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Aramis

A Cidade & O Tempo

Um dos raros ambientes típicos de Curitiba - citado inclusive nas publicações oficiais da Embratur, corre o risco de perder suas características em breve. Esgotada após cinco anos e meio de trabalho diário de 18 horas, sem férias, a sra. Mariana KurgPihzah, proprietária da "Velha Adega" colocou à venda (Cr$ 100 mil), a pequena e tradicional choparia da Rua Cruz Machado, que desde sua inauguração, há nove anos, tem mantido uma freguesia selecionada e, principalmente aos turistas, oferecendo um ambiente de características alemãs - acolhedor, musical e com um toque pessoal de sua proprietária. xxx Desdobrando-se entre a sala e a cozinha - enquanto o seu marido, o caladão Emílio, 60 anos, 45 de Brasil, cuida do caixa - dona Mariana é ainda a artista da casa: Com uma pequena [harmônica] arranca entusiásticos aplausos dos [freqüentadores] quando executa velhas canções germânicas - nunca deixando de reprisar o clássico "Lili Marlene" - que Marlene Dietrich cantava na primeira versão de "O Anjo Azul", de Ernst Sternberg. Tendo conservado as mesmas características com que foi decorado pelo primeiro proprietário da casa, o antiquário Victor Szieko, a "Velha Adega" conquistou nestes últimos anos um tipo muito especial de público: famílias de origem alemã, turistas e, principalmente, jovens universitários, que até horas mortas da madrugada (a casa não tem hora para fechar, quando recebe os bons fregueses) ali permanecem em sadia boemia - embalada por músicas alemãs, alpinas e brasileiras - com seus intérpretes abastecidos por bom chopp ou vinho e um dos poucos gullhash autênticos da cidade. xxx Se entre 1965/68, marcou a noite com uma geração de jovens [freqüentadores] - entre jornalistas, publicitários-escritores (como Jamil Snege, que ali recolheu muito material para o seu "Tempo Sujo"), artistas plásticos e gente de teatro, hoje a Velha Adega tem um público mais heterogêneo, mas nem por isto menos entusiasta. Tanto é que ao anunciar a decisão de vender a casa e passar os próximos 7 meses na Alemanha - para onde quer viajar em novembro, a tempo de abraçar o seu velho pai, sr. Paulo, na festa de seus 87 anos, dona Mariana deixou os habituês preocupados, embora garanta que mais do que dinheiro, importa-lhe encontrar um interessado "que mantenha a [tradição] e o espírito da casa". O que reconhece, não é fácil de achar. O primeiro interessado já apareceu, mas não é um homem da noite: é um próspero publicitário e sócio de uma das principais rádios da cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
31/10/1974

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