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Aramis

Em caravana de bronze, volta Victor, mercador do passado

Depois de ancorar por seis anos a sua caravela de criatividade na praia catarinense de [Itaipava], o caçador de antigüidades Victor Sieczko volta ao rumo curitibano, cidade em que nasceu e viveu a maior parte de sua vida. Sem nunca ter freqüentado um curso de decoração ou arquitetura, este polaco-brasileiro do bairro de Santa Cândida, 53 anos a serem comemorados no próximo dia 29 de abril, tem dado lições a muitos caros profissionais em termos de como criar ambientes originais. Agora, retorna não só com um projeto originalíssimo na área do lazer - mantido a sete chaves, "enquanto não encontro local para me instalar", explica - mas também revelando sua faceta de artesão com trabalhos que encantam a todos: barcos de cobre, artisticamente trabalhados. São réplicas perfeitas das embarcações que cruzavam os mares nos séculos XIV, XV e XVI, com suas velas e canhoneiras. A coleção de Victor, batizada de "Velas & Caravelas", está exposta na Beta Publicidade (Rua Desembargador Isaías Beviláqua, 37 - Mercês), de seu amigo Jamil Snege, companheiro de muitas jornadas. Só que a coleção chegou desfalcada de duas peças, pois ao aportar em Joinville um colecionador se entusiasmou com os trabalhos de Victor e embarcou com elas para a Alemanha, com propostas de adquirir novas unidades. Victor Sziecko, agora sem a sua barba ruiva e tendo trocado o verde boné de feltro, alpino, que o caracterizava nos anos 60, por um de capitão dos 7 mares, é daquelas pessoas com um talento nato, que dispensa cursos e teorias para fazer bons trabalhos - no caso a decoração de ambientes típicos. Preferindo o termo de "mercador de antigüidades" do que de antiquário - "apesar disto dar maior status", explica, Victor ajudou muita gente que hoje é notícia em colunas sociais na arte de buscar (e vender) antigüidades. Foi, entretanto, como criador de ambientes típicos - bares, chopparias, restaurantes, etc. - que Victor Sziecko deu uma grande contribuição a cidade nos anos 60. A partir do momento em que deixou os compromissos com a Aeronáutica (foi cabo na antiga Escola de Oficiais Especialistas e Guardas). Victor passou a montar casas que entraram na história da vida noturna curitibana. A primeira, mais conhecida e que até hoje resiste (embora há muito em triste decadência) foi a "Velha Adega", na rua Cruz Machado. Ali, num velho prédio da família do escritor Marcel Maciel, Victor criou um ambiente que entre 1967/72 era o ponto de encontro de jornalistas, intelectuais, artistas, etc. - especialmente em frias madrugadas. Foi ali que o hoje conhecido escritor Cristovão Tezza, na época discípulo fiel de Wilson Galvão do Rio Appa, mostrava, timidamente, seus primeiros textos para alguns amigos, enquanto Denise Stocklos, interiorana que havia chegado há pouco de Irati, falava de seus sonhos artísticos - que concretizaria, sendo hoje o maior nome da mímica no Brasil, e com audiências internacionais - após três temporadas no La Mamma, o prestigiado Cult Teatro no Greenwich Village, em Nova Iorque. Toda uma geração de jovens compositores e intérpretes possivelmente deixou nas madrugadas da Velha Adega as primeiras audições de suas canções, e um deles, João Gilberto Tatára, tentaria, anos mais tarde, retomar o clima de criativa boemia que ali se respirava, mas os tempos eram diferentes e o projeto não foi adiante. Jamil Snege, 47 anos, reconhecidamente um dos mais criativos publicitários brasileiros, (além de notável escritor) fez da Velha Adega cenário e personagem de muitas páginas de sua novela "Tempo Sujo" (1967). Outros espaços criados por Victor - "Escandinávia", "Franciscano", "Cracóvia", "Baviera", "London Pub", etc., etc. ("Nem eu mesmo me lembro de todos", justifica), apesar dos ambientes acolhedores não chegaram a ter o mesmo clima, cult, embora alguns (Baviera, London Pub) ainda sobrevivam. Casado pela segunda vez, 4 filhos, Victor em 1984 decidiu trocar o frio curitibano pelo calor de [Itapema], ali desenvolvendo um trabalho como artesão, "que agora está difícil, após o pacotaço de Collor", explicando que com o esvaziamento turístico do litoral catarinense, "decidi voltar às origens". Assim, se alguém estiver disposto a aplicar a máxima do velho "Papa" Ernest Hemingway - "em tempos de crise, abra um bar", procure o Victor que ele bola o melhor ambiente. Idéias não lhe faltam! LEGENDA FOTO - Victor Sziecko, mercador de antigüidades, artífice de originais ambientes da noite curitibana, agora revelando seu novo talento: artesão de cobre com belas caravelas (Foto: Ivan Soares).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/04/1990

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