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Aramis

Até os 3 Patetas no mercado das ilusões

Foi um supermercado de imagens. Tal como um Jumbo, Mercadorama ou Parati, no I Vídeo Trade Show (Anhembi, São Paulo, 4 a 9 de março) nos stands se oferecia apenas mercadoria. Só que ao invés dos comestíveis, objetos de limpeza ou bebidas, caixinhas com imagens coloridas que um dia foi considerado arte. Arte e cultura - duas palavras que, em absoluto, constam do VOCABULÁRIO dos executivos -, que trabalham no mercado de vídeo. No Brasil, engatinhando, nos Estados Unidos, por exemplo, consolidado, o vídeo é o suprasumo do comercialismo cinematográfico. O importante é o resultado final - ou seja, o retorno do capital investido -, que deve ser o mais rapidamente possível. Assim, para os que cresceram amando o cinema - com toda sua magia e mitologia do star system -, uma feira como a que foi realizada em São Paulo é a destruição de sonhos do passado. Assim como uma visita a Hollywood, no Chinese Theatre das premières iluminadas dos anos 30 a 50, hoje é nostalgia frustrante - num dos bairros mais sujos e perigosos (ladrões, proxenetas, prostitutas) de Los Angeles, também ver uma "Vídeo Trade" com olhos de cinemaníaco é perigoso para a sensibilidade. O vídeo é um negócio como outro qualquer - só que usando como matéria-prima, muitas vezes, imagens da ilusão, do passado e que foi até a sétima arte. Os imensos stands de multinacionais como a Warner e CIC, com atrações para o público, fazendo com que milhares de pessoas ali se deslumbrassem com cenários lembrando filmes como "Guerra nas Estrelas" ou "Os Intocáveis" - as menores locadoras, comercializando títulos de quarta ou quinta categoria ou pornoproduções, de sexo explícito - que até há poucos anos eram proibidas e apreendidas pelos discípulos de Elliott Ness dos "federais" tupiniquins - no mercado de vídeo há uma geléia geral. E o Vídeo Trade Show, um evento empresarialmente dos mais bem sucedidos, não poderia ser melhor caldeirão para reunir ingredientes desta geléia de imagens. Na ânsia de conquistar um mercado amplo - afinal, calculam os especialistas que, em breve, existirão 10 milhões de aparelhos videocassetes no Brasil, o que significa uma demanda de mais de 100 milhões de fitas legalizadas e milhares de títulos - os que se lançam no mercado fazem, ainda, às cegas. Se as chamadas majors - as multinacionais americanas como a CIC (Paramount, Universal), Warner - também a Columbia (chegando agora, mas que não esteve neste I Vídeo Trade), sabem selecionar os títulos de maior apelo popular, as distribuidoras menores compram direitos de filmes absolutamente descartáveis, que nem em termos artísticos, nem em termos comerciais, conseguem a menor rotatividade. Ou seja, constituem encalhes gigantescos. Com isto, surge uma nova profissão no mercado - a de consultoria de compras, em Curitiba, já com dois cinemaníacos, que deixaram outras atividades para, cobrando em OTNs, assessorarem donos de locadoras, ignorantes em termos cinematográficos e que não sabem escolher os títulos. Aníbal Marques, 35 anos, ex-funcionário da Copel, assessora hoje os dois maiores empresários da área. Já o engenheiro florestal Roberto Belotti, 40 anos, deixou um bem remunerado emprego na Banestado Reflorestadora, para "aconselhar" donos de 17 locadoras da cidade (e uma do Interior), do que "devem" adquirir. Dois, entre, novos profissionais que entram num mercado absolutamente comercializado, no qual um filme de Eiseinstein - como "Encouraçado Potenkim", clássico da cinematografia - vale bem menos do que uma bobagem como "Nesse Barco Eu Não Embarco" ou no violento "Sanguinários e Corruptos", exemplos de péssimos títulos que uma inexpressiva distribuidora (Poderosa) coloca no mercado - dentro desta desinformação generalizada. O mercado é tão promissor que um dos mais populares nomes da televisão brasileira, Goulart de Andrade foi o único produtor independente a montar um amplo stand na Vídeo Trade Show oferecendo dezenas de títulos de suas mais audaciosas reportagens - vistas na SBT/TV Iguaçu/TV Naipi. No outro lado, um dos must de vendas no stand da distribuidora Internacional de Vídeo era um esquecido filme com 8 histórias reunindo "Os 3 patetas". Quem diria, que eles teriam, no Brasil, o tripresidente Ulisses Guimarães, como o melhor garoto-propaganda para ressurgirem nos vídeos domésticos?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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09/03/1988

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