Cresce no Brasil o mercado de trilhas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de maio de 1988
Até que ponto a música do cinema resiste sem a força das imagens? Eis uma questão ampla e que para ser convenientemente desenvolvida exige longos ensaios, mesmo livros - aliás, raros internacionalmente, inexistentes em língua portuguesa. Um fato, entretanto, é certo: a sound track tem um público fidelíssimo, que neste primeiro semestre cresceu aproximadamente 12% em relação ao ano passado.
Para isto, a maior contribuição foi da SBK Songs, empresa que comprou os direitos para distribuir no Brasil o catálogo de uma gravadora independente especializada em trilhas, a norte-americana Varesé Sarabande, sediada na Califórnia e que edita aproximadamente 200 discos por ano.
Antonio Carlos Duncan, executivo da SBK, tem as trilhas sonoras como centro e sua etiqueta, mas nem por isto despreza outras produções - tendo, por exemplo, lançado "Oscar!", um álbum-solo de Oscar Castro Neves, 48 anos, há mais de 20 nos EUA - seguramente um dos dez melhores discos do ano. Aberto também à edição de trilhas de filmes brasileiros - "basta que haja interesse dos produtores, que tenham direitos legalizados sobre a comercialização das mesmas", explica, Duncan que lançou há algumas semanas o segundo pacote da SBK, com trilhas que vão desde nomes conhecidos - como Maurice Jarre ("Inimigo Meu") até o grupo Tangerine Dream ("Quando Chega a Escuridão"), num total de oito álbuns e dez filmes - já que dois álbuns foram divididos entre trabalhos de compositores diferentes para realizações de um mesmo cineasta.
A entrada no mercado da SBK provocou uma reação de outras gravadoras, que dispondo de ótimos acervos são tímidos em suas edições. Por exemplo, a antiga RCA, agora BMG-Ariola, de uma só vez trouxe quatro esplêndidos lançamentos: "Entrevista" (Intervista), com música de Nicola Piovani, sobre temas do maestro Nino Rota (1911-1979), para o novo filme de Fellini; a trilha de "O Último Imperador", que valeu ao japonês Ryuichi Sakamoto, ao chinês Cong Su e ao americano David Byrne o Oscar; além das trilhas de "Walker", um western-político, irreverente, de Alex Cox (Sid & Nancy) com música de Joe Strummer (ex-The Clash) e "Theer", e Frank Deasy e Joe Lee - filme ainda inédito no Brasil - com música de Declan Macmanus e grupos como o U2.
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