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Aramis

Bons filmes, afinal, em exibição na cidade

Afinal, nem tudo está perdido! Parece que Chico ALves resolveu sair da inércia e retomar o comando da programação das salas da Fucucu, evitando que a incompetência continue a levar o setor para o brejo. Prova disso é que conseguiu - não se sabe onde - uma cópia de um clássico dos anos 50, "Lola Montes", de Max Ophus que está sendo exibida neste fim-de-semana na Cinemateca. Mas novamente é de se indagar: por que castigar (e afastar) um público que poderia ser mais numeroso se este clássico fosse exibido numa sala confortável como o Luz - que, está reprisando "Para Viver Um Grande Amor?" O Chico Alves parece gostar de ver o público interessado em cinema sofrer com as péssimas acomodações da Cinemateca, cadeiras de madeira, banheiros sujos, pias quebradas - enfim, tudo aquilo para afastar quem tenha um pouco mais de exigência. No Ritz, há afinal, uma estréia: "Mona Lisa", de Neil Jordan, cult-movie que chega a Curitiba com atraso de mais de um ano, perdendo assim a força promocional que ganhou quando de seu lançamento no eixo Rio-São Paulo. Filme na linha noir, com o excelente ator Bob Hoskin e o veterrano Michael Caine ( os demais intérpretes são praticamente desconhecidos: Cathy Tysson, Clarke Peters, Kate Hardie), "Mona Lisa" teve idicações ao Oscar, ganhou destaques em festividades e, sobretudo, elogios da imprensa. Espera-se apenas que não haja pressa da Sra. Jussara Valentina, diretora financeira da Fucucu, em querer rendas [numa] semana em exibição. É daqueles filmes de arte, de qualidade, no qual a melhor propaganda é a boca-a-boca e que poderá permanecer semanas em cartaz, desde que a ganância oficial não exija resultados imediatos. No Luz é reprisado uma das maiores frustrações do cinema nacional: a péssima adaptação para o cinema do musical "Pobre Menina Rica", que Miguel Faria Júnior chamou de "Para Viver Um Grande Amor" (título de um dos mais românticos livros de poesias de Vinícius de Moraes). Comédia musical escrita por Vinícius e Carlos Lyra em 1961 - e para a qual nasceram algumas das mais belas parcerias da dupla ( "Primavera", por exemplo), "Pobre Menina Rica" teve em sua primeira montagem, como pocket show com Narinha Leão e o próprio Carlinhos - enquanto Ary Toledo fazia um papel secundário e cantava "Pau de Arara" (que se identificaria tanto a sua pessoa, que incorporou a música, popularmente conhecida como "o comedor de giletes", a ponto de a maioria atribuir a ele a sua autoria. Vinícius, por várias vezes, nos confessava seu sonho de tentar a direção (ele sempre foi um cinéfilo, crítico em sua juventude, roteirista de vários filmes) para levar "Pobre Menina Rica" a tela, o que só não fazia - nos dizia, "porque é muito cansativo" dirigir um filme. Infelizmente, um tema tão bonito, ótimas músicas, foi massacrado no roteiro em que até Chico Buarque esteve envolvido. Djavan fez sua estréia (e até hoje única experiência cinematográfica) interpretando o mendigo-poeta, enquanto como a pobre menina rica era lançada Patrícia Pillar, que faria carreira em telenovelas. A trilha sonora ganhou novas músicas e foi, na época, editada pela CBS (é possível encontrá-la em balcões de ofertas). Sob Suspeita Depois que Cher ganhou o Oscar de melhor atriz-88 por "Feitiço da Lua", cresceu o interesse por "Sob Suspeita", um thriller ambientado nos meios judiciários que havia feito também no ano passado. A direção é do competente Peter Yates ("Bullit", "John & Mary") e no elenco estão Dennis Quaid, Liam Neeson, John Mahoney e Joe Mantegna. A trilha sonora merece especial atenção: foi criada por Michael Kamen e gravada com a The National Philharmonic Orquestra (no Brasil, a SBK/ Varésse Saraband a editou há dois meses). Em exibição no Bristol, um filme de verificação obrigatória. "Ursinhos Carinhosos", o filme infantil que o "assessor" da Fucucu recusou-se a exibir, alegando que era "lixo", pelo visto está agradando: continua nas sessões vespertinas do Cinema I. À noite, ali estreou "Quicksilver - O Prazer de Ganhar", de Tom Donnelly, filme com elenco jovem e tema interessante - um yuppie na busca de sua realização profissional, prefere a liberdade do que a canalhice de Wall Street. Atraente trilha sonora de Giorgio Moroder e Dean Pitchford. A música tema, "Quick Silver Lightning" é interpretada por Roger Daltrey. No elenco, Jami Gertz, Paul Rodrigues e Kevin Bacon - todos new faces em busca de seu espaço. Outra estréia que pode justificar uma verificação, havendo tempo é "O Vingador" (Murphys Law), credenciado pelo nome do diretor, o inglês J.Lee Thompson (em exibição no Palace Itália). No elenco, Charles Bronson e Corrie Snodgress. No Groff, estreou um documentário sobre o I Free Jazz Festival - "Música Para Sempre", direção de Neville de Almeida. Sem maiores detalhes, pois como sempre, a Fucucu não se dá o mínimo trabalho de enviar material informativo sobre os filmes que exibe. Excluindo os filmes que continuam em exibição, há as sessões em horários especiais. No Groff, amanhã e meia noite e domingo às 10:30 horas, "A Inglesa Romântica" (The Romantic English Woman, 75) de Joseph Losey (1909-1984), com Glenda Jackson e Helmut Berger - que merecia melhor relançamento. No Astor, enquanto "Xuxa Contra o Baixo Astral" continua nas sessões da tarde e a noite volta o curioso "Os Garotos Perdidos", espécie de vampirismo embalado com rock e adolescentes, direção de Joel Schummacher. No Lido II, volta - sem maior justificativa - "Agüenta, Coração!", que Reginaldo Farias dirigiu e interpretou em 1983. Às vésperas de ter seu laudo de censura vencido (dia 30/9/88), a CIC decidiu reprisá-lo. Será que para aproveitar a presença de Farias como o antipático Marco Aurélio na telenovela "Vale Tudo"? LEGENDA FOTO - "Quicksilver - O Prazer de Ganhar": um filme jovem em exibição no Cinema I. Só nas sessões noturnas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
29/07/1988

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