A Cidade & O Tempo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de janeiro de 1975
Vazios, queixando-se da concorrência dos supermercados, os armazéns dos bairros mais distantes tentam uma difícil sobrevivência. Na pesquisa sobre os estabelecimentos de secos & molhados, o universitário Raphael Valdomiro Greca de Macedo, encontrou dizeres curiosos, afixados sobre os velhos balcões de madeira atulhados de quinquilharias, ao lado de sacos de cereais e açucar.
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Uma das trovinhas mais usadas pelos velhos comerciantes de S & M.
Nào passe sem parar
Não pare sem entrar
Não entre sem gastar
Não saia sem pagar
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Ou o PAI NOSSO DO COMERCIANTE:
Fregueses nossos que estais atrasados
Equilibrai agora o vosso débito
Venha a nós o vosso cobre
Seja feita a vossa vontade
Assim nas compras como nos preços
O saldo vosso de cada dia
Nos daí depressa
Perdoai as nossas exigências
Assim como nós perdoamos
As vossas amolações
Não nos deixei sem pagamento
E livrai-nos dos pedidos fiados
Amém.
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Entre os mais antigos armazéns de secos & molhados da Avenida Anita Garibaldi, ao lado do antigo Seminário Paulinum, está o sr. João Fávaro Neto, 58 anos, que mantém uma tradição familiar, no estabelecimento, aberto em 1934.
Ali vende tamancos, gaiolas, urinóis, fogões a lenha, lampiões de gás, as famosas "cadeiras de polaco"- que hoje adquiriram status para entrar como complemento em sofisticadas residências. Simpático, amigo de uma boa prosa, Fávaro conta que o fumo em corda, marca Tietê, a Cr$ 27,00 o quilo e a palha cortada para cigarros, ainda vendem bastante, apesar da concorrência dos cigarros industrializados. E também há quem pague Cr$ 16,00 por um urinól, numa prova de que o saneamento ainda é um sonho distante em muitos bairros.
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