Um filme antropológico sobre cultos africanos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de julho de 1986
Mais um fraco fim de semana, sem nada de especial nas telas da cidade. Até mesmo na programação não comercial, poucas novidades. A suspensão na vinda ao Brasil da cineasta cubana Stela Bravo, devido a problemas burocráticos e de passagem, faz com que amanhã a Cinemateca do Museu Guido Viaro permaneça fechada. Ali seriam apresentados dois filmes da Stela, considerada uma forte presença do cinema cubano: "Los Marilitos" e "Y Los Que Se Fueron". A promoção teria o apoio do Movimento Feminista 8 de Março, responsável também pelo vídeo "Mulheres Garis", realizado pelas ferozes feministas Marli Silva, Albina Cordeiro e Sonia Gutierrez. Entretanto com o cancelamento da apresentação dos filmes de Stela, também o vídeo foi suspenso.
Hoje, às 20h30min, com o contundente e simbólico "Das Tripas, Coração", de Ana Carolina, encerra-se o miniciclo restrospectivo desta cineasta fascinante e inquieta, que está em fase de produção de seu novo filme-amargura, "Sonho de Valsa". O cinema de Ana Carolina é dramático, denso e profundamente feminino - e a ironia começa pelos próprios títulos de suas obras: "Mar de Rosas", "Das Tripas, Coração" e, agora, "Sonho de Valsa".
A partir de domingo, a Cinemateca estará reprisando um dos mais profundos filmes de Luchino Visconti: "Vagas Estrelas da Ursa".
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Só mesmo um cinema como o Groff, pertencente a uma instituição cultural e que, portanto, não tem finalidade maior de lucro, poderia reservar uma semana para exibição de um documentário como "Egungun", longa-metragem de Carlos Brajsblat, com a colaboração da antropóloga Juana Eiben dos Santos, que aborda uma comunidade de descendentes de Nagô, na Ilha de Itaparica, na Bahia, que recria há duzentos anos os costumes e valores de antepassados africanos e brasileiros.
Tratando-se de um filme de abordagem científica, mergulhando no estudo da religião afro, com seus deuses, símbolos e tradições, destina-se a platéias especiais. Pena que o seu lançamento (ao que parece, estréia nacional) aconteça neste final de mês, o que inviabiliza qualquer promoção junto ao Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná, que, normalmente poderia motivar uma assistência seleta. Ao menos os professores da área deveriam ser contatados para conhecer este filme quase científico, com assessoria especial do mestre Didi (Deoscóredes M. Dos Santos) e que também pode motivar outra faixa de público: os umbandistas.
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Apesar de sua beleza e movimentação, "Cotton Club", de Francis Ford Coppola, só ficou apenas mais uma semana no Cinema I - assim mesmo com reduzido público. E para substitui-lo, foi deslocado "A Honra do Poderoso Prizzi", de John Huston - que teve duas magras semanas no Astor, quando se esperava o contrário. Indicado a 8 Oscars - valendo a premiação a Angelica Huston como melhor coadjuvante - irônico, mordaz e até cínico, este filme sobre a Máfia tem elementos de grande atração a um público exigente. Mas, mais uma vez, os curitibanos mostraram que só se motivam com filmes repletos de prêmios e assim "Prizzi's Honor", ficará apenas mais cinco dias no Cinema I.
Já no Astor, em cartaz, "O Fio da Suspeita" (Jagged Edge), thriller de Richard Marquand, com boa estória e um elenco atraentes: Glenn Close (três indicações ao Oscar nos últimos anos), Jeff Bridges (Oscar de melhor coadjuvante por "A Última Sessão de Cinema"), Peter Coyote, Robert Loggia, John Dehmer, Leight Taylor Young e outros. Marquand é um diretor mecânico, mas de sucesso: "O Buraco da Agulha", "O Império Contra-Ataca".
Outra estréia é "Remo: desarmado e perigoso" (Remo: unarmed and dangerous), de Guy Hamilton, com os destaques no elenco - Joel Grey (premiado em "Cabaret"), mais Fred Ward e Wilford Brimley. Remo é mais um supertira, sem tanta violência quanto o "Cobra" (o novo êxito de bilheteria com Sylvester Stallone, estréia nacional dia 5 de agosto), mas também enfrentando, a ferro e fogo, a marginália de Nova Iorque. No cine Plaza, desde ontem.
Das reprises, o melhor é "Quanto Mais Quente Melhor" (Some Like it Hot), 1959, de Billy Wilder, no cine Itália. Marilyn Monroe nunca esteve tão bonita e sensual como nesta clássica comédia, com Jack Lemmon, Tony Curtis, Joe E. Zbrown, George Raft e outros. Um exemplo de filme perfeito, em roteiro, música, interpretações que, revisto agora, 27 anos depois, conserva todo o encanto da época de estréia.
Dos filmes em continuação, os destaques são "A Traição do Falcão", de John Schlesinger (Luz), "Crimes de Paixão", de Ken Russel (Ritz) e "A Hora do Espanto", de Tom Holland (Vitória). Para a garotada, "O Segredo da Espada Mágica", "A Gata Borralheira" e "Os Trapalhões e o Rei do Futebol", continuam em exibição no Palace-Itália, Lido II e São João, respectivamente.
Amanhã a meia noite e domingo, às 10 horas da manhã, o documentário "Certas palavras de Chico Buarque", do argentino Maurício Berú, no Groff. No Luz, domingo pela manhã, mais uma projeção do desenho animado em longa-metragem "O Cavalinho Mágico".
LEGENDA FOTO - "Remo: Desarmado e Perigoso", um novo herói na luta contra o crime. No cine Plaza.
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