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Aramis

Burnier & Cartier, uma nova dupla

Entre o que o público classificou de "injustiças" do "Abertura" (festival da nova música brasileira, Rede Globo de Televisão) esteve a desclassificação de "Ficaram Nus", da dupla Luiz Octávio Burnier e Cláudio B. Cartier. Com uma música inspirada, letra bem irônica ("Foram pra São Paulo fazer dinheiro/Vida tão cara ficaram nus", em sua estrofe inicial), esta dupla de compositores-intérpretes mostraram nacionalmente um talento que já havia entusiasmado a Osmar Zandomenigui, da RCA Victor, que no final do ano passado investiu num elepê caprichado, apresentando-os fonograficamente (Victor, 103.109). Luiz Octávio Bonfá Bournier é universitário, tendo gravado a sua primeira música em parceria com Ivan Lins. Compôs o tema de "Baby Liberato" para a novela "O Homem Que Deve Morrer" e atualmente estuda música na Espanha, no Conservatório de Barcelona. Já Cartier fez publicidade, cinema, teatro, escultura, caricatura, comunicação e música. Cursa orquestração em Berkeley. Desconhecemos se Burnier & Carnier abandonaram seus cursos no Exterior para se dedicarem profissionalmente à música, mas pela amostra deste elepê de [estréia] não há dúvida que ambos têm condições para entrar na selva da MPB. Burnier, que têm Bonfá em seu sobrenome, teve uma boa ajuda do ilustre parente, seu parceiro em "Lejos De Mi" (faixa 3 do lado A). E de Luiz Bonfá, a dupla gravou "Aventura Espacial", uma das novas composições do excelente violonista-compositor, há anos radicado nos Estados Unidos. Apesar das boas músicas apresentadas, cuidados de produção - diferentes arranjadores para cada uma das faixas, participação de músicos do nível de Bebeto (flautista do Tamba Trio), Chico Batera, Paulo Moura (bonita intervenção em "Lejos de Mi"), o disco é morno, cinzento - sem a grandeza que poderia ter. Mas nem por isto é inexpressivo em termos artísticos, mostrando, como dissemos as potencialidades de uma nova dupla. De Burnier e Cartier, são as faixas "Só Tem Lugar Pra Você", "Parte Capital" e "Marcante". Apenas de Octávio Burnier são "Lembrando Ed Kleger" (arranjo de Hugo Bellard, Mamão na bateria; participação especial de Márcio Montarroys no fluegehom) e "Deixa Mudar". De Cláudio Cartier é "Aldeia Global", onde no setor de percussão estão nada menos que Chico Batera. Chacal e o extraordinário Helcio Milito, do Tamba Trio. De Octávio Burnier são ainda duas faixas do lado B: "Mirandolina" (nova participação de Bebeto no baixo elétrico e Milito na percussão, além do arranjo vocal de Raymundo Bittencourt) e "Europanema" (desta vez é Edson Machado que tem participação especial na bateria). Burnier ainda tem dois outros parceiros: Ivan Wrigg em "Ai É Que Tá" (com regência de Darcy de Paula) e Gustavo Struckn ("Barranco" , com Novelli no baixo acústico e participação especial de Rildo Hora na gaita de boca). O fato de reunir tantos cobras nas diferentes faixas, já dá uma idéia do prestígio que Cartier e Burnier adquiriram junto aos músicos de melhor nível da Guanabara. Ambos executam violão em todas as faixas, tendo ainda Cartier tocado também craviola. Nos vocais há participação de Sonia Burnier, Jaime Luiz, Alberto Arantes e Roberto Quartim, este um produtor fonográfico do maior bom gosto, responsável pelo lançamento da etiqueta "Forma", em 1965, adquirida posteriormente pela Philips - e pela qual saíram elepês de Luís Carlos Vinhas, Eumir Deodato, Quarteto Em Cy, Baden/Vinícius etc. Ouçam Burnier & Cartier com toda atenção que eles merecem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
14
27/02/1975

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