Das flechadas, aos possessos até Godard
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de junho de 1991
Do sexagenário vanguardista Jean Luc Godard ("Nouvelle Vague") a uma refilmagem de uma das mais famosas histórias de arco e flecha que pelo prestígio de seu ator - Kevin "Dança com Lobos" Kostner - está transformando-se no novo boom das bilheterias ("Robin Hood, o Príncipe dos ladrões"), a semana promete, fazendo um inédito Wajda ( "Os Possessos"), uma circense produção de Jean-Jacque Beineix ("Roselyne e os Leões") e , para a garotada que entra em férias, "As Tartarugas Ninja II - O Segredo do Onze", em versão original (Astor) e dublada (Cinema ), e "Os Trapalhões e a Árvore da Juventude"(Plaza, Lido II). Sem contar que os campeões de bilheteria permanecem: "Dança com Lobos" tem a sua última semana no Itália e "Ghost" e "O silêncio dos Inocentes", que passa agora a ser exibido somente às 22 horas no Plaza.
FLECHADAS CERTEIRAS
A saga do simpático arqueiro da floresta de Sherwood, que o escocês Sir Walter Scott escreveu há 200 anos e que teve inúmeras versões cinematográficas, ganha uma nova visão: Cine Bristol, estréia nacionalmente com o prestígio e Kevin Kostner. Grato ao amigo Kevin Reynolds, que havia lhe dado uma chance em tempos magros no seu "Fandango" (inédito nas telas, disponível em vídeo) e o ajudou a dirigir "Dancing with Wolves", Kostner aceitou interpretar o lendário personagem para uma produção sofisticada, que trazendo o (excelente) ator negro Morgan Freeman (o motorista de "Conduzindo Miss Daisy" e o juiz negro de "Fogueira das Vaidades") e Christian Slater estreou há apenas um mês nos Estados Unidos quebrando recordes de bilheteria.
A imagem que a geração dos anos 40/50 guarda de Robin Hood é do atlético Errol Flynn, na versão que o húngaro-americano Michael Curtiz (1888-1962) realizou em 1938 - e que, constantemente, tem sido reprisada na televisão (além de disponível em cópia selada da Warner Classics). Interessante, portanto, comparar agora as duas versões de como um personagem de conotações sociais - ao lado dos humildes, roubando dos ricos para evitar que o povo morresse de fome - foi revisto 53 anos após a filmagem de Curtiz.
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JEAN LUC GODARD
Aos 61 anos, ainda com a imagem de enfante terrible que das páginas da "Cahiers du cinema" explodiria como o mais incendiário francês no início dos anos 60, continua, 30 anos depois, provocador, hermético, intelectualmente pretensioso e curtido por um público especial. Este "Nouvelle Vague", produção de 1939, que estreou em Paris a 23 de maio de 1990, é mais um puzzle de imagens simbólicas, desafios cerebrais, ironias e, principalmente, muita verborragia - que aos que não forem extremamente ligados às propostas de Godard sairão da sala (cine Luz) irritados. A história é tão confusa que ao preparar a sinopse para o lançamento do filme no Brasil, Rose de Carvalho, da Distribuidora Belas Artes, optou simplesmente pela tradução de um texto poético (*).
Já disponível em vídeo, "Os Pssessos"(no cine Groff), do polonês Andrzej Wajda, rodado há quatro anos (estreou em Paris em 24 de fevereiro de 1988), tem sua ação numa vila russa em 1870, cm muitos conflitos sociais, políticos, religiosos e sexuais - bem ao gosto do trágico Fedor Dostoieveski, em que Jean Claude Carrière baseou seu roteiro. Fotografia caprichada de Witold Adamek, trilha sonora d e Zygunt Koniczny que utiliza a "Liturgie de Saint Jeab Chrytome, Opus 41" de Piotr Tchaikovsky e um elenco misturando intérpretes poloneses com Lambert Wilson, Isabelle Huppert, Omar Shariff, Bernard Blier entre outros.
NOTA:
(*)
Nouvelle Vague
Em um primeiro tempo - O
Antigo Testamento
um ser humano
(um homem)
é salvo da queda
por outro ser humano
(uma mulher)
(a mesma)
é salva da queda
por outro homem
(um outro homem)
Mas a mulher descobre que o
outro homem é também o
primeiro, que o segundo é
(agora e sempre) também o
primeiro
e portanto uma revelação.
E se o homem disse o mistério,
a mulher revelou o segredo.
Observação: Inútil querer uma lógica tradicional nos roteiros de Godard; são filmes abertos às mais diferentes interpretações. O texto-poema acima foi por ele elaborado como "sinopse" de "Nouvelle Vague", o filme em que os personagens não têm nomes ("ele", Alain Delon; "ela" Domiziana Giordano, depois apenas pelas profissões), mas esbanja em diálogos e imagens inesperadas. Em exibição no Luz, 5 sessões.
LEGENDA FOTO: Kevin Kostner é Robin Hood: censura livre, em cartaz no Bristol.
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