Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de março de 1974
Poucos filmes oferecem aos espectadores mais lúcidos tantos enfoques para analisar quanto "Na Mira da Morte" (Cine Lido), primeiro longa-metragem de Peter Bogdanovich. De qualquer prisma que se queira analisar este trabalho realizado há sete anos, os resultados são fascinantes. Desde a crítica a própria estrutura de produção - foi Roger Corman, realizador de uma série de filmes de terror, a maior parte inspirada em obras de Edgard Alan Poe (1809-1849) que produziu "Torgets". Embora a ficha técnica atribua a Bogdanovich a produção-direção e as referências ao produtor Marshall Smith (Monty Landis) são das mais ácidas, "por sua série de filmes de terror"- até a atualidade do tema-2 do filme - a explosão de violência do jovem Bobby Thompson (Tim O`Kelly-foto), obsecado desde a infância pelo culto às armas - tudo faz de "Na Mira da Morte" o exemplo de filme que chega ao grande público, como um bom entretertimento ao mesmo tempo que oferece aos analistas, motivo para longas apreciações. E não é que se queria encontrar "coisas" neste filme de estréia de Bogdanovich, pois ele próprio - interpretando o diretor Sammy Michaels - aferece muitos dados claros, abre o jogo com o público, principalmente ao dizer, de porre, assistindo a uma sequência de "The Criminal Code (1931, de Howard Hawks) na televisão, no apartamento do velho ator Byron Orlok (Boris Karlof-1887-1969), que "todos os bons filmes já foram feitos". E, criticando o cinema, mostrando a realidade como mais assustadora do que os velhos monstros - como os criados durante toda a longa carreira do ator-personagem Orlok-Karloff - Bogdanovich já antecipava neste filme toda sua curtição ao cinema. Pois esta última sessão de horror - seria seguida do melancólico "A Ultima Sessão do Cinema" (The Last Pictures Show). 1971, e aos dois revivais": Esta Pequena é Uma Parada" (What`s Up Doc!, 1972) - inspirada em "Levada à Breca", também de Hawks - e o recentíssimo "lua de Papel" (Paper Moon, 1973), com muitas semelhanças a "Dada em Penhor" - outro clássico da comédia americana dos anos 30. Interrompendo no ano passado sua curtição ao "cinema americano dos melhores anos", ao se deslocar a Roma para filmar "Dayse Miller", inspirado num conto de Henry James (1843-1916). Bogdanovich já anunciou seu próximo projeto: um filme sobre a vida de Cole Porter (1892-1924), autor das mais belas músicas da Broadway durante três décadas e que embora já tenha merecido uma cinebiografia ("Night and Day", 1946 de Michael Curtiz (1888-1962), sem dúvida oferece material apropriado para a sensibilidade nostálgica de Bogdanovich. É se falando no cineasta, se afasta so menos neste registro, deste "Targets". Mas é que no seu caso, diretor-filme se integram num bloco único, o cinema dentro do cinema a realidade (exterior) influindo na ficção (interior), em que o modesto operador do cine drive-in adquire uma presença tão real - e ao mesmo tempo tão plasticamente cinematografica - como o astro Byron Orlok ou o "bandido" Bobby Thompson (Tim O`celley-foto) reduzido na verdade à condição de um desajustado de uma sociedade da violência, onde os velhos atores - e os monstros de um passado não tão distante - não tem mais lugar. Ver "Na Mira da Morte" é obrigação de todos que, ao menos uma vez na vida já amaram o cinema!
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