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Aramis

Nem só de bons filmes pode sobreviver a VTI

Em simpática correspondência a Sra. Letícia Chaves Milano, assessora de Comunicação e Marketing da Vídeo Interamericana Ltda. (Rio de Janeiro) procura justificar a mediocridade de certos lançamentos desta distribuidora - por sinal, uma das mais antigas e bem organizadas do mercado. Realmente, a VTI está entre as distribuidoras que ao lado de um catálogo comercial, com títulos absolutamente dispensáveis em termos de qualidade, faz também bons lançamentos - como aliás aqui destacamos na semana passada, comentando suas edições de "O Terceiro Homem" (The Third Man), 1949, de Carlo Reed; "A Vida de Brian" (Life of Brian), 1979, de Terry Jones (Monty Phyton) e "A Pele" (La Peau), 1981, de Liliana Cavani. Em comparação com 70% das distribuidoras restringindo seus catálogos ao que há de mais dispensável em termos da produção comercial internacional, a VTI tem um bom trabalho, embora sua diretora de marketing reconheça que "de fato, sou obrigada a concordar com você, que os filmes lançados em março não são dos mais relevantes em nossa coleção". Lembra, a seguir, que devido as compras em pacote - o diretor da empresa, Roberto Barbará, voltou recentemente de Los Angeles - "se vê obrigado a fazer para lançar fitas como as que você destacou", referindo-se a críticas que aqui fizemos, há algumas semanas, em relação a mediocridades saídas com o selo da VTI. Letícia Chaves Milano procura em sua correspondência destacar a qualidade técnica das edições da VTI, pois o Telecine Bosh FDL 60 B2, instalado pela empresa no Rio de Janeiro, "somente encontra similar em Frankfurt e Nova Iorque, capaz de uma telecinagem próxima à perfeição, graças as correções possíveis de serem feitas quadro a quadro. Também o Sound Fellower da Rank Cintel, único no Brasil, que faz com que a VTI tenha o melhor som do mercado. As "escravas" - 224 aparelhos de vídeo para a reprodução simultânea de um filme - tem todos os equipamentos que entram em contato direto com a fita, especialmente construídos para beneficiar a qualidade, já duplicando em estéreo e são monitorados por equipamentos Munchworth, que detecta falhas até no momento da gravação. Além disso, a VTI dificilmente lança um filme antes de um ano de sua compra, justamente pelos cuidados técnicos que tem com o produto. Por este motivo, também, nem sempre um pacote pode ser tão forte quanto gostaríamos, pois nada pode ser adiantado em sacrifício da qualidade". Examinando-se o catálogo da VTI se encontram interessantes títulos lançados há tempos e que, infelizmente, ao menos em termos regionais, não tiveram a divulgação merecida. É o caso, por exemplo, da versão que Paul Newman fez da peça "A Margem da Vida" (The Glass Menagerie), de Tennessee Willians, com sua esposa - Joane Woodward, mais Karen Allen, John Malkovich e James Naughton, e que embora tenha sido levado a Cannes, em 1988, não interessou a nenhum distribuidor para o seu lançamento em 35mm. Também a VTI antecipou-se à Columbia no lançamento nas telas de "Talk Radio", penúltimo filme de Oliver Stone - e que em 35mm, com o título de "Verdades que Matam", até agora só foi lançado nos cinemas do Rio e São Paulo. Corajoso, abordando um fato real (parcialmente enfocado por Costa Gravas em "Atraiçoados") - o assassinato de um famoso radialista americano, vítima de grupos de direita - "Talk Radio" não teve, até agora, a divulgação merecida em seu lançamento em vídeo. A mesma VTI já lançou filmes como "O Anjo Azul", de Josef von Sternberg; "O Homem Elefante", de David Lynch; "Tess", de Roman Polanski; "O Franco Atirador", de Michael Cimino; "Os Gritos do Silêncio", de Roland Joffe; "A Força do Carinho", de Bruce Beresford (o mesmo diretor de "Conduzindo Miss Daisy" e que valeu a Robert Duvall o Oscar de melhor ator), e "Marie, a Verdade de uma Mulher", de Doger Donaldson. Também constam do catálogo da VTI, "Francês", de Gramme Clifford; "O Exército Inútil", de Robert Altman; "Tributo", de Bob Clark; "Plenty - O Mundo de uma Mulher", de Fred Schepsi; "Madame Souzantzka", de John Schelessinger, entre outros filmes de qualidade. Justamente por dispor de um catálogo deste nível, é que surpreende quando a VTI traz produções comerciais, de discutíveis méritos - e sem maiores atrações para o público - como "Crepúsculo de Aço" (Steel Dawn) ou "Flash", constantes de seu último pacote. Mas enfim, há razões comerciais que o faturamento explica e ainda bem que ao menos a VTI procura equilibrar sua atuação no mercado. Pior é o que acontece com subdistribuidoras, pessimamente assessoradas, e que infestam as locadoras com o que há de pior do lixo cinematográfico internacional.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
26/04/1990

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