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Aramis

As lições de Brasil, o grande paranaense

Duas décadas após ter se formado pelo curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná, a curitibana Maria Célia Pinheiro Machado Paoli acaba de concluir o mais alto crédito de sua carreira universitária: retornou há uma semana de Londres, após fazer a defesa de sua dissertação de doutorado "Labor, Law and the State in Brasil - 1930/1950", apresentada na Birkek College University. Seu orientador foi um dos mais eminentes historiadores ingleses, Eric J. Hobsbawn, reconhecido em todo mundo e com várias obras publicadas no Brasil, inclusive o ensaio "Os Bandidos". Aprovada com nota máxima, Maria Célia já está novamente lecionando na Universidade de São Paulo, em cuja área de sociologia é uma das professoras de maior destaque desde o início dos anos 70. xxx Filha caçula de Brasil Pinheiro Machado, cientista social, historiador, professor, advogado e que ocupou também o governo do Paraná num período de transição democrática, Maria Célia veio dar seqüência à tradição do professor Brasil no ensino universitário. Apesar dos outros importantes cargos por ele desempenhados ao longo de uma vida das mais admiráveis, a Universidade - na qual ingressou há mais de 50 anos e que só deixou devido sua aposentadoria compulsória pela idade - foi a sua grande paixão. Ao professor Brasil - como a alguns outros admiráveis professores do Departamento de História entre os quais as mestres Cecília Maria Westphalen e Altiva Pilhatti Balhana, deve-se o fato de, ao menos nesta área, a nossa septuagenária instituição aparecer no ranking promovido pela revista Playboy, dos melhores cursos superiores do Brasil, com o destaque tanto para o curso de graduação, classificados de núcleos de excelência. Advogado da turma de 1930 da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro - "que na época era dirigida pelo Conde Afonso Celso, o autor do "Porque me ufano de meu país", lembra Brasil - freqüentou por um curto período a pioneira Escola de Sociologia e Política que Roberto Simonsen fundou em São Paulo. Mas seria como intelectual inquieto e investigador, que teria sua formação básica de historiador voltado ao social, a função da História na transformação da sociedade. xxx Desde que o projeto memória Histórica do Paraná foi idealizado, com generoso patrocínio do diretor de marketing do Bamerindus, Sérgio Reis, um dos principais nomes agendados para serem entrevistados foi o do professor Brasil Pinheiro Machado. Por sua presença na vida cultural e política do Paraná, independência de grupos e, paralelamente à posição de scholar que o coloca ao lado de um Bento Munhoz da Rocha Neto (de quem foi grande amigo, aliás), o seu depoimento era dos mais necessários. Diversos fatores retardaram a entrevista, finalmente ocorrido na fria tarde na última sexta-feira e cuja importância, ao final, foi sintetizada por uma frase do jornalista Aroldo Murá Gomes Heygert, que participa do projeto desde o início: "Valeu como uma preciosa aula num curso de pós-graduação sobre o Paraná". Realmente, aos 81 anos - completados no dia 12 de dezembro do ano passado, o professor é daquelas personalidades que, em sua maneira simples mas didática de expor idéias, transmite todo um conhecimento, uma firmeza de posições - que enriqueceu os milhares de alunos que a partir do final dos anos 30 e até a década passada tiveram a felicidade de o terem como professor nas várias cadeiras que lecionou na área de História da Universidade Federal do Paraná. xxx Descendente de uma das mais tradicionais famílias gaúchas - sobrinho do senador José Gomes Pinheiro Machado (Cruz Alta, RS, 1852 - Rio de Janeiro, 1915), um dos mais poderosos políticos da República Velha e que morreu assassinado no Hotel dos Estrangeiros, apunhalado pelas costas - Brasil nasceu em Ponta Grossa. Seu pai, também de nome Brasil (1872-1918) casou com dona Maria Eugenia Guimarães, e teve oito filhos. Em Ponta Grossa, depois de formado em Direito, Brasil foi professor de História e diretor do Colégio Regente Feijó e, já amigo do então interventor Manoel Ribas (1873-1946), aliás seu primo, viria a ser nomeado para o cargo de prefeito daquela cidade. Um período difícil, com a cidade como ponto de passagem das chamadas "tropas de recrutados" gaúchos e a formação do temível 2º Regimento de Reserva, que só viria a ser dissolvido pelo coronel José Schlader, após desarmar seus integrantes. "Era a época em que caudilhos gaúchos, do início do século, ainda percorriam o Sul, com tropas numerosas e ameaçadoras" - lembra o professor Brasil citando o temido Leonel Rocha - não o cantor sertanejo, contemporâneo nosso - mas o gaúcho cujas proezas de valentia levaram inclusive o pai de Leonel Brizola a dar o nome ao ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro - detalhe que o próprio líder nacional hoje do PDT não gosta de que seja lembrado em sua biografia. Um dos três representantes da região dos Campos Gerais a Assembléia Constituinte de 1937 (os outros dois foram Elvidio Silva e Oscar Borges), Brasil seria o relator da Carta Magna do Estado, elaborada entre 1935/6, mas que pouca validade teria com o golpe do Estado Novo em 1937. Em 1939, Ribas o nomearia para o cargo de procurador Geral do Estado, no qual permaneceria até 1946. LEGENDA FOTO - Brasil, lições de Paraná
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/06/1988

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