Secos & Molhados (sem som)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de janeiro de 1975
De uma idéia proposta nesta coluna, há vários meses, o pesquisador Raphael Valdomiro Grecca de Macedo, 18 anos, está iniciando um dos mais interessantes estudos sobre a cidade, que justifica seu proveito não apenas como documentação curiosa, mas, inclusive, para uma publicação de nível universitário, por seus aspectos econômicos-sociológicos: a influência dos armazéns de secos & molhados na estrutura urbana, sua economia e seu desaparecimento nas últimas duas décadas, face à concorrência dos supermercados e lojas de departamentos.
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Com exceção dos tradicionais Alex (esquina das ruas Carlos de Carvalho e Ermelino de Leão), Hilário (esquina das ruas Mateus Leme e Xavier da Silva) e Contin (Avenida Batel) praticamente só em distantes bairros é que sobrevivem alguns humildes armazéns de secos & molhados, com seus balcões de madeira, sacos de cereais, peças de vestuário, mil quinquilharias e tarecos espalhados pelo chão ou penduradas nas paredes e no teto. No centro da cidade, durante décadas, um dos mais representativos exemplos de S&M era o Armazém Amadeu (Rua Dr. Murici), que cerrou suas portas há cinco anos (hoje, no local, funcionaria a livraria das Irmãs Paulinas).
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Raphael Macedo, em seu estudo, vai dedicar uma parte exclusivamente à transcrição de interessantes anúncios dos armazéns da cidade, entre 1853/1935, buscando para tanto as bem-humoradas propagandas estampadas no "Dezenove de Dezembro", revistas e paranistas almanaques que circulavam no início do século na provinciana Curitiba de 40 mil habitantes.
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Sem melancolia, apenas constatando uma nova realidade econômica, este estudo terá ao menos um mérito para os jovens de menos de 20 anos: mostrar que Secos & Molhados não é apenas o nome do andrógino grupo de música pop que vendeu mais de 200 mil cópias de seu primeiro disco.
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