Login do usuário

Aramis

Nesta mostra, um pouco mais da arte de Franco

Muito de emoção e amor na mostra de Franco Giglio (Dolceaqua, Liguria-1937 - Desengano del Garda, 1982), que será inaugurada, hoje, ao entardecer, na Marechal Deodoro, 333. São trabalhos executados nos últimos meses de vida de Giglio, quando, ao lado da esposa, Rose, residia em Desenzano del Garda, uma das mais belas regiões da Itália. Com exceção de apenas um trabalho, "Vide de Baudelaire", feito ainda quando morava em sua aldeia natal, Dolce Acqua, na Riviera Del Fiore, os trabalhos expostos, agora, em Curitiba, sensibilizam sua visão plástica de uma última fase de grande produção. xxx Falar em Franco é sempre a emoção de recordar não só o extraordinário artista, mas um dos grandes amigos das artes plásticas. Desde que chegou em Curitiba, em 1959 - com o intuito de apenas passar algumas horas, a caminho de Porto Alegre - Franco soube fazer grandes amigos em vários círculos. Gostou da cidade, curitibanizou-se aprendendo a amar as grandezas e defeitos desta nossa cidade e nunca mais prosseguiu a viagem. Ele que havia chegado da Itália num domingo de carnaval de 1956 e residiu algum tempo no Rio e, depois, em Belo Horizonte e Juiz de Fora, participou de uma fase fundamental nas artes plásticas do Paraná - no momento em que então jovens artistas (Fernando Velloso, João Osório Brzezinski, Calderari, Paulo Gneco, Alcy Xavier, Jair Mendes e outros) propunham uma ruptura com o tradicional. A galeria Cocaco, que Ennio Marques Ferreira, Loio Pérsio e Manoel Furtado, haviam fundado na Rua Ébano Pereira e que se constituía no pioneiro núcleo de comercialização de obras de arte, agrupava uma geração inquieta e criativa, que se dividia entre seus ateliers e saudáveis, memoráveis e principalmente etílicas reuniões pelos gostosos bares das proximidades - Jockey, Trocadero, Guairacá, entre outros endereços que ficaram na memória. Para as artes plásticas do Paraná, Franco trouxe uma contribuição muito especial: a execução de grandes murais em pastilhas de cerâmica, numa técnica que desenvolveu e, embora generosamente nunca dela tenha feito segredo, não encontrou seguidores. Mas a sensibilidade de Franco não ficaria apenas nesta técnica - embora dela tenham ficado grandes registros em murais de edifício como o Anita e o Brasilino Moura, além do paredão do Cemitério Municipal (há tempos necessitando de uma restauração, que o prefeito Maurício Fruet prometeu executar e que até agora não aconteceu). No Tribunal de Justiça há um dos mais belos trabalhos gigantescos de Franco, com razão considerado sua obra-prima por sua viúva, Rose. Em óleos e desenhos, com imagens da distante Itália ou abstrações sobre aquilo que o sensibilizaria em seus muitos anos de Brasil, Franco também produziu belos trabalhos, que foram reunidos pela primeira vez numa mostra na então iniciante galeria do Centro Cultural Brasil Estados Unidos. Revelava-se, então, novas faces do talento de Franco requisitado posteriormente para outras mostras. xxx Na Itália, para onde retornou em 1976, Franco produziu bastante, conseguindo viver de sua arte. A mais importante publicação daquele país, a revista "D'Ars", lhe dedicou justos elogios e num reconhecimento póstumo vai patrocinar uma mostra de seus desenhos, que estão agora sendo catalogados por Rose e que após percorrer as principais cidades italianas, estarão sendo também levados a Nova Iorque em 1986. Após a morte de Franco, já aconteceram duas exposições póstumas - uma em Firenze, na galeria Citifin, em maio de 1982 e outra em Desenzano del Garda, em junho de 1982, inaugurando a Galeria Cívica da cidade. Nos painéis, a partir de hoje, a arte e a saudade de Franco Giglio, pintor e amigo cuja morte deixou menor a mais triste nosso pequeno mundo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
27/03/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br