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Mais uma vez, talentos dos "ratões" vence em Cascavel

Repensar meu mundo Por onde ele irá E todos sonhos loucos que eu puder sonhar Ter o som das matas No meu violão E assim descobrir sem medo outra canção. ("América dos Nus", de José Alexandre; primeira classificada no XVII Fercapo, Cascavel, 29/07/89). xxx Veterano de festivais de MPB (Brasília, Belo Horizonte, Rio, São Paulo), parceiro de Oswaldo Montenegro e Mongol, tendo integrado musicais como "Cristal", "Os Menestréis" e "Dança dos Signos" - com os quais Montenegro vem lotando auditórios - naturalmente que José Alexandre conhece a fórmula de fazer uma música para conquistar público e merecer votos dos jurados. Assim seu "América dos Nus" lhe valeu as principais premiações no XVII Festival da Canção Popular de Cascavel: primeiro lugar, troféu de comunicação popular, um cheque no valor de NCz$ 1.700,00 e ainda o prêmio para Sérgio Chiavazoli, responsável pelo arranjo e executante de bandolim, como melhor instrumentista. Compositor, letrista e intérprete, José Alexandre construiu a sua canção com bonitas imagens e, sobretudo grande comunicação popular, justificando as premiações. O júri formado por 11 nomes competentes, a exemplo do que vem sendo adotada há quatro anos na Feira da Música de Avaré (o mais importante festival de São Paulo) este ano, definitivamente, eliminou o critério de pontos, estáticos e injustos, estabelecendo o sistema de votação aberta, com amplo debate em torno das músicas finalistas - exigindo inclusive maior justificativa para cada integrante. Coordenado por Zuza Homem de Mello, veterano júri de festivais e ligado a inúmeros eventos musicais ao longo de 30 de seus 54 anos, o júri conseguiu resultados que se aproximaram do público, que nas três noites lotou a hoje pequena sede do Tuiuti E.C., que desde 1971 promove o mais regular e importante evento musical competitivo do Paraná. Só às 4h da madrugada do domingo, 29, foi que Caio Cotlieb e Silvana Veronesse, os corretos apresentadores do Fercapo, anunciaram os premiados: além do atraso no início da finalíssima, o show de Baby Consuelo arrastou-se por mais de duas horas. Nas noites anteriores, os shows foram de Jane Duboc (na sexta-feira, prejudicada por falta de melhor "timing" artístico) e, admiravelmente nacionalista, em solo, violão acústico, Moraes Moreira, na quinta-feira, no início do festival. xxx Criado modestamente, quase como "uma espécie de programa de auditório de um clube interiorano", como recorda o deputado Mário Pereira, hoje secretário da Administração e ex-presidente do Tuiuti E.C. - e a quem se deve o grande salto para sua consolidação no Paraná, o Fercapo deixou de ser um evento regional a partir de 1979/80, quando a experiência dos animadores culturais Heitor Valente e Jorge Natividade levaram uma nova organização: júri com nomes nacionais, roteiro nas apresentações, cuidados na questão de sonorização, acompanhamento artístico e, sobretudo, abertura para candidatos de outros estados. Hoje, afastados xenofobismos regionalistas, compositores de vários estados - especialmente os chamados "ratões de festivais" (compositores-intérpretes que garantem sua sobrevivência procurando premiações Brasil afora e que inspiraram até o romance "O Ganhador", de Ignácio de Loyola), o Fercapo tem, a cada ano, um melhor nível nas músicas concorrentes. Este ano, de 216 inscritas foi possível selecionar 30 representativas de diferentes estilos, chegando-se a 12 finalistas que farão parte do elepê (o terceiro editado pelo Fercapo), gravado ao vivo em menos de 20 horas pelo estúdio volante Quero-Quero, de Porto Alegre, do poeta e animador cultural Gilberto Carvalho, responsável pela edição de mais de 70% dos álbuns-registros das dezenas de festivais que acontecem no Rio Grande do Sul. xxx Os irmãos Jean e Paul Garfunkel, paulistas de raízes curitibanas - netos dos inesquecíveis Paulo (pintor) e Helena (fundadora da Aliança Francesa) Garfunkel, sobrinhos de Francetti e Karlos Rischbieter, incorporaram mais uma vitória na sua já longa carreira de "ratões" de festivais: "Sintonia" foi a segunda classificada, defendida pela suave voz de Lucila Novais, acompanhada ao piano por Juca Novais, compositor, cantor, e, sobretudo, o grande idealizador e diretor da Famop, em Avaré. Os gaúchos Ricardo Gonçalves e Sérgio Copetti, com apoio de um bom grupo "Bicho de Pé", que atualmente faz temporada na noite de Foz do Iguaçu, trouxe uma bem humorada sátira, que ficou em 3º lugar: "Atrapalho", tem o mérito de ser, possivelmente, a primeira música a ironizar a mais recente "moeda" oficial deste nosso patropi: "O BTN corre solto / Todo mês tem inflação / E a esperança continua na poupança da ilusão". Claudionor Cruz, 75 anos, veteraníssimo compositor - mesmo ausente pessoalmente (como desejaria estar, mas o médico lhe proibiu de deixar o Rio de Janeiro) teve suas duas parcerias com Beatriz Dutra selecionadas para a finalíssima: "Amor no Verão" e "Lá Vem Você", esta defendida por Marisa Brasileirinha e que ficou em 4º lugar. O 5º lugar foi para um compositor baiano, Bio Medeiros, com a suave "Menininha", letra extensa mas repleta de paixão. xxx Nilson Chaves, paraense radicado há anos no Rio de Janeiro, também um "ratão" de festivais (só no Fercapo, já levou quatro premiações nas edições de 1985/86), três discos independentes (o último, "Sabor", lançado agora), desta vez não teve nenhum prêmio mas ficou entre os finalistas com "Estrela Cadente", parceria com Sidney Penon. "Maracatu Francês", da dupla Mutti e Bio Medeiros, também ficou entre as classificadas, mas sem entusiasmar público ou júri. Cultuado pela vanguarda paulista, autor da trilha sonora do filme "A Dama do Cine Shangai" (de Guilherme de Almeida Prado, 1988), recém premiado no VI Festival do Cinema de Bogotá, Hermelino Nader é um dos autores de "Baixo Astral" - em parceria com Irajá Menezes e Carlos Renó (co-autor de "Escrito nas Estrelas", o grande sucesso de Tetê Espíndola), também não conseguiu ver sua música "Baixo Astral" entre as premiadas, apesar de ter chegado na finalista, defendida por Irajá Menezes. Juca Novaes, ao piano e vocal, defendeu "Oração ao Mar", de Sérgio Augusto, que mesmo tendo sido prejudicada pelo fato de ter sido a primeira canção apresentada tanto na quinta-feira como na finalíssima. Finalmente, ao menos uma presença de raízes nativistas - gênero estranhamente ausente no Fercapo, apesar da influência gauchesca na região Oeste: "O Uso da Bombacha", de João Carlos Dorneles, de Clevelândia, defendida pelo seu grupo Cigarra, vencedor já de vários festivais, inclusive o Fercapo-86 com "Ventania". LEGENDA FOTO - Jean e Paul Garfunkel.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/08/1989

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