Login do usuário

Aramis

Dois policiais e um filme sobre culto-afro na Bahia

Mais uma semana de poucas novidades. Com exceção de "O Fio da Suspeita", thrilling de Richard Marquand - e cuja estréia já havia sido prevista para a semana passada e o policial "Remo: Desarmado e Perigoso", de Guy Hamilton - nada de novo nas telas. Claro que há um documentário nacional, mas tão científico e destinado a platéias especiais que corre o risco de permanecer com reduzido número de espectadores: "Egungun", de Carlos Brajsblat. No mais, são reprises - algumas interessantíssimas - como "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder - que pode ter sua carreira já encerrada neste domingo, dependendo da renda. Ou o profundo "Vagas Estrelas da Ursa", 1965, de Luchino Visconti (1906-1976), de hoje a quinta-feira na Cinemateca. No mais, os programas já conhecidos das semanas anteriores. SUSPENSE Duas formas diferentes de suspense em exibição. De um lado, o thriller policial, sofisticado e colocando a ação nos meandros da justiça americana em "O Fio da Suspeita" (cine Astor), de Richard Marquand. De outro o suspense explícito, terrorífico, na melhor tradição de Alfred Hitchcook (1899-1980) na sequência que Richard Franklin fez há quatro anos de seu clássico "Psicose" (Psyco, 1960). Quando do lançamento de "Psicose - 2ª Parte", a UIP trouxe Tony Perkins ao Rio de Janeiro e, numa entrevista coletiva do qual participamos, ele afirmava que não tinha a menor intenção de vir a repetir o personagem Norman Bates. Falou mas não cumpriu: há um mês, estreou nos Estados Unidos a terceira parte de "Psicose", dirigida e interpretada por Perkins, provando de que a tentação financeira contou mais alto. Embora "Psicose III" ainda não tenha data marcada para estrear no Brasil - mas isto deve acontecer ainda este anos - a UIP reprisa, nas sessões das 20 e 22 horas, do Lido II, "Psicose - 2ª Parte", que do elenco original traz além do Perkins, também Vera Miles, que era, aliás, uma das atrizes favoritas do velho Hitch. Como sua filha, Mary, aparece Meg Tilly, atriz que este ano concorre ao Oscar de melhor coadjuvante por "Agnes de Deus". O roteiro é de Tom Holland (diretor de "A Hora do Espanto", há 2 meses com casas lotadas no Vitória), que apenas usou os personagens criados por Robert Bloch. A música é de um mestre - Jerry Goldsmith - mas sem o mesmo impacto com que Bernard Hermann marcava os filmes do velho Hitch. Enfim, esforço houve - inclusive do diretor Richard Franklin, o qual, infelizmente, pouco fez após esta experiência. Já "O Fio da Suspeita" é um thriller que se desenvolve entre os meandros jurídicos, após o assassinato de uma rica herdeira de um jornal, Page Forrester, do qual é acusado seu marido, Jack (Jeff Bridges). A advogada de defesa, Teddy Barnes (Glenn Close) envolve-se emotivamente com o cliente e a trama envereda por múltiplos caminhos. Marquand, o diretor realizou filmes como "O Retorno de Jedi" - terceira parte da saga "Star Wars" e "O Buraco da Agulha", baseado no best-seller de Ken Follet. Um filme de verificação, nesta semana. cine Astor, garantido em exibição até a quarta-feira. CULTURA AFRO Em lançamento nacional, "Egungun" é um semi-documentário destinado a uma faixa específica de público: antropólogos, estudantes de ciências sociais, interessados em cultura e religião afro-brasileira. Filmado na Ilha de Itaparica, na Bahia, aborda uma comunidade de descendentes Nagô que conserva há 200 anos os costumes e valores de antepassados africanos. O culto dos deuses africanos, os conflitos do poder e toda uma visão social e política de uma realidade de leis muito próprias foi explorada neste filme dirigido por Carlos Brajsblat, engenheiro e matemático, que em 1969 realizou seu primeiro curta-metragem ("A Prisioneira") e que há 16 anos vem se notabilizando pelos conhecimentos técnicos e pela sensibilidade que coloca em suas realizações. Montador experiente ("Mar de Rosas", "Ajuricaba", "Perdida", "República dos Assassinos"), com experiências na edição sonora ("O Sírio do Pica-Pau Amarelo", "Isto é Pelé", "Lição de Amor"), Brajsblat faz agora seu primeiro longa-metragem, produzido pela Sociedade de Estudos da Cultura Negra do Brasil, fundada em 1974 e que anteriormente já havia realizado "Orixá Ninu Ilê" e "Iya-mi Agbá". Na realização de "Egungun", houve a participação decisiva da antropóloga e cineasta Juana Elbein dos Santos, argentina de Buenos Aires mas há 24 anos morando no Brasil, onde desenvolve pesquisas sobre populações negras. Com apoio de Mestre Didi (Deoscóredes Maximiano dos Santos), escritor e escultor, um dos expoentes da cultura afro-brasileira, impulsionador da Secneb, realizou já vários documentários, aos quais acrescenta-se "Egungun". Enfim, um filme especial, de profundas raízes antropológicas e que tem seu lançamento no cine Groff por uma semana. Mesmo sabendo da pequena bilheteria que fará, Francisco Alves dos Santos fez questão de programá-lo. Pena que a época esteja errada: deveria ser promovido durante o período de aulas, com apoio do Departamento de Antropologia da UFPR. REMO, UMA NOVO SUPER-HERÓI Enquanto "Cobra" (Sylvester Stallone) não chega as telas (estréia nacional dia 8 de agosto), mais um super-tira no circuito: Remo, policial nova-iorquino que é preparado por um mestre coreano no Sinanju, a origem da arte da sobrevivência oriental. Baseado no personagem que já apareceu em 62 livros de aventuras ("The Destroyer", de Waren Murphy), "Remo: Desarmado e Perigoso" tem múltiplos aspectos para atrair o público: ação, violência, artes marciais. Para quem se interessa por créditos, também há pontos positivos: Guy Hamilton, 64 anos, é um experiente diretor, que desde 1952 (quando realizou "Fantasma Assassino") vem mostrando competência, tendo inclusive já realizado cinco das 15 fitas da série de James Bond, além de uma das aventuras de Harry Palmer ("Funeral em Berlim", 66). Sabe, portanto, como conduzir uma fita de ação. No elenco, o personagem-título é interpretado por Fred Eard, visto em "Silwood - Retrato de uma Coragem", "Fuga de Alcatraz" e que fez também "Os Eleitos" (ainda inédito em Curitiba). Já Joel Grey, premiado com o Oscar de melhor coadjuvante em 1972, como o mesmo mestre-de-cerimônias de "Cabaré", tem uma incrível caracterização, como o octagenário Chiun. Uma interpretação marcante, segundo as referências críticas. "Remo: Unarmed and Dangerous" está em exibição no Plaza. OUTROS PROGRAMAS Quem ainda não viu, tem chance até quarta-feira de assistir ao excelente "A Honra do Poderoso Prizzi", de John Huston, no Cinema I. Também até quarta-feira, "A Traição do Gavião", de John Schelesinger, permanece no Luz e "Crimes de Paixão", de Ken Russel - com Tony Perkins, Katheleen Turner e John Laughlin - continua no Ritz. São três dos melhores programas em cartaz. Há ainda o terror bem humorado de "A Hora do Espanto" (Vitória), o humor-pastelão de "Um Dia a Casa Cai" (Condor), os desenhos "A Gata Borralheira" (Lido I) e "O Segredo da Espada Mágica" (Palace Itália, sessões da tarde), "Os Trapalhões e o Rei do Futebol" (São João, sessões da tarde), A noite, nestes dois cinemas, estão em exibição "O Último Americano Virgem" e "Eu Sei Que Vou Te Amar", respectivamente. No mais, para quem acordar cedo neste domingo, duas opções: o documentário "Certas Palavras com Chico Buarque", realizado pelo argentino Meurício Biru (cine Groff, 10h30min) e, no Luz, em matinada, mais uma apresentação do desenho russo, de longa-metragem, "O Cavalinho Mágico".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
7
27/07/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br