Máfia com humor, comédias, SF e documentários da RDA
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de julho de 1986
Uma semana de boas perspectivas. Afora uma mostra de filmes da República Democrática da Alemanha - quebrando assim um pouco a presença quase que exclusiva dos cineastas da RFA - temos uma das mais aguardadas estréias do ano: "A Honra do Poderoso Prizzi", de John Huston, que teve oito indicações ao Oscar mas que, afinal, na noite de 24 de março último, ficou apenas com o troféu de melhor atriz coadjuvante - para Angélica Huston, filha do diretor John e atual amante de Jack Nicholson - astro deste filme (e que também concorreu ao Oscar).
Em ritmo de comédia, um filme sobre uma família de mafiosos, com a categoria do grande mestre Huston, 80 anos, "Prizzi's Honor" traz no papel de maior destaque a atriz que surge nestes anos 80 como a grande sex symbol: Kathleen Turner - nesta semana podendo ser vista também no ótimo "Crimes da Paixão" (1984, de Ken Russel), que continua (terceira semana) no cine Ritz.
Vinda do teatro, Kathleen Turner estreou sensualmente em "Corpos Ardentes", ao lado de William Hurt (antes da fama de "O Beijo da Mulher Aranha") e não parou mais: esteve na comédia "Médico Erótico", fez um filme (inédito no Brasil) de Tony Richardson ("A Breed Apart") e pôde ser visto pela garotada com menos de 18 anos em "Tudo Por Uma Esmeralda", a comédia produzida e interpretada por Michael Douglas, que teve seqüência em "A Jóia do Nilo". Agora, no auge de sua beleza e sensualidade é a bem humorada assassina de aluguel por quem Jack Nicholson se apaixona em "A Honra do Poderoso Prizzi" (cine Astor).
Reformado e dedetizado, o Plaza reabriu sua programação assistível (durante um mês havia entrado no circuito do orgasmo, com pornofitas) e está lançando "Inimigo Meu" (Enemy Mine), do alemão Wolfgang Petersen - premiado diretor de "O Barco" e que fez, em 1984, o mais belo filme infantil dos últimos anos ("História Sem Fim"). Ficção-científica de sentido simbólico, sobre o encontro de um terráqueo (Dennis Quaid) e um "Drac" do planeta Dracon (Louis Gosset Jr., Oscar de melhor ator coadjuvante em "A Força do Destino"), a ação deste filme a ser verificado se passa no século XXI. Pelo talento que Petersen mostrou até agora em seus filmes, merece um crédito (antecipado) de confiança.
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Duas reprises que oferecem, no mínimo, oportunidade para serem reavalizadas. No Groff, "Salve-se Quem Puder" (A Vida), com o qual Jean Luc Godard voltou a direção, há 5 anos, após um intervalo (voluntário) em que se dedicava apenas a filmes publicitários. E voltou com uma bela atriz - Isabel Hupert, hoje das mais prestigiadas no cinema francês. No cine Luz, 5 sessões.
Já "A Vida do Próximo", de Claude Charbol - outro nome importante da nouvelle vague - embora sem a mesma voltagem criativa de Godard - passou praticamente desapercebido há alguns meses, no cine Itália. No elenco internacional, Jodie Foster, Michael Ontkean, Sam Neill, Stephane Audran e Lambert Wilson. O maior interesse neste filme - que chega em cópia dublada em inglês - é o fato de ter sido o único romance de Simone de Beauvoir (1908-1986) levado ao cinema. No cine Luz.
Claro que entre as reprises indispensáveis está CASABLANCA, 1942, de Michael Curtiz, cult movie que há quase 50 anos é uma obra curtida por nostálgicos de todos os quadrantes. Rever Ingrid Bergman no auge de sua beleza, Humphrey Bogart, Paul Henreid, Claude Rains e Peter Lorre, em tela ampla, é sempre uma satisfação. Ainda mais que a Franco Brasileira providenciou uma cópia nova. Posteriormente à "Casablanca", João Aracheski, promete duas outras (ótimas) reprises também no cine Itália: "Quanto Mais Quente Melhor", 1959, de Billy Wilder, com Marilyn Monroe no auge de sua beleza - ao lado de Jack Lemmon e Tony Curtis e "Roma", 1972, de Fellini.
Também retorna ao cartaz, no Cinema I, o ótimo "Cotton Club", de Francis Coppola - que havia sido lançado no Astor, ali permanecendo apenas uma semana. Um filme marcante, com esplêndida trilha sonora, extraordinária reconstituição de época. Vamos ver se agora emplaca melhor público.
Uma chance para quem ainda não assistiu, ver: "O Baile", de Ettore Scola, estará sendo exibido amanhã à meia noite e domingo, às 10:30 horas, no Groff. Já no Luz, o programa para a matinada de domingo, 10:30 horas, é o desenho "O Cavalinho Mágico".
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Desde que o Instituto Goethe se implantou em Curitiba, a partir de 1970, com o admirável trabalho do casal Helmuth Heid Lied (atualmente no Canadá, mas retornando agora para Brasília), o público curitibano passou a ver, regularmente, os filmes alemães da nova geração. Uma programação intensa que os sucessores dos Lied mantiveram. Entretanto, se o cinema da República Federal da Alemanha é hoje conhecido - inclusive com muitos cineastas (Schlondorff, Wenders, Herzog etc.) que chegaram aos circuitos comerciais, continuamos a desconhecer o cinema que se faz na outra Alemanha - a chamada Alemanha Comunista, a RDA. Por isto, é interessante a mostra que a Cinemateca Brasileira organizou e que desde ontem está sendo apresentada na Cinemateca do Museu Guido Viaro, trazendo filmes dos cineastas Walter Heynowski e Gerhard Scheunemann. São nove filmes - quase todos curta-metragens - que tem como temática a transformação de nossa época, refletida de maneira concreta nas batalhas entre revolução e contra-revolução em muitas partes do mundo. Seus filmes - especialmente os documentários políticos expressam o repúdio ao fascismo em todas as suas manifestações.
O programa de hoje, sexta-feira, inclui os média-metragens "Eu Fui, Eu Sou" (Ich wer, ich bin, ich werdesein), 1974, documentando os campos de concentração no Chile; "Dificuldades com Dinheiro" (Geldsorgem), 1975, também denunciando a ditadura de Pinochet. Amanhã, serão exibidos "A Fortaleza de Ferro" (Fie Eiserne Festung), 1977 - sobre o Vietnã depois da guerra e a tragédia de My Lai, com depoimentos dos sobreviventes do massacre; "Um Refugiado do Vietnã" (Ein Vietnamfluchtling), de 1979, é outro documentário sobre a guerra do Vietnã, focalizando as manifestações nos EUA contra aquela guerra e os protestos contra a presença do chefe de polícia de Saigon, refugiado em Washington. No domingo, "Fenix", 1979, que aborda a ação de um militar vietnamita e um agente da CIA: "Exercícios", 1975, último filme da mostra, aborda a reabertura da Escola de Belas Artes de Phnon Pehn, de danças clássicas do atual Kampuchea (ex-Camboja), no renascimento cultural daquele país após o cruel governo de Pol Pot. Uma programação indispensável a quem se interessa em conhecer o outro lado dos fatos.
LEGENDA FOTO - Comédia em ritmo pastelão: Um dia a casa cai, no Condor.
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