A "Panthera-Onça" ecológica mereceu levar o Tatu de Ouro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de setembro de 1991
Salvador - Uma ecológica "Panthera-Onça" levou o Tatu de Ouro como melhor vídeo na XVIII Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Um documentário de 26 minutos realizado por Sérgio W. Bernardes, 47 anos - filho do arquiteto Sérgio Bernardes, vindo do "udegrudi" e autor de um longa nunca lançado ("Dezesperato", 1968), sobre o maior e mais belo felino da América, ameaçado e, mais do que isso, condenado à extinção, recebeu a premiação máxima do júri, que enalteceu sua "contribuição artística pela procura por uma nova linguagem de vídeo, sobre uma temática de preservação do meio ambiente". Numa competição em que a maioria dos vídeos (e mesmo filmes) selecionados abusaram da verborragia, "Panthera-Onça" impressiona justamente pela sua concisão (originalmente o vídeo durava 40 minutos), beleza de fotografias e sentido ecológico honesto.
Já "República de Canudos", do cineasta Pola Ribeiro, 36 anos, reconstituindo através de depoimentos e pesquisa iconográfica a memória de Antônio Conselheiro na luta por terra no sertão da Bahia, mereceu o Tatu de Ouro como "melhor enfoque Afro-Latino-Americano". O júri considerou especialmente a "utilização, por Pola, de recursos expressivos, onde consegue manter atualizado e não se deixa perder no esquecimento os movimentos populares".
O Tatu de Prata, melhor direção, do júri de vídeo para o chileno Andrés Vargas Danus, por "Huellas Del Sal", 16 minutos, um relato das viúvas e familiares dos 26 executados na "Caravana da Morte", na cidade de Calama, em outubro de 1973 e a sua desesperada busca no deserto. O júri justificou a premiação pela "concepção global e inovadora sobre um tema já muito manipulado". O Tatu de Bronze (revelação) foi para "As Meninas do Rio", de Sérgio Goldenberg e Breno Oliveira, documentário na linha de "Meninos de Rua" (1988, Marlene França) e "A Guerra dos Meninos" (91, de Sandra Werneck, que competiu sem obter nenhuma premiação), sobre a infância abandonada. Em 48 minutos, focalizando as meninas de rua, entre 8 a 18 anos, que vivendo nas ruas do Rio de Janeiro, em situação de miséria, relatam experiências pessoais, desejos, sonhos e visão do mundo. O prêmio OCIC também foi para este vídeo, extremamente social e atual sobre um dos maiores dramas da sociedade brasileira - a infância e juventude marginalizada.
O Tatu de Prata - melhor vídeo de ficção - foi para "Seda Negra", do argentino Eduardo Milewicz, emocionante e denso registro sobre duas mulheres isoladas num hospital, compartilhando uma amarga convalescência. Uma conta a outra o que se vê através da janela - e tudo acaba com a morte de uma delas. O cineasta David Quintans, membro do júri, entusiasmado com a beleza deste vídeo, foi quem propôs a sua premiação, sugerindo que fique criada a categoria de ficção também para os vídeos. Outro vídeo argentino destacado com uma menção honrosa foi "Warnes Aparte", de Dário Arcella e Luís Campos, sobre a invasão de sem tetos em dois grandes edifícios destinados a serem hospitais e que foram abandonados por problemas políticos. A razão da menção honrosa foi objetiva: "por abordar um problema que é comum em toda a América Latina: a falta de habitação".
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