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Aramis

Congo, Chile, Vietnã nos filmes da outra Alemanha

O cinema da República Federal da Alemanha já é bastante conhecido no Brasil. Se há 15 anos passados, nas primeiras mostras de "jovens realizadores" trazidos pelo Instituto Goethe - na época, dirigido no Paraná pelo casal Helmuth-Heid Lied (hoje em Toronto, mas retornando em breve para o Brasil, assumindo o Instituto em Brasília), diretores como Werner Fassbinder, Werner Herzog, Wim Wenders, Werner Schlondoeffer e outros eram total mente desconhecidos, hoje eles já têm seus filmes lançados no circuito comercial. Enquanto o Goethe continua a trazer regulares mostras do pulsante cinema alemão - ainda na semana passada tivemos a mostra de filmes realizados por mulheres - o cinema que se faz na República Democrática da Alemanha continua desconhecido entre nós. xxx Para mostrar um pouco do cinema documentário que dois inquietos realizadores - Walter Heynowski e Gerhard Scheumann - realizam em torno de temas sempre políticos, a Cinemateca Brasileira organizou uma mostra que, a partir de hoje, estará em Curitiba (Cinemateca de Heynowski e Scheumann são contundentes, denunciando ditaduras, guerras, violência, dentro de um prisma bem definido. Os próp[rios realizadores declararam há algum tempo: -"Nós consideramos artistas políticos já que toda representação da realidade é também um ato político". O primeiro programa da mostra é dos mais interessantes, "Kommando 52", realizado em 1965, revela os crimes do chamado "Comando 52", grupo de mercenários que operou no Congo nos anos 60. Inclui depoimentos, fotos, imagens de arquivo sobre a guerra na África. Já "Remington Calibre 12", de 1972, é sobre uma arma que os marines americanos usaram no Vietnã. Seu projétil contém pequenas flexas de aço que se desintegram ao tingir o corpo humano. Finalmente, no programa de hoje, "Compatriotas" (Mitburger), 1974, homenagem a Salvador Allende, reproduzindo o seu último discurso, com cenas do golpe de Pinochet em setembro de 1973. xxx O Chile e Vietnã são temas de vários outros documentários de Haynowski e Schumann programados para esta mostra. Amanhã, por exemplo, teremos dois filmes realizados em 1974/75, sobre o governo fascista de Pinochet: "Eu Fui, Eu Sou, Eu Serei" e "Dificuldades com Dinheiro". No sábado, dois documentários sobre a guerra do Vietnã. xxx Já que falamos da programação alternativa, um lembrete: sábado, às 15 horas, na Cinemateca, o vídeo "Transporte Clandestino", 1984, realizado pelo grupo Espia Vídeo, de Olinda, Pernambuco. Aborda os motoristas desempregados, em Alagoas e Pernambuco, que utilizam o transporte clandestino de passageiros como meio de sobrevivência.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
10/07/1986

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