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Aramis

Norton, a política sempre como vocação

Mais do que os seus 54 bem vividos anos, o ex-deputado Norton Macedo comemora hoje, 27 de outubro, nada menos que 36 anos de oficial militância política. - Lembro-me bem que no dia em que fiz 18 anos as duas primeiras coisas que cuidei foram tirar o título de eleitor e filiar-me a UDN. Embora oficialmente sejam 36 anos, na verdade pode-se acrescentar mais 10 anos nesta sua vocação política: - Aos 9 anos, ainda de calças curtas, enquanto meus colegas se preocupavam com a leitura de histórias em quadrinhos e colecionar as balas Zequinha, eu já tinha cadernos escolares com anotações dos resultados, cidade por cidade do Paraná, das eleições presidenciais de 1946 em que concorreram o brigadeiro Eduardo Gomes, Getúlio Vargas e Fiuza pelo partido comunista. E eu, torcia pelo brigadeiro... Assim, sem ter mesmo para si uma explicação para tanto ardor pela política, Norton Macedo se considera um político por vocação, "embora sem tradição familiar, pois na minha família não houve outros políticos". Filho de um modesto comerciante português, curitibano da Rua Alferes Poli, aluno do grupo anexo do Instituto de Educação, ao chegar ao Colégio Estadual do Paraná já estava enfronhado com a política estudantil. Ocupou vários cargos no Centro Estudantil do Colégio Estadual do Paraná e em 1954, sucedendo a um crise interna na União Paranaense dos Estudantes Secundários, fundada nove anos antes, era escolhido para sua presidência, vencendo "com facilidade" o candidato Jayme Gonçalves. - As eleições eram indiretas, votando apenas representantes dos centros estudantis. Uma das primeiras providências que tomei foi de modificar os estatutos e introduzir eleições diretas, com a participação do Interior. Em 1955, José Augusto Ribeiro - hoje jornalista da Rede Bandeirantes - o substituiu na presidência da UPES. Eu, o Zé Augusto - meu amigo fraterno até hoje e o Munir Karam, fizemos política estudantil por muitos anos, alternando-nos, inclusive em cargos eletivos - mas apenas por coincidência. xxx Gravando um longo depoimento para o projeto Memória Histórica do Paraná, Norton Macedo, há três anos afastado do Congresso - após sofrer a primeira derrota em sua vida - acabou oferecendo também uma contribuição à memória da política estudantil paranaense, que embora ativíssima - e com seus principais líderes ocupando hoje cargos de projeção no Executivo, Legislativo e mesmo Judiciário, não foi até agora objeto de nenhum registro. Em seus cinco anos de Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná - formou-se em 1959, na turma Clovis Bevilacqua - Norton presidiu o Partido Acadêmico Progressista e sempre se alinhou com este grupo político, nos saudáveis anos 50 identificado as correntes conservadoras. - Tínhamos a pecha de reacionários, direitistas, enquanto o Partido Acadêmico Renovador era dos chamados progressistas da esquerda. Revendo-se, hoje as posições se verifica que nem o PAP era tão a direita, nem o PAR tão revolucionário. Mas, na época, era impossível ter tal discernimento. xxx Da política estudantil, ingressou na União Democrática Nacional - da qual só saiu com sua extinção em 27 de outubro de 1965. Foi como membros da chamada ala jovem da UDN que Norton se integraria na campanha do então major Ney Braga a Prefeitura de Curitiba, início de uma amizade que resistiu a todos embates e transvergências políticas - e que prossegue até hoje. Mas a grande admiração política de Norton sempre foi por Bento Munhoz da Rocha Neto, "exemplo de estadista maior que o Paraná já teve". Foi por admirar Bento, já constituinte em 1946, que Norton sempre alimentou o sonho de ser deputado federal. - Outros cargos nunca me atraíram. Realmente, sempre pensei na política como deputado federal. Tocando num assunto delicado - e até hoje com fissuras na história política do Paraná, - Norton revelou na gravação ao projeto Memória Histórica do Paraná, a razão que levaria Ney Braga e Bento Munhoz a romperem política e pessoalmente. - Hoje, com o distanciamento do tempo, pode-se sentir que houve muitas pessoas que, relacionadas com os dois políticos contribuíram para que houvesse o rompimento. O nome de um deles, já falecido, há muito deixou de ser segredo, como responsável pelo afastamento das duas lideranças: o ex-ministro Aramis Athayde. Secretário pessoal de Ney Braga por cinco anos, evitando sempre cargos executivos, Norton admite que só em 1974 sentiu-se suficientemente maduro para disputar o seu projeto maior: uma cadeira de deputado federal. Eleito com 85 mil votos, teria 87 mil em 1982 e 72 mil em 1982, "sofrendo o desgaste de ocupar na época a presidência do PDS". Em 19086, no debate do PDS, alcançou apenas 25 mil votos, o que lhe deixou numa distante suplência. - Na verdade, em 1986 não houve uma eleição mas um leilão político. Em setembro eu já sentia que não tinha condições de reeleição devido a corrupção e a força do poder econômico que influenciaria nas eleições. xxx Alinhando-se entre os chamados rebeldes do PDS, Norton tomou posições críticas ao governo desde 1975, no início de seu mandato. Uma das primeiras brigas foi com o ministro Armando Falcão, da Justiça, quando denunciou a censura da peça "Abajur Lilás" de Plínio Marcos. Inúmeras vezes, Norton subiu ao plenário para, mesmo sendo do partido do governo, fazer críticas ferozes a ministros e atitudes da Presidência. Uma das suas críticas mais contundentes foi contra o ministro Dirceu Nogueira, dos Transportes, em relação ao abandono das rodovias federais no Paraná. Apesar de todo seu entusiasmo político, Norton mostra-se pessimista em relação a ação dos deputados federais no que diz respeito a trabalhos maiores, "acima de meros despachantes de interesses regionais". - Em meus 12 anos de Câmara Federal, só consegui ter aprovado um projeto de lei, referente ao agravamento da penalização em um terço aos ocupantes de cargos públicos quando culpados em processos. Assim mesmo, de todos os 32 artigos que fundamentavam o projeto por mim elaborado, o presidente João Figueiredo só sancionou dois deles - vetando os demais. Mas a frustração não é só de Norton, que garante: _ Há deputados que estão há 20 anos em Brasília e não conseguiram ter aprovado um único projeto de lei. xxx Apesar das incertezas da política - "e das mudanças com as eleições de 15 de novembro, para uma posterior definição de um novo quadro partidário", Norton não pensa em aposentadoria. Ao contrário, jamais cogitei em pendurar as chuteiras. Nas próximas eleições a deputado, volto a Brasília. LEGENDA FOTO - Norton Macedo, 54 anos, 46 de paixão de política.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/10/1989

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