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Aramis

Chumbo grosso na briga de nossos cineclubistas

É tão indigente a produção editorial no Paraná voltada à área cultural, que uma modesta publicação lançada pela Federação Paranaense de Cineclubes, dirigida pelo jovem José Gil de Almeida, transforma-se já no segundo número numa espécie de jornal de resistência, fazendo jus ao nome: "Opção Cultural". Abrindo seu espaço a textos não apenas cinematográficos, o simpático jornal editado por Gil de Almeida, que é assessor parlamentar da deputada Amélia Almeida Huschke, sua tia, dedica toda uma página para denunciar mais uma atitude comprobatória da incompetência da Secretaria da Cultura e de como esta infeliz pasta consegue, cada vez mais, se atritar com todos os setores da inteligência e arte no Paraná. xxx Para participar da 19ª Jornada Nacional de Cineclubes, realizada em Ouro Preto, os cineclubistas solicitaram a cessão de um ônibus para levar os jovens até aquela cidade mineira. O que aconteceu está relatado na página 2 de "Opção Cultural", circulando agora não só no Paraná mas em outros Estados: "1º) O secretário de Cultura do Paraná nem se dignou a responder a solicitação de ônibus dos cineclubistas do Paraná; 2º) O secretário de Cultura do Paraná, Fernando Eugênio Ghignone - conhecido como "o ditador da cultura paranaense" - depois desse episódio e das perseguições políticas que promoveu no Teatro Guaíra, vai se desincompatibilizar do cargo que ocupa para disputar eleição no próximo ano. Será candidato o vereador pela Vila do Sapo". Ao lado desta notícia, o jornal dos Cineclubistas, a título de comparação, transcreve o ofício que o sr. Claudio Tucci, chefe de gabinete da Secretaria do Estado de Cultura de São Paulo enviou em 20 de agosto de 1985 ao sr. Diogo Gomes dos Santos, presidente do Conselho Nacional de Cineclubes: "Tenho a grata satisfação e comunicar-lhe, em nome do senhor secretário, que esta Pasta, atendendo solicitação de Vossa Senhoria, alugou dois ônibus para o transporte de cineclubistas deste Estado, que participarão da 19ª Jornada Nacional de Cineclubes em Ouro Preto". xxx Realmente, em duas atitudes, reflexos de comportamentos diferentes em relação ao tratamento com quem se preocupa em fazer um trabalho idealístico e honesto em favor da cultura. No Paraná, os cineclubistas são tratados a pedradas pela infeliz Secretaria da Cultura e Esportes (sic, sic). Em São Paulo, acontece o oposto. xxx Mas os cineclubistas do Paraná, através de sua Federação, não denunciam somente as atitudes do secretário da Cultura. Com o título "Movimento cineclubista: roupa suja não se lava em casa", Paulo Granero, José Gil de Almeida e Edson Vulcanis, esclarecem também a posição da entidade em relação à interferência da Federação Paulista de Cineclubes, que, por ocasião da 19ª Jornada Nacional, pretendeu censurar o símbolo anarquista que os paranaenses adotaram em suas publicações; a resposta dos rapazes paranaenses é com chumbo grosso: acusam a Federação Paulista de Cineclubes de irregularidades - como emissão de cheques frios e filiação de cineclubes de outros Estados em seus quadros de associados etc. Frizando que "não estamos na Albânia nem no leste europeu; estamos no Brasil da "New Republic", Granero, Almeida e Vulcanis repudiam a pretendida interferência dos cineclubistas paulistas, decidem manter o símbolo anarquista em suas publicações e terminam com uma declaração - refletindo coragem e independência. "A Federação Paranaense não aceita restrições às suas atividades e decisões, de nenhuma espécie: vai utilizar o símbolo que desejar, nas publicações e nos momentos que desejar, respeitando a decisão dos cineclubes do Paraná, e por entender que a liberdade é a única fonte criativa. Não escondemos e assumimos nossas convicções. Aqueles que escondem suas convicções ideológicas não podem servir de exemplo, nem ditar normas, por menores que sejam. - A propriedade alheia é um roubo. - O que pinta de novo, pinta na Federação Paranaense. - Nós também acreditamos em Deus. - Nós também acreditamos no diabo (por exigência da dissidência). - Nós também somos ateus. - A liberdade dos outros vai até onde não interferir com nosso símbolo. Encerramos aqui nossas transmissões e f... Saudações libertárias. Federação Paranaense de Cineclubes. Assinado: Paulo Granero, José Gil de Almeida e Edson Vulcanis".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
18
16/01/1986

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