Santa Felicidade, 100 anos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de abril de 1978
Graças à jornalista Rosy de Sá Cardoso o centenário de Santa Felicidade, que transcorre em 1978, não passará em brancas nuvens. Embora, até o momento, a Prefeitura e a Fundação Cultural de Curitiba não se lembrassem da efeméride, algumas entidades vão fazer as devidas comemorações. Uma delas será o incansável Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, que editará um trabalho de Rosy intitulado "Os 100 anos de Santa Felicidade".
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Há 10 anos, quando repórter do "Diário do Paraná, Rosy foi fazer uma reportagem sobre cemitério de Santa Felicidade e notou a falta de informações sobre a colônia - hoje um gastronômico e turístico bairro de Curitiba. Com exceção da professora Altiva Pillati Balhana, que em 1958 defendeu a tese "Santa Felicidade - Um Processo de Assimilação", em seu concurso de Docência Livre da cadeira de História da América da Universidade Federal do Paraná, nenhum outro ensaio de profundidade sobre aquele distrito foi feito. No ano passado, fazendo concurso para titular de sua cadeira, a professora Altiva voltou ao tema, aprofundando-se num estudo demográfico ("Famílias Colônias - Fecundidade e Descendência", 318 páginas), ainda inédito - e que poderia ser publicado se existisse uma editora universitária no Paraná.
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Apenas como jornalistas, sem pretensões cientificas, estimulada pelo professor Júlio Moreira (1889-1975), a quem dedicou agora o seu trabalho, Rosy começou a pesquisar o campo. Traduziu o trabalho "Origem e Desenvolvimento da Colônia de Santa Felicidade", que o padre Giuseppe Martini publicou em 1908, em italiano, e, em busca de novos dados, em fins de 1976, foi à Itália, pró sua conta (é bom lembrar) completar as pesquisas.
"Chegou" informações em torno da vinda das primeiras famílias italianas presumivelmente a 5 de janeiro de 1878, depois de passarem alguns meses no litoral, conferiu informações sobre os proprietários dos terrenos anteriores à colonização italiana mas não conseguiu uma prova definitiva sobre quem era na verdade a Sra. Felicidade que deu nome à colônia. Num dos documentos encontrados em cartório, aparece dona Felicidade Bandeira, esposa de Antônio Bandeira, cunhado de Antônio Bandeira, cunhado de Antônio e Arlindo Borges que teria vendido uma grande área a famílias italianas em 1978. Em outro documento, de 3 de dezembro de 1878, aparece o nome de Felicidade Costa Medeiros, também como vencedora de uma área. Enfim, Rosy diz, com sua modéstia, que, procurou apenas fazer um trabalho "como contribuição à memória curitibana". Traduziu textos, fez pesquisas, por sua conta e agora o IHGEP publicará como um de seus próximos boletins.
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A própria professora Altiva Pillati Balhana está surpresa com o desinteresse oficial em promover qualquer comemoração alusiva ao centenário de Santa Felicidade. Nem os vereadores que representam o distrito na Câmara parecem terem se lembrado da data. Apenas como sugestão, eis algumas promoções que a Fundação Cultural poderia fazer, usando uma mínima parte de seu orçamento de Cr$ 13 milhões: 1) promover um concurso de reportagens sobre o distrito; 2) estimular pesquisas monográficas sobre diferentes aspectos culturais da colonização (linguajar, artesanato, música, gastronomia, etc.; 3) produzir um audiovisual ou um documentário (que conseguiria, facilmente, o certificado de Categoria Especial do Concine) sobre Santa Felicidade; 4)motivar a gravação de um disco - compacto ou elepe - com músicas típicas da região de Veneto, de onde vieram os colonizadores, caso ainda subsistam na área; 4) patrocinar um concurso de fotografias sobre aspectos arquitetônicos e paisagísticos; 5) estudar, em termos sócio-economicos, a sua descaracterização e tentar evitá-la; 6) concretizar a antiga idéia do Museu do Colono, usando para isso uma das (raras) construções típicas do bairro, cada vez mais ameaçadas; 7) dar uma dimensão maior à Festa da Uva, integrando-a realmente a um calendário turistico-cultural.
Enfim, idéias não faltam. As sugestões aqui estão e é de se esperar que afinal alguém se lembre de que não é só para ir buscar votos nas próximas eleições que Santa Felicidade existe.
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