Espaços alternativos para nossos autores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de janeiro de 1982
Hoje à noite um grupo de escritores, poetas, jornalistas e intelectuais terá uma reunião muito importante para todos aqueles que se interessam por nossa vida cultural. Numa iniciativa do publicitário e escritor Jamil Snege, haverá um encontro para a criação de uma associação de escritores do Paraná. Não se trata de fundar mais uma entidade lírica, de preocupações meramente no plano intelectual – como tantas outras que ao longo dos anos têm se criado no Paraná. Homem prático, conhecendo as regras do mercado. Jamil quer reunir escritores- sem patrulhamentos estéticos- ideológicos, para que haja soluções de problemas comuns e que em seu entender, asfixiam e castram a atividade criativa de muitos e inibem a nossa maior presença na literatura.
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A maior dificuldade enfrentada pelos escritores locais é a venda de seus livros. Com duas exceções (Livraria Curitiba ou Nova Ordem), são raros os locais onde as obras de nossos autores são bem expostas e merecem um tratamento comercial idêntico ao dado aos best sellers lançados por grandes editoras a maioria de valor discutível. Há algumas semanas, um grupo de autores paranaenses reunidos na Livraria Curitiba, que em sua nova filial no térreo do edifício Marumbi chegou a destinar uma vitrina especialmente para os autores locais, discutiu a necessidade de se fazer uma feira do autor paranaense. Uma idéia voa e que entusiasmou a muitos – mas que no entender de Jamil deve ter uma reciclagem: ao invés de uma feira temporária, por que não conseguir um espaço fixo, na Rua das Flores – onde se venda livros e outras publicações de autores paranaenses ou aqui radicados?
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Publicitário da maior criatividade, premiado dezenas de vezes e o grande responsável pelo sucesso que a Opus alcançou nos últimos meses (agora deixou aquela agência, para estabelecer a sua consultoria autônoma), Jamil acredita que só o fluxo de turistas na Rua XV de Novembro constitui um público em potencial para o sucesso de um ponto permanente de venda de obras de nossos autores. Estruturada em forma de associação, com os justos estímulos (isenção de impostos, financiamento para a implantação física etc.), a banca (ou tenda) do autor paranaense tem condições de se tornar auto-suficiente, inclusive remunerando um profissional que venha administrá-la. Ao invés do livreiro tomar uma percentagem altíssima, parte da venda recerterá para um fundo comum destinado a cobrir despesas promocionais e administrativas.
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Muitas tentativas de valorização editorial vem sendo feitas no Paraná nos últimos anos. O secretário Luis Roberto Soares, da Cultura e Esportes, dono de uma das maiores bibliotecas do Estado e regular freqüentador das livrarias, tem amargas queixas da falta de um melhor esquema de comercialização dos livros, lamentando a ausência de postos de revenda em dezenas de municípios. Há alguns meses, partindo de um idéia desenvolvida com seu amigo Sérgio Mercer, presidente da Fundação Cultural, Luis Roberto chegou a propor ao professor Jucundino Furatado, presidentes do Banestado, um esquema em cada agência do banco oficial do Paraná se torne um ponto alternativo de vendas – a exemplo do convênio que a Universidade de Brasília fez com o Bradesco para que suas publicações cheguem a todo País. Infelizmente, até agora esta boa idéia de Mercer e Soares ainda não venceu a burocracia oficial – embora tenha entusiasmado Jucundino, homem sempre aberto às propostas culturais.
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Em março, a Fundação Cultural de Curitiba quer inaugurar a sua livraria Dario Vellloso, destinada a comercializar basicamente a produção cultural alternativa ou independente que não se encontra nas grandes livrarias. Obras lançadas por autores independentes ou mesmo publicadas por editoras ligadas a universidades, fundações e secretárias, que raramente circulam fora de seus Estados, estarão na nova livraria, a preços razoáveis e com um atendimento personalizado, a cargo de pessoas de bom preparo intelectual. A livraria não venderá apenas textos, mas também discos, fitas posters e outros produtos culturais – desde que não sejam produzidos por empresas que visam apenas o lucro.
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A distribuição é o calcanhar-de-aquiles de todos que tentam fazer uma produção cultural alternativa. Infelizmente tanto as livrarias como as lojas de discos só aceitam o que as grandes empresas impõem, não ousando em vender produtos de origem independente que assim fica restrita ao eixo Rio-São Paulo. O compositor Heitor Valente, da Acorde Produções, destinou um espaço de suas instalações (Rua Comendador Araújo, 480) para a venda de discos e fitas de autores independentes – onde estarão aqueles lps elogiadíssimos pela imprensa nacional, mas que não se encontram nas lojas. Por exemplo, dos 10 melhores discos instrumentais brasileiros de 1981, levantados no "jazz poll" que José Domingos Raffaelli fez para o "Jornal do Brasil", oito são produções do Som da Gente, etiqueta alternativa criada pelos compositores Walter Santiva criada pelos compositores Walter Santos e Teresa Souza para valorizar a música instrumental: Grupo Medusa, lps dos saxofonistas Hector Costita e Roberto Sion: três excelentes lps de violonistas – Fredera ("Aurora Vermelha"), Alemão ("Longe dos Olhos/ Perto do Coração") e trio D´Alma; pianistas Dick Farney ("Noite") e Nelsinho Ayres ("Matinqueira"). Mesmo discos de compositores ligados ao Paraná – comoo famoso Arrigo Barnabé ou Itamar Assunpção, permanecem praticamente inéditos entre nós, de forma que a possibilidade dos novos pontos é bastante significativa. O jornalista Cear Bpnd, quando em sua experiência de taberneiro no "Bond de bar/ Bond de ler", na Galeria Mild, tentou vender produtos culturais alternativos, mas com o seu afastamento da casa, a idéia meio que esmoreceu.
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Idéias a quem produz cultura não falta. O importante é viabilizar os projetos. A iniciativa de Jamil Snege em reunir os scritores numa associação e criar seu próprio espaço é positiva. Que, desta vez, haja unia e força para que a idéia funcione.
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A propósito: Jamil Snege acaba de lançar um novo livro "As Confissões de Jean Jacques Rousseau", sua primeira experiência em teatro. Com bela capa e programação gráfica de Guinski, see constitui numa obra quando os autores paranaenses tiverem o seu próprio espaço de vendas.
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