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Aramis

O bom discípulo

Alfred Hitchcook, 78 anos, 56 de cinema, pode descansar tranqüilo, embora, demonstrando extraordinária vitalidade, continue em ação: já há um substituto (quase) à altura para seu gênero favorito - o suspense. Chama-se Brian De Palma, tem pouco mais de trinta anos, e desde que fez uma versão musical - pop de "O Fantasma da Ópera", vem crescendo tanto em termos de bilheteria como reconhecimento crítico. De Palma curte Hitchcook adoidado. Tanto é que em "Trágica Obsessão" (Cine Astor, 5 sessões diárias) não dispensou sequer a colaboração musical de Bernard Hermann (1916-1975), o compositor de trilhas sonoras preferido por Orson Welles e Hitchcook. E mais: deliberadamente, o roteiro de Brian De Palma e Paul Schrader lembra um dos clássicos do velho Hitch, para muitos o seu melhor filme: "Um Corpo Que Cai" (Vertigo, 1958). Como Hitchcook, Brian De Palma é um cineasta extremamente caprichoso. Cada (seqüência( de "Obsession" é pensada, planejada, desenhada. Um requinte que somado a competência de Vilmos Szigmond, sem dúvida hoje o melhor fotógrafo do cinema internacional, tornam as imagens deste filme um espetáculo a parte. Quase que cenas, que, tomadas independentes, poderiam ser colocadas num salão de exposições. Um filme nervoso - e nisso a trilha de Hermann funciona maravilhosamente bem, da "Valse Lente", na abertura, aos momentos mais trágicos. Como todo filme de suspense, o final é o fundamental. E, talvez aí - como em "Carrie, a Estranha" (onde Palma já mostrava boa segurança técnica) - é que o diretor comete um pequeno pecado; naquela fita, era a brincadeira boba, apenas para "dar aquele susto" no espectador. Agora, o final feliz, artificial. A tragédia grega que o espectador imagina que vá ocorrer nos últimos 60 segundos de projeção seria brutal, sem dúvida, mas daria muito maior dimensão ao filme. Enfim, ninguém é prefeito e assim como o velho Hitch, durante tantos anos, procurou "happy end" para seus thrillings, natural que o bom discípulo também não queira decepcionar o público classe média, que depois de sustos e especulações visuais, também quer ir para casa tranqüilo, vendo que tudo acabou bem. Cliff Robertson, ex-galã que poucas vezes teve chances à altura de seu talento - e que quando as teve, mostrou que não dorme em serviço (em 1968, Oscar de melhor ator por "Charlie/Os Dois Mundos de Charlie", de Ralph Nelson) está seguro, e admirável, enquanto Geneviève Bujold não só enfeita a tela, como é boa atriz. "Tragica Obsessão" é um filme que pode ser visto. É um Hitchcook revisitado, bem melhor do que as últimas fitas que o velho mestre inglês anda fazendo. Afinal, encontrou um discípulo talentoso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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27/11/1977

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