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Aramis

O casal da Ilha (II)

Dispostos a desenvolver um trabalho de ascensão social das 130 famílias que habitam a Ilha do Mel, o casal Telanger Alves passou a visitá-la regularmente a partir de março de 1968. Procurando uma entidade disposta a amparar os seus idealísticos propósitos o engenheiro Telanger e sua esposa, dona Cidinha, só encontraram apoio por parte do Clube da Mulher de Campo do Paraná, presidido pela poetisa Marita França, que criou um Departamento do Litoral, para desenvolvimento do projeto pioneiro. Posteriormente, a União Cívica Feminina passou a dar alguma contribuição, mantida até hoje. Na primeira etapa de trabalhos para soluções a curto prazo capazes de auxiliar os esquecidos 1.300 habitantes da ilha, a maior parte crianças subnutridas, doentes e com poucas vestimentas, dona Cidinha Alves aproveitou a Campanha do Agasalho, realizada em junho de 1971, e conseguiu um fardo de 100 cobertores para distribuição aos mais necessitados. A merenda escolar ofereceu uma certa quantidade de farinha vitaminada e a Prefeitura de Paranaguá atendeu ao pedido para instalação de uma sala de aula, com a respectiva merenda escolar e professora, no núcleo Nova Brasília. a curiosa parteira, única assistência médica fixada na ilha, depois de uma longa e persistente doutrinação de dona Cidinha concordou em fazer um curso na maternidade de Paranaguá e hoje está legalmente habilitada e prestar assistência as parturientes. Com as madeiras que dão as praias da ilha e muita persuasão, o engenheiro Telange Alves convenceu os moradores a consertarem e ampliarem suas moradias, recebendo como prêmio tintas e pincéis para pintá-las. Foram obtidas como doação duas bombas d'água tipo pistão e instruídos os moradores dos núcleos Nova Brasília e da Ponta do Oeste de como instalá-las para fornecerem água potável de boa qualidade (até então a maioria das famílias consumia água insalubre o que aumentava a incidência de doenças do aparelho digestivo). Os moradores foram incentivados a estarrarem os [lixos] e capinar o mato em volta de suas casas, a construir sanitários provisórios do tipo fossa-negra, e a galinheiros, cercados com bambus. E numa casa onde o casal Telange Alves ficava hospedado nos fins de semana, foi improvisado o Clube de Mães, ministrando primeiras noções de higiene, arte culinária, corte e costura, artesanato, ao mesmo tempo que com sementes obtidas na Secretaria de Agricultura era incentivada a formação de pequenas hortas domésticas. Estes foram os primeiros passos no projeto pessoal anônimo e desinteressado, convém repetir, que um casal de curitibanos decidiu desenvolver na Ilha do Mel, impressionando com a falta de assistência médica-social e total desconhecimento de noções mínimas de higiene, por parte da maioria daquela população. A fria leitura de um relatório não permite aquilatar toda a dimensão deste trabalho, desenvolvido sem recursos, encontrando inclusive resistências, mas que a pouco, permitiu que seus moradores fossem melhorando sua situação numa auto-ajuda sem paternalismo dentro do que ensino o velho provérbio chinês: "Se você der um peixe a um pobre, matará a sua fome por um dia. Se o ensinar a pescar, fará com que ele não passe mais fome".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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18/02/1975

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