No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de março de 1989
Como os "Versos Satânicos" não existem mesmo nas mais atualizadas livrarias que trabalham com obras importadas, uma ingênua narrativa que Salman Rushdie fez sobre uma viagem pela Nicarágua ("O Sorriso do Jaguar"), que não estava vendendo nada, acabou se transformando num best-seller da Guanabara. Anteriormente, a Guanabara havia editado outro livro do mesmo autor ("Os filhos da meia-noite") e, caso se encorajasse a publicar "Os Versos Satânicos" teria prioridade.
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Seu "O Sorriso do Jaguar" é apresentado pela editora como "uma viagem à Nicarágua, uma leitura original, participante e esperançosa, dos costumes e mitos de um país, permanentemente assolado por insurreições, golpes de Estado, a fome e a miséria. É importante notar, no entanto, que Salman Rushdie não capitula jamais aos clichês, pró ou contra, amplamente divulgados sobre a Nicarágua na imprensa internacional. Seu livro é um convite à reflexão e ao entendimento".
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Apaixonadíssima por tudo que se relaciona à América Latina e já tendo viajado à Nicarágua, a jornalista Malu Maranhão foi uma das primeiras leitoras de "O Sorriso do Jaguar". Antes que o Khomeini colocasse a cabeça de Salman Rushdie a Prêmio e o tornasse o autor mais famoso do mundo.
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A Fundação Álvares Penteado, através do Museu de Arte Brasileira, incluiu duas litografias de Poty, integrantes da série "Monumento ao Tropeiro" (1965), pertencentes ao Museu Municipal de Arte, na exposição itinerante do Jockey Clube de São Paulo, que será aberta em maio, durante os festejos do Grande Prêmio São Paulo. Posteriormente, a mostra percorrerá outras capitais brasileiras, além da Argentina.
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Quem passou por Curitiba, estabelecendo importantes contatos na área do mercado de exportação de madeiras foi o engenheiro gaúcho Paulo Zanella. Ele dirige uma "Trade" na Austrália, que está fazendo muitas operações no Brasil.
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Um recorde para o habitualmente modesto Diário Oficial do município. A edição de 10 de fevereiro saiu com 1.064 páginas, relacionando (sem ordem alfabética) "os senhores ou detentores da posse, dos imóveis inscritos, nominalmente no Cadastro Imobiliário sob a indicação fiscal setor-quadra-lote, que deverão retirar o lançamento do imposto imobiliário e/ou taxas de serviços urbanos, referentes ao exercício de 1989, até o dia 15 de março".
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Parece até brincadeira, mas quem vai mergulhar num calhamaço como este para verificar se deve ou não imposto? Entretanto, no edital nº 1, o secretário das Finanças, Aldo de Almeida Jr., já adverte: "Esgotado o prazo acima, serão os avisos de lançamento considerados entregues para efeitos de Lei, ficando sujeitos aos acréscimos e demais cominações legais previstas".
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Jorge Carlos Sade, pioneiro da fase de profissionalização das galerias de arte no Paraná, em sua Acaiaca, tem formado bons marchand de tableaux mas que acabam partindo para outras aventuras. O mais recente - o quarto em 10 anos - que deixa a Acaiaca é Luiz Antônio Martins de Oliveira, que se associou a um ex-cliente, Dalton Machuca, para abrir sua galeria.
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Falando em Sade, o marquês continua irônico: decepcionado com a falta de público para filmes excelentes como "O Amor Não Tem Sexo" e "Bird" (que permaneceram apenas uma semana no Bristol), diz: "O pessoal quer é festeretê; De que servem a SeEsCu, Fucucu, SeMucu e outras siglas? A nossa cultura tira férias! Todas as nossas secretarias e fundações são apenas poleiros de emprego. Nada mais. Não temos política cultural. Não há formação de público para a cultura com C maiúsculo. É uma pena. Que fazer?"
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Jorge Carlos Sade não deixa de ter suas razões. Outro crítico rigoroso da política cultural oficial, o jornalista Luiz Geraldo Mazza, não deixa por menos: em seu entendimento, caso o governo eliminasse a Secretaria da Cultura (bem como a de Esportes), se faria economia.
LEGENDA FOTO - Paulo Zanella: negócios de madeiras para a Austrália.
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