Walker, um talento
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de agosto de 1975
Quando um certo pessimismo pelos caminhos da música popular brasileira, tão ameaçada pela supérflua música pop, pelas multinacionais do mau gosto sonoro, ouve-se um dos mil novos talentos que existem nas mais diversas partes, as esperanças renascem. Um exemplo é Carlos Walker, garoto ainda, que após um compacto simples, gravado no ano passado e que não mereceu séquer, uma divulgação, teve editado há dois meses um disco sério, mascante, merecedor da atenção máxima: "A Frauta de Pá" (FRAUTA, com "R" mesmo) (RCA Victor 103.0138, junho/75).
Mesmo desconhecendo-se maiores informações a respeito de Walter - quem seja, suas influências, sente-se a seriedade do seu trabalho, suas propostas, ouvindo-se qualquer uma das faixas deste elepe, dedicado "a memória de Cassiano Ricardo e Cecilia Meireles", dois dos maiores poetas da língua portuguesa. E respeito que o trabalho de Walter angariou dos compositores mais expressivos, é consolidado na presença João Bosco ao violão, acompanhando "O Cavalheiro e os Moinhos" (Bosco/Aldir Blanc), uma das músicas do ano , cujo lançamento foi permitido justamente para Walter, que teve ainda a participação especial de Pirynos arranjos base violão, e a ajuda vocal de Roberto Quartin (como produtor , da Forma, presença marcante nos anos 60), Sonia Burnier, Burnier (sobrinho de Luis Bonfá que já fez um interessante elepe, em parceria com Quartier), Alberto Arantes, Vânia Ferreira ,Raymundo Bittencourt e Angela Viana , Eduardo Souto Neto e Geraldo Eduardo Carneiro (letrista de Egberto Gismonti, o que já dizia muito ) também deram uma música inédita a Walker (Debaixo do Sol ), enquanto Bosco/Blanc, além de "O Cavalheiro e os Moinhos", lhe garantiram outra nova composição: "A Serenata do Meio Dia". Mas, o próprio Walker, como compositor é uma revelação das mais agradáveis :"A Frauta" de "Pã" que dá o título ao disco e abre o lado A, é uma música de grande densidade, a qual o maestro Alberto Arantes deu um arranjo de grande beleza, quase como uma pastoral medieval - dentro do próprio clima proposto por Walker ;"A Estrada da Intemperança", "Pote de Mel", "Via Láctea", "Cidade Americana " (em parceria com Piry ) , "Modinha" (sobre uma poesia de Cecília Meirelles) e "Alfazema" são as músicas de Walker - todas de ótimo nível. Uma homenagem pessoal, por certo , é a inclusão de "Um Dia" , para o qual o notável maestro Radamés Gnatalli criou um bonito arranjo .Laércio de Freitas , demonstrando que não é apenas autor de "Capim Gordura" , mas sim um arranjador de méritos, cuidou dos arranjos de "Alfazema", "Pote de Mel" e "Serenata do Meio Dia ".- Um disco importante e que faz o nome Walker ficar anotado como a revelação do ano . E podem apostar no garoto que ele vai corresponder as expectativas.
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