O casal da Ilha (IV)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de fevereiro de 1975
O trabalho que o casal Telange Alves desenvolve na Ilha do Mel, até agora sem qualquer divulgação, de forma que a sua revelação através das notícias desta coluna surpreendeu inclusive amigos do casal que já se prontificaram a colaborar com a meritória campanha em favor da esquecida população daquela ilha, já teve, entretanto repercussão internacional. Em outubro de 1974, a sra. Nanie Siqueira Santos, de Recife, presidente do Clube da Mulher do Campo do Brasil, levou ao 14º Congresso da Association of Country Women of World, na cidade de Perth, Austrália, uma tradução do relatório que dona Cidinha Alves havia apresentado no Iº Seminário Latino-Americano para o Desenvolvimento (Recife, 9/19 de setembro de 1972). Técnicos em desenvolvimento comunitário ficaram entusiasmados com o trabalho desenvolvido pelo engenheiro Telange Alves e sua esposa, que em apenas sete anos conseguiram motivar as subdesenvolvidas 130 famílias que se espalham pelos quarenta quilômetros quadrados da ilha, até há pouco nas condições mais precárias de vida (problema aliás comum a todas as ilhas do Litoral Sul, algumas em condições piores do que na do Mel). Coincidências ou não, à partir desta semana as atenções jornalísticas voltaram-se para a Ilha do Mel, com reportagens em jornais e mesmo debate em um programa de televisão - mas no qual faltou a presença de dona Cidinha Alves, que, por certo, daria uma contribuição profunda, já que ela aprendeu a ver o outro lado da Ilha do Mel que ao lado de especulações turísticas-recreativas, tem problemas de infra-estrutura a serem enfrentados. Com exceção de algumas poucas famílias que mantém casas na Ilha desde os anos 30, quando viveu seu apogeu (assinto, que há um ano, abordamos nesta semana coluna) - entre os quais Raul Hauer, Fernando Ribeiro, Albino de Souza, etc., são poucos os curitibanos que têm o hábito de passar os fins-de-semana, ou mesmo temporadas mais longas na Ilha. O ator Joel de Oliveira, 39 anos, 21 de teatro, um dos mais conhecidos nomes da vida artística paranaense, é há muito tempo um fanático defensor das belezas daquela parte de nosso Litoral. Regularmente, apesar das dificuldades de acesso, Joel lidera grupos de amigos para conhecer a Ilha do Mel. Não há nenhuma linha regular de transporte de barcos e para se atingi-la é necessário ter algum amigo que possua barco ou então utilizar a morosa embarcação que transporte diariamente a praticagem de Paranaguá até o Farol, numa viagem de duas horas e meia. De Pontal do Sul o acesso à Ilha é bem mais rápido, havendo mesmo pescadores que dali fazem o transporte numa primitiva baleeira, à Cr$ 170,00, ida e volta.
Na Ilha, as distâncias (longas) que separam os quatro núcleos comunitários - Prainhas (Sul), Nova Brasília (recôncavo Sudoeste), Farol das Conchas (recôncavo Sueste) e Ponta Oeste - tem que ser feitas a pé, por caminhos improvisados nem sempre seguros. Os ilhéus utilizam muito as canoas, circundando a ilha, embora em alguns locais seja difícil, ou mesmo impossível, o desembarque. O antigo hotel, próximo à Fortaleza, está há mais de um ano sendo reformado pelo proprietário, o ex-deputado José Carlos Leprevost, mas que vem enfrentando inúmeras dificuldades - principalmente para transportar o material. Um aviso para quem pretende aproveitar o próximo fim-de-semana e conhecer o local: leve muita água potável, chapéus e tenha disposição de longas caminhadas, pois não há nem um veículo na Ilha. Ou melhor, existe uma pequena carreta puxada por uma mula, que durante anos pertencia a guarnição militar que serve junto à Fortaleza.
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