Espionagem de jovens é a única estréia da semana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de julho de 1986
Por pouco que "A honra do Poderoso Prizzi", de John Huston, não deixa de ser exibido no Astor - e substituído pelo thriller "O Fio da Suspeita". A bilheteria foi fraca e João Aracheski ia fazer com "Prizzi's Honor" o mesmo que aconteceu com "Cotton Club" há três semanas: encerrar sua programação.
Felizmente, tanto "Prizzi's Honor" continua - ao menos por mais uma semana - como "Cotton Club" retorna, agora no Cinema I, para quem ainda não viu poder conhecer este esplêndido filme de Francis Coppola, com roteiro de William Kennedy e Mário Puzo e que reconstrói o ambiente dos roaring twenties em Nova Iorque, embalado por uma trilha sonora no qual John Barry reuniu standards da época das big-bands, com vários temas de Duke Ellington. Só a trilha sonora - e dois números de sapateados de Gregory Hines (visto recentemente em "O Sol da Meia Noite") já fazem de "Cotton Club" um programa imperdível.
Como comprar o teipe está difícil (Cz$ 1.100,00, se conseguir uma cópia importada), resta a compensação de ter a trilha sonora, aproveitando o lançamento feito pela CBS. No elenco de "Cotton Club", além de Hines, temos Richard Gere, a bela Diane Lane e um correto elenco de suporte: Lonette Mcs Kee, Bob Hoskins, James Remar, Nicolas Cage (sobrinho de Francis Coppola, visto em "Asas da Liberdade") e Fred Gwinne.
A única estréia da semana é "A Traição do Falcão" (The Falcon And The Snowman), de John Schelesinger, baseado em fatos verídicos: há 10 anos, dois jovens - Christopher Boyce e Daulton Lee, americanos da classe média, envolveram-se em espionagem com os russos e até jovens americanos tornam-se espiões? Esta é a questão que o jornalista Robert Lindsey buscou responder, acompanhando o julgamento dos dois jovens (em abril de 1977), entrevistando-os demoradamente e produzindo um livro vigoroso, que baseou o filme de Schelesinger.
Dois promissores atores estão em "A Traição do Falcão": Timothy Hutton (Oscar de melhor coadjuvante em "Gente Como A Gente", 81) e Sean Penn (mais conhecido como marido da Maddona), que juntos já fizeram "Toque de Recolher" (Taps). A trilha sonora é excelente: criada pelo guitarrista Pat Matheny (que tem vindo constantemente ao Brasil) foi editada, há meses, pela EMI-Odeon. "A Traição do Falcão" está em exibição no cine Luz.
xxx
A Cinemateca está apresentando uma série de filmes nacionais. Hoje, por exemplo, será exibido "O Anjo Nasceu", 1969, de Júlio Bressane, com Hugo Carvana, Milton Gonçalves e Norma Benguel. Cineasta udegrudi, autor de inúmeros filmes - quase inéditos comercialmente devido a seu hermetismo - Bressane tem, entretanto, quem o curte, pela irreverência e ruptura com a linguagem tradicional do cinema.
Amanhã, programação dupla: às 15 horas, na sessão de vídeo, "Sossego D'Alma", 1985, de Beto Carminatti, sobre a citarista curitibana Inge Brums, que, no ano passado, fez um sensível elepê independente com músicas natalinas. No domingo, às 20:30 horas, "A Casa Assassina" - 1970, de Paulo Cesar Sarraceni. Do romance de Lúcio Cardoso, um drama pesado e intimista, com bom elenco: Norma Benguel, Tetê Medina, Carlos Kroeber, Nelson Dantas. Ótima trilha sonora de Antônio Carlos Jobim.
Amanhã, a Cinemateca exibirá "Memórias de Helena", 1969, de David Neves, único filme com fotografia do ultra badalado Prieto Arudino Colasanti e, em participação especial, Humberto Mauro.
xxx
No Groff, amanhã à meia noite e domingo, às 10:30 horas, mais duas chances de quem ainda não viu, assistir um vigoroso filme do inglês Ken Russel (o mesmo diretor de "Crimes da Paixão", que continua no cine Ritz): "Os Demônios" (The Devils, 1972), proibido durante 10 anos no Brasil e que aborda o mesmo tema que o polonês Jerzy Kawalerowitz havia focalizado em "Madre Joana dos Anjos" (1961): o endemoniamento de um grupo de religiosas num convento durante o século XV.
xxx
Programas também recomendáveis: "Roma De Fellini", 1972, de Frederico Fellini - documentário dos mais criativos, que na época passou desapercebido está em cartaz no Cine Itália. "Salve-se Quem Puder" (A Vida) que Jean Luc Godard realizou em 1979, com bom público no cine Groff. No Plaza, o science-fiction "Inimigo Meu", do alemão Wolfgang Petersen, com uma bela mensagem pacifista. "A Hora do Espanto", de Tom Holland, a exemplo de "Um Dia A Casa Cai", de Richard Benjamin, continuarão em cartaz; público não falta para estas duas escapistas produções.
Tags:
- A Hora do Espanto
- A Traição do Falcão
- A Vida
- Antônio Carlos Jobim
- Asas da Liberdade
- Beto Carminatti
- Bob Hoskins
- Carlos Kroeber
- Cine Itália
- Cotton Club
- Crimes da Paixão
- David Neves
- Diane Lane
- Duke Ellington
- EMI/Odeon
- Federico Fellini
- Francis Ford Coppola
- Gente Como A Gente
- Gregory Hines
- Hugo Carvana
- Humberto Mauro
- Inimigo Meu
- Jean Luc Godard
- João Aracheski
- John Barry
- John Huston
- John Schelesinger
- Júlio Bressane
- Ken Russel
- Lúcio Cardoso
- Madre Joana dos Anjos
- Mário Puzo
- Memórias de Helena
- Milton Gonçalves
- Nelson Dantas
- Nicolas Cage
- No Groff
- No Plaza
- Norma Benguel
- O Anjo Nasceu
- O Fio da Suspeita
- O Sol da Meia Noite
- Os Demônios
- Pat Matheny
- Paulo Cesar Sarraceni
- Richard Benjamin
- Richard Gere
- Salve-se Quem Puder
- Sean Penn
- Tetê Medina
- Timothy Hutton
- Tom Holland
- Toque de Recolher
- UM DIA A CASA CAI
- William Kennedy
- Wolfgang Petersen
- XV
Enviar novo comentário