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Aramis

A boa arte nos cem anos do Curitibano

Com toda razão o advogado Constantino Viaro pode respirar aliviado e tomar um merecidíssimo scotch quando o pianista e maestro Luiz Loy iniciou os acordes de uma dolente valsa já no começo da madrugada de sábado: afinal, as comemorações  do baile do centenário do Clube Curitibano haviam corrido dentro de fluxograma demoradamente pensado pela diretoria. Os cumprimentos que o presidente Nicolau Abbage e todos seus  companheiros de diretoria receberam mas horas seguintes, confirmou que mais do que um evento social – o que limitaria o seu registro as colunas especializadas – o baile dos 100 anos do Curitibano foi realizado dentro do que a tradição exigia. Abbage e todos os seus companheiros de diretoria passaram muitas semanas trabalhando para que o centenário do clube fundado pelo Barão do Cerro Azul, Ildefonso Pereira Correa (1846 – 1892) se  caracterizasse com uma festa basicamente paranaense e de confraternização. E para isto, contribuiu muito a proposta do diretor cultural, Constantino Viaro, no sentido de que o baile tivesse como atrações o que Curitiba tem de melhor na área musical – ou seja [,] a Camerata Antiqua, e seu coral e o conjunto Renascentista – juntamente com algun integrantes do balé do Studio D. inclusive sua primeira bailarina – a bela Virgínia Paula Soares.   xxx   Entre a evocação histórica, feita com emoção por Raphael Grecca de Macedo, diretor da Casa Romário Martins, houve reminiscências de várias épocas do Curitibano – desde que foi idealizado, numa reunião preliminar a 25 de setembro de 1881, no salão Lidermann, na rua de São Francisco, por iniciativa de Romão Rodrigues Branco, até os dias atuais. A pianista Ingrid Seraphim executou num também centenário piano a Valsa “Club Curitibano”, datada de 1898 e assinada por Charles Goudard (que foi por muitos anos dono de uma casa de partituras e instrumentos musicais na Rua São José, hoje Marechal Floriano) – que pelo seu significado mercê, no decorrer deste ano do centenário, ser gravada em disco, com outros documentos da memória do clube. A Camerata Antiqua apresentou dois temas de Vivaldi – o segundo dos quais com solo de flauta de Elizabeth Prócer Seraphim, atualmente morando no Canadá. No final, antes de um bolo gigantesco entrar no salão e ter suas cem velas sopradas pelos diretores e suas esposas – o madrigal Renascentista – igualmente regido pelo amestro Roberto de Regina (que executou cravo, com tema de Jacques Du Phly, para o balé se apresentar) emocionou  com um suave tema da Idade Média.   xxx   Em termos artísticos, não poderia haver uma programação mais bem estruturada. Com um custo de menos que 10% daquilo que custaria a contratação de um superstar (houve até sugestões para trazer Julio Iglésias), o Curitibano marcou, dentro de sua tradição de uma sociedade voltada não só ao aspecto social, mas também ao cultural, o seu centenário. Um evento que prosseguirá em 1982, com uma série de realizações, cuidadosamente planejadas num espírito de integração do clube e a cidade, já que com 7.500 associados, um imenso patrimônio e a tradição de ser a mais antiga da cidade, tem a responsabilidade de, realmente, se integrar nesta Curitiba que lhe dá o nome.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
7
10/01/1982

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