de Mancini, chegando inclusive a aqui lançar a música de "Escravas do Medo" (Experiment in Terror, 62, de Black Edwards), hoje um cult-disc, com valor cotado em dólares. Para este público que curte a música de cinema, a SBK Songs faz lançamentos específicos, que têm boa acolhida. Do primeiro pacote, os dois maiores sucessos foram as trilhas de "Veludo Azul" e "A Testemunha", este de autoria de Jarre, compositor que retorna agora com a criativa trilha do filme "Inimigo Meu", um science-fiction de Wolfgang Petersen ("O Barco", "História Sem Fim") e cuja produção musical levou Maurice Jarre (famoso por trilhas de filmes como "A Filha de Ryan", "Dr. Jivago" e "Os Deuses Malditos") a se trancar durante cinco meses num estúdio da Bavaria, trabalhando basicamente com recursos eletro-acústicos. Michael Kamen, regendo a National Philharmonic Orquestra na trilha de "Sob Suspeita" (Suspect, de Peter Yeats, próximo lançamento em Curitiba) mostra claras (e positivas, por que não?) influências de um dos maiores mestres da música do cinema, Bernard Hermann (1911-1975). Georges DeLerue, compositor francês, de grande sensibilidade, ainda insuficientemente conhecido no Brasil foi o compositor escolhido por Oliver Stone para criar a trilha de "Salvador, O Martírio de um Povo" (Para nós, ainda o seu melhor filme), gravado com a Vancouver Symphony Orchestra. No mesmo álbum, o lado A é ocupado pela trilha de "Wall Street", esta com trilha de Stewart Copeland, ex-baterista do grupo Police e que como autor estreou (bem) fazendo a música de "O Selvagem da Motocicleta" (The Rumble Fish, 83, de Coppola). Na síntese feita para esta gravação foram excluídos os temas incidentais que se ouviam no filme, inclusive "Corcovado" de Antônio Carlos Jobim. Susan Seidelmann ficou conhecida com o filme "Procura-se Susan Desesperadamente", estrelada por Madonna. Assim, para lançar a trilha de Thomas Newmann, a SBK traz também, no mesmo disco, a música de miss Seidelmann, inédita no Brasil, "Making Mr. Right", composição e interpretação de Chaz Jankel. Nesta, um destaque: o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos (apresentado como "Vasconselez") dá um molho em várias faixas. Nostálgico e suave, "Peggy Sue, Seu Passado à Espera" de Francis Coppola, teve uma belíssima trilha produzida pelo competente John Barry, nome dos mais influentes da moderna música e cinema. Pela própria ação do filme - que transpõe a personagem para os anos 60 - há utilizações de muitos temas incidentais, com grupos daquela época, como Dion & The Belmonts e Buddy Golly (1959), que morreu num acidente de aviação. Três filmes exibidos recentemente têm suas trilhas também lançadas: "F/X - Assassinato Sem Morte", de Robert Mandel, música de Bill Conti (que ficou famoso com a trilha de "Rocky, Um Lutador"); "Mad Max III" (The Road Warrior), de George Miller; música de Brian May e "O Sobrevivente" (The Running Man), de Paul Michael Glaser, música de Harold Faltermeyer. Três clássicos exemplos de discos destinados ao público que deseja ter uma coleção diversificada. São trilhas que se integram basicamente as imagens e que, apreciadas isoladamente. Perdem muito de seu encanto. Mas vale a edição. Uma das intenções de Antônio Carlos Duncan é fazer edições de trilhas sonoras antecipando-se ao lançamento dos filmes - e, naturalmente, com uma visão mercadológica, buscar aqueles filmes que possa ter grande sucesso. Assim explica-se a inclusão no pacote das trilhas de "Uma Noite Alucinante" (Evil Dead 2), de Saim Raimi - música de Joseph Loduca e "Quando Chega a Escuridão" (Near Dark), de Katheryn Bigelow, música do grupo Tangerine Dream. São dois filmes de terror, nos quais a trilha sonora tem uma função muito grande - contribuindo para criar o clima de suspense e horror. Musicalmente, o grupo alemão, do rock progressivo, Tangerine Dream, usa em "Near Dark" muitos sintetizadores. Anteriormente o Tangerine já havia feito outros trabalhos para o cinema, o que explica os bons resultados agora alcançados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
29/05/1988

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