O bom humor do rock tupiniquim
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de janeiro de 1985
Ano Internacional do Jovem e começando com o Rock In Rio – a partir da próxima Sexta-feira, 10, na Barra da Tijuca, RJ, o momento não poderia ser mais propício para música pop. E se o rock já garante 80% das vendas da WEA e 50% da Odeon – sem falar na fatia que também ocupa em outras multinacionais (CBS, Polygran) tende a crescer nestas próximas semanas. Afinal, nunca se falou tanto em rock como agora!
Independentemente de apreciações críticas – e estas teriam que ser rigorosas – impossível deixar de reconhecer que o marketing promocional não poderia ser mais eficiente e, assim, muito rock pinta nas lojas. Desde os ingênuos e bem humorados conjuntos tupiniquins até a selvageria e humor negro de Ozzy Osbourne, ex-Black Sabbath e que integra a linha mais violenta do chamado heavy metal.
Em reportagem de capa, a revista "Veja" desta semana destacou duas caraterísticas do rock tupiniquim surgido nestes últimos meses. Primeiro ele é dançante. Não se tem notícia, até hoje, de um rock nacional de razoável sucesso que exija uma reverente atenção do ouvinte. Segundo, o rock nacional é invariavelmente bem humorado. Não se ouvem letras dramáticas: o roqueiro brasileiro se diverte com o barulho de suas próprias rimas.
Inútil, portanto, querer exigir – ou esperar – trabalhos de maior profundidade dos Kid Abelhas, Magazines, Barões Vermelhos e tantos outros grupelhos roqueiros que apareceram nos últimos tempos. A rapaziada faz uma música para se divertir e, faturar. Por exemplo, o Sempre Livre, primeiro conjunto formado exclusivamente por mulheres, já vendeu 30 mil cópias de seu primeiro lp ("Avião de Combate", CBS), fez mais de 60 shows e capitulou uma música de sucesso – "Eu Sou Free" e, na sua linguagem debochada, teve outra faixa do lp ( "Alta Tensão" (Rafael Reis/ Fernando Moraes) proibida pela censura.
O Sempre Livre é formado por Lelete (Maria Celeste Pantoja Harris), 24 anos; Marcinha (Márcia do Nascimento); Flávia Cavaca (30 anos), Lúcia Helena Lopes de Matos e Dulce Maria Rossi Quental, ambas com 24 anos.
A receita do Sempre Livre parece ter funcionado – tanto é que já apareceu outro conjunto de roqueiras, o Garotas do Centro, formado por sete garotas e um homem na bateria (a moça que pegaria as baquetas, Tati, ficou grávida e preferiu se dedicar ao bebê). "Avião de Combate", o elepê de Sempre Livre é mais um disco de intérprete do que de compositores como acentuou Miguel de Almeida ("Folha de São Paulo", 20/9/84), "o trabalho deu oportunidade para que as meninas testassem algumas novidades nos arranjos, como um fraseado de baixo que lembrasse os Beatles, por exemplo".
Herbert Viana, guitarrista do Para-lamas do Sucesso é um entusiasta do Sempre Livre e fez um "ska" para elas, "Fui Eu", uma das faixas mais movimentadas do disco, com um solo vibrante de marimbas a cargo de Lelete.
Aliás, o Pára-lamas do Sucesso abrirá no próximo Domingo, dia 13, o Rock In Rio – antecipando-se a Lulu Santos e Blitz (a noite, estarão Nina Hagen, Go-Go's e Rod Stewart), numa prova do prestigio que este grupo conseguiu em pouco mais de um ano. O novo elepê Pára-lamas estrearam de forma auspiciosa como deu milhares de cópias e capitulou uma faixa ("Óculos"). Conjunto formado em Brasília, o Pára-lamas do Sucesso assume a irresponsabili........................... "Cinema Mudo" e vem emplacando sucessos aceitos pela garotada. Formado por Herbert, Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria), o Pára-lamas do Sucesso assume a irresponsabilidade de seu repertório. O próprio líder Herbert diz:
_ "São canções cínicas. São sobre experiências sobre falhas pessoais. Este cinismo assumido – que pode também ser traduzido por um humor descompromissado e que passa a uma geração nascida nos anos 70 – está também presente nas canções dos grupos Barão Vermelho ("Maior Abandonado", Opus/Columbia) e Rádio Táxi ("6.56", CBS). Após o impulso que o filme "Bety Balanço" deu ao Barão Vermelho, este novo elepê que o grupo fez com produção do especialista Ezequiel Neves dá seqüência a linha de irreverência de Frejat/Cazuza, os principais compositores do grupo. Formado por Cazuza (filho de João Araújo, presidente da Sigla/Som Livre), Robert Frejat (guitarras), Dé (baixo), Maurício Barros (teclados) e Guto Goffi (bateria), o Barão Vermelho abrirá o programa do Rock In Rio no dia 20, Domingo – na quente escalação que encerrará esta superprodução. E já o Rádio Táxi, formado por Lee Marcucci, Wander Taffo, Gel Fernandes e Maurício Gasperini, não conseguiu escalação no festival da Arplan.
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