... e ninguém levou
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de outubro de 1974
Às 23,45 horas de terça-feira, no vazio salão de conferências do hotel Colonial, o leiloeiro (e pintor nas horas vagas) Otavio Gomes Gianine, 63 anos; 48 de artes plásticas, perguntava ao ex-ator (13 filmes, mais de 40 peças entre 1947/65) Orllando Villar, diretor do Grupo Cine-Teatral Cenaberta, promotor do Leilão de Arte, o que tinha acontecido com os colecionadores curitibanos. Pois após quase quatro anos de inflamados pregões, precedidos da descrição pormenorizada de cada uma das 135 peças apresentadas, a tesoureira havia contabilizado pouco mais de Cr$ 20 mil - quando se esperada um resultado acima do s Cr$ 150 mil, já que o leilão é realizado com patrocínio da sra. Diva Pereira Gomes, Primeira Dama do Estado, e com parte da renda em benefício dos Hansenianos. A chuva, o frio e a luta entre Cassius Clay e George Foreman, eram citados como frágeis desculpas para justificar a mínima [freqüência] ao leilão, onde apenas 3 prósperos colecionadores da cidade - entre os quais o empresário Carlos Luz, e sua bela esposa, Elizabeth - adquiriram alguns dos trabalhos colocados à venda. O leilão foi aberto com uma gravura de Salvador Dali, em papel arroz com a Estampa do autor em relevo e assinatura à [lápis], colorida, medindo 24x19 centímetros, e que apesar de colocada ao preço mínimo de Cr$ 2.500,00, não teve ninguém que cobrisse a oferta. Mesmo colecionadores experientes, como o médico Felipe Lerner, não se acorajaram a ficar com alguns trabalhos de bom nível - como a gravura de Fayga Ostrower (Cr$ 1.200,00), um ecoline sobre eucatex de Sigaud (Cr$ 3.500,00) e um desenho à nanquim ("Os Vencidos", 1935) de Osvaldo Goeldi (Cr$ 4 mil), o que fez com que Orlando Villar, improvisasse, para ontem à noite, um replay do leilão - tentando assim elevar um pouco [as] vendas e diminuir o prejuízo que sofreu com esta sua tentativa de ingressar em nosso mercado plástico - pelo visto em processo de inflação. O sr. Milton DalNegro, ex-sócio do Hotel Mariluz e hoje um dos proprietários do Hotel Querência, em Florianópolis, gerente do Banco Real S/A, foi ao leilão para financiar os possíveis colecionadores, e no final acabou sendo um dos poucos compradores: ao embarcar no seu LTD-Landau-74, levava 3 quadros - um dos quais o humorista Juarez Machado, pelos quais pagou (sem financiamento) Cr$ 5 mil.
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