João & Clementina
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de agosto de 1977
Por cinco vezes, as quase 2 mil pessoas que lotavam o Guairão, terça-feira, ao entardecer, puseram-se em pé para aplaudir Clementina de Jesus e João Bosco, que ali estarão se apresentando ainda hoje e amanhã. Foi emocionante ver o público - principalmente jovens - tributar a Clementina de Jesus, 75 anos, apenas 13 de carreira profissional, o respeito e admiração que merece, como intérprete de raízes tão brasileiras, autêntica, com uma garra e uma fortaleza vocal que a fazem única e definitiva. Se Herminio Bello de Carvalho, descobridor de Clementina e o grande idealizador do Programa Pixinguinha, estivesse no Guaíra, naquela tarde, por certo se emocionaria muito. Pois, numa época em que o supérfluo som pop, atrai tantos jovens, preocupados em "(freqüentar( discotheques "por que lá se ouve música estrangeira" (como declarou o milionário Luiz Alberto Ribas, proprietário da "Flash" e Jacquie O"), é estimulante observar que nem tudo está perdido. O público que tem comparecido ao Guaíra, desde a semana passada - e que por certo ali continuará, nas próximas semanas, enquanto tiver (seqüência( o Projeto Pixinguinha (a partir de segunda-feira, com o clarinetista Abel Ferreira e a cantora Ademilde Fonseca) - mostra que, afinal, começa-se a se tomar a devida consciência de nossa música, preservando os valores mais autênticos e honestos - e não o lixo sonoro que as multinacionais impõe fonograficamente e que uma classe média e superior, em seus devaneios festivos, consome em dispendiosas "discotheques".
O diretor Oswaldo Loureiro concebeu o espetáculo de Clementina e João Bosco com a simplicidade de uma escola de samba. E ao som de "O Mestre Sala dos Mares", os dois, acompanhados pelos 10 músicos que acompanham - Exporta Samba e o grupo de João entram no palco, comunicando alegria à platéia.
LEGENDA FOTO - João Bosco
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