Denise e Cristóvão, a descoberta do sucesso
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de setembro de 1991
A temporada de Denise Stocklos neste final de semana ("Maria Stuart" e "Casa", Auditório Maria José de Andrade Vieira) tem um significado especial: há três anos que a mais famosa iratiense não se apresenta profissionalmente na cidade em que iniciou sua carreira artística e neste período se consolidou internacionalmente. Um sucesso tão fulgurante que mesmo suas maiores amigas dos tempos juvenis, como Maria Amélia, 40 anos, ex-presidente da Pró-Música e agora assessora cultural da presidência do Banestado, não esconde um certo temor de revê-la em termos pessoais: até que ponto a Denise amiga, conservou sua modéstia e simplicidade dos dias em que chegando a Curitiba, no inverno de 1966, aqui recebia suas primeiras informações artísticas. Nos tempos em que Jamil Snege e Wilson Galvão do Rio Appa eram espécies de gurus culturais em saudáveis reuniões boêmias artísticas que cruzavam a madrugada da Velha Adega (*), Denise ali, embevecida, ouvia os amigos mais velhos e experientes, em torno das coisas da arte e literatura. Em muitas destas reuniões estava também um garoto meio tímido, mas já de muita personalidade, chamado Cristóvão Tezza, discípulo mor de Rio Appa e amando as coisas do Litoral, que por coincidência torna-se agora o novo superstar da literatura com os múltiplos elogios que o seu novo romance "A Suavidade do Vento" (Record, 203 páginas) vem ganhando na imprensa nacional.
Tanto Denise como Cristóvão trilharam caminhos internacionais num aprendizado de vida e arte, conquistando, graças ao talento e ao trabalho, um espaço reconhecido hoje pelos mais rigorosos críticos. Não é necessário falar no curriculum de Denise (de quem, aliás, temos sido sempre os primeiros a registrar suas andanças artísticas) ou Cristóvão Tezza. O livro deste, está a disposição de quem deseje conferir porque vem merecendo tanto espaço, enquanto Denise, por três noites, no auditório do Palácio Avenida, com toda a sua comunicabilidade sem palavras - mímica maior na expressão dos gestos que traduzem toda uma sensibilidade - recria tanto a tragédia da rainha da Escócia - numa minimalização de uma temática que, normalmente, se identificaria a um superespetáculo com centenas de personagens ou mergulhando no universo doméstico, fazendo de sua "Casa" um cotidiano com empatia a todas as mulheres do mundo. Não é sem razão que platéias internacionais - a partir do público que já começa a se habituar com suas regulares temporadas no La Mamma, em Greenwich Village, Nova Iorque - vem dando a Denise aplausos que merece.
Nota
(*) Victor Sziencko, um antiquário e artesão, filho de polonês, responsável pelos ambientes mais tipicamente paranaenses na Curitiba dos anos 60/70, foi quem montou a "Velha Adega", num velho casarão da família do escritor Marcial Maciel, na Rua Cruz Machado e que na segunda metade dos anos 60 era um ponto de encontro de jornalistas, escritores e artistas - transformando-se em cenário na primeira novela que Jamil Snege - hoje o próspero publicitário - publicou em 1967 ("Tempo Sujo"). Embora instalado no mesmo endereço - e conservando em parte a decoração original, a "Velha Adega" sofreu com as mudanças da cidade. Hoje pertence ao músico João Gilberto Tatára.
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