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Aramis

Franco segundo Maria

Franco Giglio pintura de instituto? Tem algumas razões para duvidar disso, ao menos pelo que de limitativo no conceito de instinto. Ainda que tenha que admitir que interessou-me este personagem que fica isolado a pintar fora dos circuitos da cultura oficial, que não fez propostas intelectuais nem tão pouco declaração de poeta, que parece viver fora do tempo, conservando uma sua emotiva e apaixonada adesão ao mundo e aos conteúdos da existência, decidido a defendê-la dos ilusionismos verbais da crítica à qual a aparente facilidade poderia deixar perplexa. Não que isto signifique, esteja bem claro, um retorno "metodológico", a beira da "naivete", e ao mito do bom "buon selvaggio tuttosponteneità", nem tão pouco uma atitude ao "imparcial" e desempenhado registro de crônica. A fim de que não se caia nesse equívoco, diria que além de uma interpretação em analógico comparativo (os êxitos formais referentes a uma matriz expressionista de tipo sul-americano, e os longos anos vividos no Brasil), é oportuno procurar desenrolar o fio condutor que liga essa "assemblage" de analogias e de impulsos, de energia ligadas à matéria, de vertigens gráficas e de potencialidades figurativas. "Nunca desenhei com modelos", me diz, e continua: quando desenho sinto passar a vida entre os dedos. Desenho como terapia, evito freqüentar o psicanalista". É autodidata. Começou com mosáico, executou numerosos murais em cerâmica. Possui o entusiasmo e a experiência de manipular o barro para criar fragmentos, para recompô-los no muro em ciclos narrativos que visualizam a atividade humana. A técnica, afirma, significa "possibilidade de controle e disciplina". A vitalidade potencial da matéria e racionalidade; os instintos e os choques das tensões psíquicas deixam emergia a figura do contexto mural transferido para a tela. O desenho vem depois como ato de reflexão mental e ato de contestação, organização de imagens e cancelamento de imagens, afirmação e negação, o conto e o enigma, os elementos do conto, o conto dos elementos,. Vejamos alguns títulos: "E chegou o Verão"; "Depois quebrou o Balanço", "Chega o Tele Jornal". O procedimento operativo é inteiramente invertido no tempo, e nos conteúdos da realidade; não tem dúvida que isto seja um limite à desvantagem de um mínimo rigor lingüístico. Talvez no fim trate-se simplesmente de medo, e então tem que assumir a honestidade implícita no viver em permanente cilada, Pergunto se nesta conflituosidade entrematéria, figura e desenho, esteja de qualquer modo presente a mágia. Me responde: "Sim, mas sempre referente ao cotidiano". Uma medida real para a fantasia e uma medida fantástica para o real.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
26/06/1979

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