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Aramis

A Cidade & O Tempo

No ano em que completaria o seu centenário, um dos mais tradicionais estabelecimentos comerciais da cidade - o Armazém e Moinho Weigert (Rua Mateus Leme, 158, antiga Travessa da Ordem ou Rua do Assungui) vai fechar suas portas. Fundado em 1875, por Ferdinand Weigert (1831-1902), este armazém está hoje nas mãos de seu octagenário neto, Alfred Weigert, o último da família a manter a tradição. Trabalhando com cereais, grãos moídos ou ao natural tem as características de venda do século passado, inclusive com velhas mobílias de época. Visitá-lo é respirar a atmosfera de uma Curitiba perdida. xxx O velho Alfred Weigert alega que não pode mais concorrer com os supermercados e assim, após cem anos de vendas de gêneros coloniais - centeio, fubá, milho etc. - a velha casa de secos & molhados e moinho vai fechar. Já o Armazém Hilário (Rua Mateus Leme, esquina com a Xavier da Silva) tenta a sobrevivência, hoje administrado pela viúva Rosalina, cujo marido, Hilário Moro (1921-1973), abriu o estabelecimento originalmente na Rua Duque de Caxias, em 1938. Três anos depois mudou-se para "o caminho dos bondes", na esquina da Inácio Lustosa com Trajano Reis, casou-se com dona Rosalina Gasparim e nasceram os três filhos. A vida continuou, com muito trabalho na poesia das coisas simples. Ainda hoje, como antigamente, mantém um sortimento invejável: lúpulo americano para cervejas caseiras, tamancos e alpargatas, urinóis de ágata, bacalhau e um famoso açúcar preto, "para adoçar e colorir pé-de-moleque" explica Vitório Gasparin, 45 anos, trabalhando desde os treze anos no armazém e recorda dos racionamentos do tempo de guerra, "quando cada freguês só podia levar cinco quilos de cada gênero, por mês". xxx O fim dos armazéns de secos & molhados motivou ao pesquisador Raphael Valdomiro Grecca de Macedo um breve estudo em torno de 12 estabelecimentos que ainda hoje existem em Curitiba, resultando num trabalho que constitui o volume oito da série "Boletins da Fundação Cultural de Curitiba". A publicação será lançada amanhã ao entardecer (Casa Romário Martins), paralelamente a uma mostra de fotografias em que Jack Pires, um dos melhores profissionais do Paraná, procurou captar o clima de um tempo que começa a se perder com os seus armazéns com chifres de macumba, cheios de arruda e espadas de São Jorge, "para espantar os mau-olhados". Moedas antigas, desde os tempos coloniais e diversos objetos caracterizarão o ambiente: garrafões de vinho coloniais, lampiões de gás etc...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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18/02/1975

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