Ópera sem canto
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de março de 1985
Há mais de 20 anos a RCA editou em seu prestigioso selo Red Seal um disco que alcançou grande vendagem em todo o mundo: "Ópera Sem Canto". Uma grande sinfônica interpretando aberturas de óperas famosas num trabalho didático: a apresentação da belíssima música criada pelos grandes compositores de óperas em tratamento apenas orquestral. Afinal, a Ópera - como o mais requintado/evoluído de todos os gêneros musicais - exige um grande preparo intelectual para ser totalmente entendida/apreciada e, desta forma, antes de se oví-la integralmente, nas luxuosas edições que a Polygram (e eventualmente a CBS) tem feito no Brasil, é importante conhecer somente a música. Habituar os ouvidos antes de se receber as canções pelas grandes vozes líricas.
Dois recentes lançamentos trazem música de ópera em tratamentos orquestrais. Inicialmente foi a CBS, no excelente pacote de discos da CBS Masterworks, coordenado por Maurício Quadrio, que apresentou um álbum com a Orquestra Filarmônica de Nova Iorque, sob regência de Zubin Mehta, trazendo a música orquestral extraída de "O Anel dos Niberlungos" de Richard Wagner.
O conceito de drama musical - em oposição ao de ópera - alcançou a sua realização mais completa nas obras de Richard Wagner (1813-1883). Para muitos conhecedores de ópera esses conceitos atingiram sua forma mais plena nas quatro obras que compreendem o ciclo "O Anel dos Niberlungos". Os libretos foram escritos por Wagner entre os anos de 1848 e 1853. Mas se intercalaram as criações de "Tristão e Isolda" e "Os Mestres Cantores" e Wagner só pode se lançar ao trabalho do musical "O Anel" de maneira total em 1869. E mais: as obras eram tão ambiciosas que só em 1876 o ciclo todo pôde ser executado pela primeira vez em Bayreuth ante uma platéia de elite do mundo musical e político. Com um enredo longo e complicado, tendo por base elementos de lendas populares de origem germânica e irlandesa, "The Ring" é tido como a obra mais complexa de Wagner. Sua edição integral ocupa mais de 12 elepês e as edições feitas até hoje tem sido um grande sucesso.
Como introdução a esta obra imensa e grandiosa, a Filarmônica de Nova Iorque nos traz os momentos mais significativos: "O Ouro do Reno" (A Entrada dos Deuses no Walhalla), A Valquíria (A Cavalgada/Música do Fogo Mágico, neste com rápido solo do baixo-barítono Peter Weisberg), Siegfried (Murmúrio da Floresta) e, finalmente, d'"O Crepúsculo dos Deuses", os motivos de "Amanhecer e Viagem de Siegfried ao Reno" e a "Música fúnebre de Siegfried").
Ao longo de suas 26 óperas, Giuseppe Verdi (1813-1901) empregou vários métodos diferentes para iniciar o espetáculo, desde a sinfonia orquestral autônoma, que herdara do século XVII, através de Rossini, Donizetti e Bellini, até a entrada direta de suas últimas óperas, "Otello" e "Falstaff", que lançada logo o ouvinte na ação. Agora, numa preciosa gravação feita pela Nathional Phillarmonic Orchestra, sob regência de Ricardo Cahilly, no Kingsway Hall, Londres, em julho de 1983, temos uma seleção de sete peças que vão da primeira ópera, "Oberto, Conto di San Bonifácio" (1839) à obra madura que é "La Forza del Destino", de trinta anos mais tarde. E cada qual tem um caráter diferente,. São sete aberturas: "Aroldo", "I Vespri Siciliani", "Giovanna d'Arco", "Luisa Miller", "La Forza del Destino", "Nabucco" e "Oberto, Conte di San Bonifácio", numa gravação digital primorosa, colocada há poucos meses no Brasil - e destacada pelo estudioso e colecionador Hélio Germiniane como um dos 10 melhores lançamentos clássicos-operísticos de 1984, conforme relação publicada em O Estado do Paraná, no suplemento Cláudio em janeiro último.
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