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Aramis

O "Tatu" vai para quem vê o real com a emoção

Um olhar emotivo e sensível sobre a velhirce, enfocando o outono da vida de três octagenárias senhoras que moravam na cidade de Crateús (400 km de Fortaleza), deu a Nirto Venâncio, 32 anos, jornalista, com seu primeiro filme, o troféu "Tatu de Ouro" como melhor curta-metragem. Neto de uma das personagens de seu documentário - Nirto Venâncio realizou um filme de emoção e beleza, transmitindo com uma linguagem direta a solidão das três velhinhas que, no final da vida, ficam sozinhas no casarão onde sempre residiram e que, em décadas passadas, era movimentado com os filhos de Maria (as suas irmãs, Letícia e Gicélia jamais casaram). Com uma primorosa fotografia de Ronaldo Nunes, desenvolvendo um roteiro seguro e boas intérpretes para as três senhoras (Jacy Fontenele, Seny Furtado e Antonieta Noronha), Nirto Venâncio conseguiu um bom resuldado. Sua intenção era filmar com as próprias personagens, mas a morte da mais idosa, Maria, 91 anos, uma semana antes de iniciar a rodagem - impossibilitou este projeto. Utilizou, então, velhas atrizes de Fortaleza que, com a maior empatia, interpretaram Maria, Letícia e Gicélia. Na trilha sonora a utilização de "Emotiva" (Hélio Delmiro) ajustou-se perfeitamente ao clima pretendido, dando ao filme uma empatia universal - e não foi sem razão que já durante a Jornada, a Sra. Eva Schimdt, da comissão de seleção do Festival de Oberhausen, na República Federal da Alemanha - mostrasse simpatia em incluí-lo na próxima edição daquela mostra, assim como há chances do filme ser levado ao Festival de Havana. Outro filme de maior emoção - só que neste pelo aspecto social, de denúncia, "Meninos de Rua", de Marlene França, média-metragem, 30 minutos, com fotografia de Aloísio Raulino mostrando, em imagens e depoimentos dos mais profundos o drama dos menores que vivem nas ruas de São Paulo, obteve o prêmio especial do júri. Injustamente mal recebido em Gramado - onde também competiu - este novo filme de Marlene França, atriz de longo curriculum, lançada por Alex Viany em "Rosa dos Ventos" (1957) e que a partir de "Frei Tito" vem se firmando como uma de nossas corajosas realizadoras, traz uma carga de emoção e denúncia da situação de abandono das crianças brasileiras, o que faz com que "Meninos de Rua" seja um filme dilacerante, incômodo - justamente pela verdade que traz em suas imagens. Os baianos afetivos - Calazans Neto é um dos artistas mais conhecidos e estimados na Bahia. Em sua casa-estúdio, na praia de Itapõa, cria gravuras, desenhos, óleos, faz capas para livros e edições particulares de obras de arte, disputadas por colecionadores de todo mundo. Personagem dos romances de Jorge Amado, parceiro de Glauber Rocha em suas primeiras experiências culturais (juntos criaram a editora Macunaíma, nos anos 50), "Calá" - como é chamado carinhosamente - mereceu um afetuoso retrato colorido de um de seus grandes amigos - e também, em si, um personagem queridíssimo da Bahia: o cineasta Agnaldo "Siri" Azevedo, em 15 minutos, faz de "Calazans Neto: Mestre da Vida e das Artes", uma pequena obra-de-arte, mostrando Calazans, o homem, o amigo, o artista, com uma fotografia admirável de Vito Diniz (que é presidente da Associação dos Documentaristas da Bahia) e uma trilha sonora na qual reuniu os tatentos de Carlos e Pita e Gerônimo. Não foi sem razão que ao ser projetado no auditório do Instituto Cultural Brasil Estados Unidos, o filme de "Siri" tivesse merecido aplausos demorados. Não só dos baianos, mas de todos os presentes, fascinados pela suavidade e ternura deste curta - merecedor de uma menção honrosa do júri e o Tatu de Bronze como melhor roteiro. Mesmo sem obter nenhuma premiação, outro belo momento de afetividade baiana foi o curta "Ângelo Roberto", que Emmanoel Cavalcanti dedicou a um dos mais populares artistas plásticos de Salvador. Utilizando ilustrações e charges do próprio Ângelo Roberto - com algumas insight jokes de maior comunicação para a comunidade baiana - o curta de 12 minutos, homenageia um misto de pintor e filósofo popular, que tem imensa popularidade em Salvador. Emmanoel Cavalcanti, 50 anos, alagoano, mas de larga quilometragem baiana, ator conhecido e que como realizador fez um dos episódios de "Insônia" (filme reunindo três episódios baseados em textos de Graciliano Ramos, inédito até hoje), desenvolveu em "Ângelo Roberto" uma linguagem simples, "antes de tudo emotiva e sincera" como explicava, após a projeção. LEGENDA FOTO - Ângelo Roberto - na cena, abraçando uma amiga - é um dos mais queridos artistas plásticos de Salvador e personagem de um afetivo curta-metragem, realizado por seu amigo Emmanoel Cavalcanti.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/09/1988

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