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Aramis

Clássicos em p&b: Proscrito, Astaire e A Estrela do Norte

Há filmes que se tornam mais famosos pelos bastidores do que pelo resultado final. "O Proscrito" (The Outlaw) é um exemplo. Em "A Cidade das Redes - Hollywood nos Anos 40", de Otto Friedrich (Companhia das Letras, 475 páginas), muitos detalhes que cercam esta conflituada realização de Howard Hughes são revelados. Em outros livros que abordaram a fascinante carreira de Howard Robard Hughes (Houston, Texas, 24/12/1905 -, Acapulco, México, 6/4/1976), industrial, aviador, produtor - uma das maiores fortunas dos Estados Unidos - a sua experiência no cinema, como dono da RKO, tem lances incríveis. "The Outlaw", realizado em 1941 mas só lançado em 1950, teve uma produção complicadíssima, com protestos da Liga de Decência dos Estados Unidos devido à sensualidade da atriz Jane Russell - que nele fazia estréia, intervenções da censura (consta que o próprio Hughes disso se aproveitou, para promover o filme) e problemas com diretores (inclusive Howard Hawks) que dirigiram muitas seqüências (embora, no final, Hughes tenha assinado o filme como sua realização). Cinebiografia do pistoleiro Billy the Kid (William H. Bonney, 1859-1881), que tantas vezes já foi levado ao cinema, "O Proscrito" trouxe um ator (que não fez carreira) no personagem principal - Jack Buetel - mas em compensação apresentava Walter Huston (1884-1950) como Doc Holiday e Thomas Mitchel (1892-1961) como Pat Garret, o delegado e amigo de Billy, que o matou. Mesmo sem ser, em termos cinematográficos, um clássico, "O Proscrito" ficou como um cult-movie, praticamente inédito para as novas platéias. Portanto, a Hollywood Classics Home Video (Avenida Santo Amaro, 3784, Brooklin, SP), não poderia ter tido uma escolha mais acertada do que incluir este famoso filme em seu primeiro pacote. xxx Criada para oferecer clássicos de cinema, preferencialmente em preto e branco, a Hollywood Classics Home Video, pretende um espaço no mercado. Como diz Gilberto da Silva, executivo da empresa, com seus lançamentos selecionados, quer satisfazer aquela faixa de espectadores que reclama "que não se fazem mais filmes como antigamente". "Em contrapartida, a nova geração de cineastas, com o advento do filme colorido e do uso cada vez maior de efeitos especiais, tem ajudado a criar o "preconceito de cor" pelo p&b e vem nos fazendo esquecer que as grandes obras-primas do cinema foram originalmente produzidas e preto e branco". Além de "O Proscrito", os outros dois lançamentos da Hollywood Classics são também dos mais atraentes. Temos o musical "Amor da Minha Vida" (Second Chorus), 1940, de H.C. Potter, primeiro filme que Fred Astaire (1899-1987) fez após uma longa associação com Ginger Rogers. Embora não seja um musical na linha clássica, "Second Chorus" trouxe trilha sonora de Artie Shaw, que teve inclusive indicação ao Oscar pela música "Love of My Life" (cantada por Johnny Mercer), perdendo porém para "When You Wish Upon a Star" (Leigh Harline/Ned Washington), do desenho "Pinocchio" - realmente um clássico. No release-catálogo distribuído pela Hollywood Classics Home Video, há uma sinceridade em relação a este musical: "em 1940, o próprio Fred Astaire considerava essa a sua fita mais fraca. Mas a severidade do julgamento não resistiu ao tempo. Revisto hoje, "Amor de Minha Vida" - ainda um de seus trabalhos menos conhecidos - funciona como a maioria das comédias ligeiras da época: diversão". Astaire não dança, toca trompete (dublado por Bobby Hackett) e seu companheiro de sopro e brisa é Burgess Meredith. Por causa deles, a secretária Palette Godard é despedida do emprego. E, meio sem querer, se torna "agente de talentos". Sua missão é contratar os dois para a famosa banda de Artie Shaw, que atua - e o que já fez este vídeo merecer atenção dos jazzófilos. xxx O terceiro filme do pacote é "A Estrela do Norte" (The North Star), 1943, de Lewis Milestone, com roteiro de Lilian Hellman, fotografia de James Wong Howe e música de Aaron Copland. Filmada em plena II Guerra por Lewis Milestone, naturalizado americano mas russo de nascimento (na época, com grande prestígio por "Sem Novidades no Front" e "Carícia Fatal"), "A Estrela do Norte" era uma superprodução descrevendo a resistência heróica dos habitantes de uma aldeia russa invadida pelas tropas nazistas. Tudo bem! Os russos e americanos eram aliados durante a guerra. Mas a guerra fria que se seguiu ao término do conflito colocou "The North Star" no index do macarthismo - e fez com que o filme fosse banido das telas e só voltasse na tevê americana em 1957, com um corte de 18 minutos e o título de "Armored Attack". Lilian Hellman (1905-1984), notável dramaturga e escritora, mulher do escritor Dashiel Hammet (1894-1961) sofreu (como marido) perseguições e foi inclusive presa, tendo entre outras acusações, o fato de ter escrito este filme, que, tem assim, importância histórica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
16/09/1988

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