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Aramis

O mágico & o sonho

"Cada um sonha como vive" (Padre ANTÔNIO VIEIRA) Há quase dois anos, quando "O Mágico e o Delegado" (Cine Groff, 5 sessões), foi projetado no XVI Festival de Cinema de Brasília, o público aplaudiu, em pé, o filme de Fernando Coni Campos. No encerramento, quatro dos prêmios eram dados a esta realização do baiano Oscar Santana: melhor filme, melhor ator (Nelson Xavier), melhor roteiro (Fernando Coni Campos/Mário Carneiro) e melhor atriz coadjuvante (Maria Silvia). Em Gramado, no encerramento do Festival de Cinema, em abril de 1984, também grandes aplausos. Em todas as exibições realizadas - inclusive no Festival de Cinema em Roterdã, Holanda - "O Mágico e o Delegado" tem sido aceito com muito entusiasmo. Um filme que recupera o realismo mágico numa linguagem tupiniquim, extremamente brasileiro (e 100% baiano) em sua concepção e realização traz personagens de incrível empatia, situações emocionantes e um dos mais belos e líricos finais já criados em nosso cinema. Embora Fernando Coni Campos, 7 longas e 25 curtas em 21 anos de carreira, sejam o roteirista e o diretor, "O Mágico e o Delegado" é o exemplo do filme em que o produtor não se limitou apenas a garantir os recursos e cuidar para que tudo saísse certo na hora das filmagens. Ao contrário, Oscar Santana, 43 anos, também já com muitos filmes realizados, chegou a dirigir algumas seqüências, dividiu muitas concepções de realização com Coni Campos e, com toda justiça, mereceria ser considerado como co-criador deste filme sobre uma cidade, seus habitantes e seus costumes que, de repente, são tocados pela presença de um mágico, Don Velasquez (Nelson Xavier) e sua partner, Paloma (Tânia Alves), que chegam para ali apresentar um espetáculo de variedades. O quotidiano é quebrado: o mágico leva a fartura onde existe a miséria e procura desencantar o outro lado das pessoas. Mas a realidade faz com que o delegado (Luthero Luiz) prenda o mágico que quebra também a rotina da vida carcerária. Um final dramático, não impede que algo maravilhoso aconteça, justificando a afirmativa do padre Vieira: "Cada um sonha como vive". Inspirado numa anedota contada pelo gaúcho Josué Guimarães no terceiro capítulo de "Depois do Último Trem", "O Mágico e o Delegado" foi roteirizado por Coni Campos e Mário Carneiro com muita emoção. Diz o próprio Coni que a idéia foi buscar em sua infância, numa pequena cidade da Bahia, "os seus loucos, seus bêbados, as suas tristes mulheres", os personagens capazes de dar vida e emoção nesta estória de elementos fantásticos. Entretanto, não deixa de ser um filme extremamente simples e comunicativo, pois uma das preocupações de Coni foi esta. Explica: - Sempre busquei um cinema popular, isto é, um cinema que nasce do povo ou nele se inspira e a ele retorna, fechando um círculo (talvez a palavra circo seja mais adequada) e não um cinema de massa que reflete o gosto da classe dominante e tenta impor essa estética ao povo massificado. E porque é através da poesia que o povo, formalmente se expressa, a linguagem poética foi escolhida para narrar uma espécie de parábola que em vez de implodir numa lição de moral, explode num amplo leque de leituras, ao sabor dos sonhos, fantasias e vivências do espectador. Coni Campos, foi feliz na linguagem que empregou: procurou a mesma informalidade, a brincadeira, a invenção, os truques e os malabarismos usados pelos artistas de feira, de circos e mambembes em toda América Latina "que é a maneira que o povo tem encontrado para sobreviver". LEGENDA FOTO - Tânia Alves em "O Mágico e o Delegado", a partir de hoje no Groff.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
11
14/03/1985

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