Os violões afinados e o belo vocal dos gaúchos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de novembro de 1985
Há algumas semanas esteve em Curitiba para promover seu primeiro lp o cantor e compositor Nino Missioneiro (Jorge Luiz Zeni, Estrela, RGS, 26/1/1956), de ligações com o Paraná - estudou num seminário em Paranavaí durante 6 anos e seus pais moram hoje em Cascavel - Nino Missioneiro estréia em lp ("O Gaúcho da Querência", RGE) com 12 músicas fortes e comunicativas, incluindo uma homenagem a Tancredo - "Brasil de Luto", dentro de uma musicografia póstuma ao falecido presidente que vem tendo grande empatia junto aos criadores rurais da música brasileira (a dupla Renato e Rodrigo, de Assis Chateaubriand), em seu lp "Grito de Guerra" também homenageia Tancredo Neves).
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Numa demonstração de que nem só de acordeonistas vive a música gaúcha, Antoninho Duarte fez um belíssimo lp com solos de violão. Compositor e instrumentista seguro, Antoninho Duarte - com a participação de quatro músicos - Francisco Castilhos no baixo, Oscar Soares no violão base, Luiz Tadeu Paim no ritmo e seu filho, Glauber, no cavaco e guitarra, em "Solo Garroupilha" (ACIT/Polygram) traz músicas das mais agradáveis, num ritmo intensamente brasileiro - chegando até o chorinho em alguns momentos, mas sem fugir das raízes nativas. Especialmente significativa as faixas "Dedilhando o Limpa Banco" e a "Valsa do Baile".
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Quando se fala em nativismo é importante não confundir com a música rural gaúcha - da qual Teixeiriinha foi o maior exemplo. Existe ao lado do nativismo, a música gaúcha mais chegada ao chamado sertanejo, com centenas de intérpretes e músicos. Um grupo nesta linha é o conjunto "Os Filhos do Rio Grande", que está com um novo lp na praça ("Xote do Caminhoneiro"), no qual justamente a faixa título é o sucesso maior. São composições destinadas a um público especificamente delineado.
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Há 4 anos, na Guarita da Canção, na praia de Torres - festival que, infelizmente não teve continuidade, uma das revelações foi um grupo vocal formado por seis jovens que interpretavam uma bonita música de Sergio Napp, um dos mais competentes e criativos autores gaúchos. O radialista Paulo Diniz, diretor da Guaíba, na hora de apresentação, deu ao grupo o nome de "Canto Livre", que era título da canção por eles defendida. E o nome pegou.
Em dezembro de 1983, na Califórnia, uma das sensações foi este belíssimo grupo vocal que, logo depois, teria seu primeiro lp independente reeditado pela Continental. Agora, numa produção de Ayrton dos Anjos, o Canto Livre, formado pelos irmãos Jair e Jairo Kobe, Elaine Marques, Selma Nardine, Cynthia Garay e Fernando Cardoso, tem um novo e esplêndido disco. Na escassez de grupos vocais brasileiros, o Canto Livre é uma presença vigorosa, em condições de fazer sucesso nacional. No primeiro lp eles gravaram apenas músicas de seu guru, Sergio Napp. Agora, embora Napp, não tenha sido esquecido ("Esse Gaiteiro", parceria com Kobe e Fernando Cardoso, que Borghettinho defendeu no Festival dos Festivais; "Garoto das Ruas", parceria com Mario Barbará; Baile do Candeiro", parceria com Albino Manique; "Mutirão", com Fernando Cardoso), há outras faixas marcantes. Por exemplo, o clássico "Amargo" (Lupicínio Rodrigues / Piratini); "Diamante" (Zé Caradipia / Sergio Silva); "Exaltação" de Nei Lisboa; "Sonho" de Cesar Dorfmann e a introdução de "O Tempo e o Vento" (Tom Jobim), em belíssimo arranjo vocal de Calique.
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