Muito imóvel mas pouca renda para a Santa Casa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de agosto de 1984
Antes que o assunto ganhe uma dimensão inexistente e que poderia ser extremamente prejudicial à Santa Casa de Misericórdia, neste difícil momento que ela atravessa, é bom que se esclareça: a tão famosa "fortuna" que a centenária instituição teria em imóveis, doados por dezenas de curitibanos, não existe. Ou melhor, existem as propriedades, mas a renda que trazem a Irmandade é mínima. Em alguns casos, quase ridícula.
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Excelente administrador, como tem provado nos vários e importantes cargos que já ocupou, o engenheiro e professor Ivo Arzua Pereira, tão logo assumiu como provedor da Santa Casa de Misericórdia, iniciou um levantamento do real patrimônio da instituição. E constatou coisas curiosas! Por exemplo, um apartamento no Edifício Tijucas vinha há muitos anos alugado por Cr $ 3 mil mensais. As lojas de tecido Urca pagavam por uma imensa área apenas Cr$ 80 mil. A Casa Ferez, na praça Tiradentes, também! Outros exemplos poderiam ser lembrados, mas basta ficar nesses.
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Claro que não se trata de corrupção ou desleixo. Apenas falta uma administração mais comercial, que fosse, ao longo dos tempos, atualizando aluguéis. Aliás, da parte dos locatários, está havendo uma espontânea colaboração - e nem poderia ocorrer o contrário. Assim, os proprietários da Tecidos Urca, antes de qualquer reclamação da SCM, aumentaram, espontaneamente, o aluguel, de Cr$ 80 para Cr$ 2 milhões. Outros imóveis - e são muitos - estão sendo reajustados de acordo com um trabalho coordenado pelo advogado José Vudutti, com Zenem De Bandeira, chefe do patrimônio, sob direta (é claro!) supervisão de Ivo Arzua Pereira.
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Além de Vidutti, outros bons profissionais estão colaborando (gratuitamente) com a Santa Casa de Misericórdia, a fim de verificar a situação legal de seus imóveis. Afina', há muitas doações que não se completaram ou que apresentam problemas de inventário. As restrições sobre esses imóveis doados é rigorosa: não podem, em hipótese alguma, ser alienados. Muitos - pode-se até dizer, a maioria - encontra-se em deplorável estado, já que são construções antigas, que por falta de recursos não merecem pintura e as reformas necessárias. Mas há, também, imóveis valorizados como os apartamentos residenciais e lojas no Edifício Provedor André de Barros, construído há poucos anos na Praça Osório, em terreno que pertencia à Santa Casa de Misericórdia - doação de André de Barros, um dos paranaenses que mais colaboraram com a instituição, deixando-lhe uma fortuna ao falecer.
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Da. Theresa Christina Ribas Fontana, que coordena o grupo de senhoras as sociedade que vem trabalhando em favor da recuperação financeira da Santa Casa de Misericórdia, obteve excelentes contribuições do Shopping Center Mueller, para a utilização de uma área ociosa naquele empreendimento e no qual a Mesbla vai colaborar para que se lhe abra mais uma fonte de rendas, mesmo que temporária. A meta inicial é fazer com que a instituição pague suas dividas, ao redor de Cr$ 1,5 milhão, mas a necessidade de viabilizar rendimentos futuros, a fim de que a SCM possa despender Cr$ 120 milhões mensais - que é o custo de sua ala de indigentes.
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Instituições como a Santa Casa de Misericórdia e a Sociedade Socorro aos Necessitados necessitam, periodicamente, de grandes contribuições, para equilibrar seus orçamentos. A Sociedade Socorro aos Necessitados, que hoje tem como provedor o general Djalma Cravo (que a 8 anos passados exerceu a mesma função na Santa Casa), apresenta uma situação de relativo equilíbrio, embora o INPS insista em manter uma cobrança absurda, única dívida que não foi paga pela atual administração por ser injusta. A SSN tem doadores regulares como um paranaense há anos radicado em Hamburgo - Josino Pedrosa Borges, que regularmente envia contribuições em dólares. Sra. Maria Bau é outra das beneméritas da instituição.
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